*Por Nancy Coleman

Nova York – Quatro vezes por semana, o jardineiro Phil Macaluso vai de bicicleta ao trabalho no Jardim Botânico do Brooklyn, um trajeto que, de carro, levaria cerca de cinco minutos. O jardim está fechado, mas as árvores e todas as outras plantas continuam a crescer, mesmo que o resto da vida na cidade esteja parada.

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Os 21 hectares de cerejeiras, azaleias, macieiras e narcisos estão chegando ao auge da beleza neste momento e, embora poucas pessoas estejam lá para presenciar a florada, duas dúzias de jardineiros continuam trabalhando para manter as flores, cortar a grama e eliminar pragas e ervas daninhas.

"Isso é um jardim, sabe? Não é uma floresta natural. Por isso, sem o cuidado necessário, as plantas voltam a seu estado natural. Não é possível manter o alto nível de horticultura que o Brooklyn merece se não continuarmos a trabalhar", explicou Macaluso, de 52 anos.

Jardineiros como Macaluso e seus colegas nos outros jardins botânicos da cidade foram considerados trabalhadores essenciais, uma designação com a qual todos eles concordam. A manutenção necessária para que jardins desse porte continuem bonitos e operantes é interminável, e os trabalhos de uma estação continuam mesmo durante a preparação para o início da próxima.

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"As pessoas que visitam os jardins vêm a uma espécie de museu de plantas. Esse público é diferente do que vai aos parques. Aqui, as pessoas realmente se interessam por jardinagem", afirmou Colin Kirk, jardineiro do Jardim Botânico do Queens.

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(Foto: Bryan Derballa / The New York Times )

Kirk também vai de bicicleta ao trabalho, saindo de seu apartamento em Jackson Heights. Durante muitos dias após o início da pandemia, ele levou no bolso uma declaração do diretor executivo do jardim afirmando que ele era um trabalhador essencial, caso alguma autoridade resolvesse pará-lo.

Ele não pode perder tempo no jardim – antes da pandemia, Kirk e os outros três jardineiros que trabalham no local em tempo integral contavam com ajuda de mais de vinte voluntários e diversos estagiários sazonais para cuidar dos 15 hectares do jardim. Agora, a equipe é formada apenas pelos quatro. "Temos um milhão de coisas para fazer", disse Kirk.

No Jardim Botânico de Nova York, no Bronx, quinze jardineiros trabalham todos os dias para cuidar dos cem hectares do parque – a equipe total conta com 54 profissionais, que se revezam ao longo da semana.

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Agora, boa parte dos jardins botânicos da cidade precisa fazer todo o trabalho com equipes limitadas, e alguns precisaram dispensar ou afastar funcionários. Muitos jardins fizeram cortes salariais e diminuíram as jornadas de trabalho.

"Tenho medo de como será o futuro, quando tudo se assentar. Será que teremos de fazer mais cortes salariais? Mais colegas serão despedidos? Não sabemos de nada", afirmou Lenny Paul, chefe do jardim do Brooklyn e presidente do sindicado que representa os trabalhadores dos jardins botânicos do Brooklyn, do Queens e do Bronx.

O Centro Cultural e Jardim Botânico de Snug Harbor, em Staten Island, colocou alguns funcionários em licença parcial para compensar a queda no faturamento, mas decidiu manter o jardim aberto. "Continuamos a fazer tudo o que podemos para que a situação permaneça consistente e estável para nossos trabalhadores, e para manter um ambiente saudável e seguro para nossos visitantes", declarou um representante de Snug Harbor por meio de um comunicado.

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(Foto: Bryan Derballa / The New York Times)

Deanna Curtis, curadora sênior e gerente de paisagismo do Jardim Botânico de Nova York, disse que o clima no jardim é diferente quando não há visitantes: "Agora, sempre que estou lá, mesmo com a equipe de horticultura, quando saio para fazer alguma coisa na área externa, passo muito tempo sem ver outro ser humano. É meio assustador."

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O Jardim Botânico do Brooklyn encontrou algumas maneiras de levar as flores para além de seus portões, de acordo com a diretora de horticultura, Ronnit Bendavid-Val. Os trabalhadores prepararam dezenas de buquês de narcisos para levar aos profissionais de saúde que trabalham no hospital mais próximo; outros 800 amores-perfeitos foram levados ao Cemitério Green-Wood.

"Ainda assim, sentimos que sofremos uma perda. Estamos diante de uma explosão de flores maravilhosas, mas cadê as pessoas? Elas deveriam estar aqui para ver, amar e apreciar a paisagem", acrescentou Bendavid-Val.

Dois funcionários do jardim do Brooklyn costumam cuidar dos pavilhões internos e das estufas todos os dias, enquanto outros três trabalham nas áreas externas. Macaluso, que faz parte da equipe das áreas externas e chegou ao jardim como estagiário há mais de uma década, geralmente passa boa parte do tempo cuidando da grama.

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(Foto: Bryan Derballa / The New York Times)

"A paz e a tranquilidade são deliciosas. Podemos desfrutar do jardim sem mais ninguém por perto. No meu caso, costumo operar muitas máquinas para cortar a grama e fazer os outros trabalhos, por isso tenho de estar atento às crianças pequenas que correm por todos os lados", afirmou Macaluso.

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Embora seja tranquilo caminhar sozinho em meio a dezenas de hectares de árvores floridas, os jardineiros afirmam que sentem falta dos frequentadores regulares – os vizinhos que vinham sempre, tiravam fotos e faziam muitas perguntas.

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(Foto: Bryan Derballa / The New York Times )

"Escolhi trabalhar em um jardim público porque não queria ficar em um terreno particular, nem fazer paisagismo em jardins de casas suburbanas e coisas desse tipo, uma vez que eu e muitos outros jardineiros dos jardins botânicos acreditamos que prestamos um serviço ao público", disse Macaluso, completando: "Queremos que esses portões estejam abertos e que as pessoas possam voltar. É triste não poder compartilhar essa beleza com todo mundo."

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