No dia em que a Casan classificou a estiagem de três meses da Grande Florianópolis como a pior da história, o cantor e compositor pernambucano Lenine fez um alerta: as discussões sobre abastecimento e falta do líquido passam pela importância que a sociedade dá à permanência dos seres humanos na Terra.
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A fala já fora feito em algumas das suas músicas, e mais recentemente em uma faixa do disco Carbono, lançado em 2015. A letra de Quede água? tem versos como "A seca avança em Minas, Rio, São Paulo, o Nordeste é aqui" e "Os rios voadores mal deságuam", "secando pouco a pouco o Aquífero Guarani". Lenine, porém, preferia que essa letra já estivesse ultrapassada, e que o alerta que ela faz fosse apenas coisa do passado. Mas não é.
— Que pena que essa música, mais do que nunca, continua atual. É sobre água, permanência e sobrevivência que nós estamos falando. Eu não consigo entender porque estamos dando tantos passos pra trás agora… Eu esperava que houvesse um Brasil que não fosse "eleito" de quatro em quatro anos, mas que fosse de fato um país. Não podemos banalizar questões como essa da forma como está acontecendo — diz.
O drama da falta de água em áreas antes tidas como privilegiadas no Brasil aliado a intervenções como os incêndios ambientais, que recentemente consumiram mais de 800 hectares do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, são para o artista resultado de uma combinação perigosa: falta de conhecimento e descaso dos governos. Mesmo que estudos tenham comprovado que a queimada provocada pelo agronegócio para preparar o terreno mais atrapalha que ajuda, a prática continua acontecendo.
— Eu estou indignado, como todo mundo, porque apesar de ser uma verdade primitiva da agricultura, o homem persiste no erro. Não consigo entender essa dificuldade de aprender — afirma.
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Com uma obra fortemente engajada com a causa ambiental, o artista diz que o que o país está vivendo em relação ao meio-ambiente é uma "distopia que não poderia ser imaginada nem na pior das ficções científicas".
Lenine está em Florianópolis para uma apresentação ao lado da Camerata Florianópolis, fruto de uma parceria iniciada em 2014. O trabalho revisita a obra do artista pernambucano que ganha, por meio dos arranjos do pianista catarinense Luiz Zago, "roupa de domingo", como Lenine costuma dizer.
— Nós somos unidos pela nossa religião – que é a música – e como já somos grandes amigos, o resultado sempre transcende, me surpreende e faz circular uma energia muito boa — finaliza.
O show da Camerata Florianópolis com Lenine ocorre nesta quarta-feira, a partir das 20h, no teatro do CIC. Os últimos ingressos estão disponíveis no site Blueticket.
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