Mexer o corpo de forma ritmada, acompanhando uma batida compassada, é uma das mais primitivas formas de expressar alegria e contentamento. Mais do que isso, a felicidade está intimamente ligada ao chacoalhar dos esqueletos. Tem quem ache que não consegue, mas se você não deixa os ombros parados quando toca aquele clássico, meu caro, já está dançando. É por isso que, mesmo não sendo tão lembrada no rol das tradições” da Oktoberfest, a dança tem seu espaço cativo nos pavilhões da Vila Germânica.

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A primeira a ganhar os salões é, claro, a dança folclórica. Carregada de tradição e significado, tem os passos coreografados com precisão. A minúcia dos figurinos concede ainda mais brilho às apresentações, que encantam quem tem a sorte de apreciar estes momentos. Coordenadores do Grupo Folclórico Fritz Müller, Joeli Kurek Stedile, 32 anos, e Ricardo Stedile, 30, são casados e parceiros de dança há mais de 10 anos. Eles se apresentam quatro vezes, em média, durante a Oktoberfest e acreditam que a dança é tão importante na manutenção da cultura germânica quanto outros elementos da festa.

– É algo que não se pode deixar de fazer. Acaba se dando importância para o chope e para a comida, mas a dança faz parte da nossa essência e da nossa origem, das pessoas que vieram até aqui para colonizar essa região – analisa Joeli.

O casal tem mais um companheiro de dança: Samuel, hoje com um ano e meio, acompanha os pais, literalmente, nas apresentações. Como ainda é muito novo, ele fica preso à mãe com o auxílio de um sling – carregador de bebê que forma uma espécie de saco e permite que a criança fique próxima do corpo de quem carrega –, ferramenta que garante mobilidade aos pais. E ele é um veterano, já que estreou na Oktoberfest aos seis meses de idade, em 2016.

Contemporânea, mas tradicional

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Outro tipo de dança que arrasta as multidões na festa mais alemã das Américas é mais moderna, mas não menos tradicional. As bandas irreverentes, que fazem sucesso com paródias temáticas e hits de uma deutsch music particular de Blumenau, garantem que o público aprenda o passo a passo das coreografias e siga o show do início ao fim. Bailarina e coreógrafa, Carla Viviane é a responsável pela dança nas apresentações da Banda Cavalinho há quatro anos. Com as músicas na mão ela cria as sequências, que são compartilhadas com os colegas até a versão final, que depois é ensinada aos fãs. No show, ela fica no palco por cerca de duas horas, e conta que o retorno do público é sempre contagiante:

– A dança é o que agita a galera e junto com a banda traz alegria e animação para a festa. Ela faz parte da arte e da cultura simplesmente por transmitirmos com amor e alegria o que é a tradição da festa.

A que não pode faltar na apresentação, segundo Carla, é A Marreca, sucesso desde que foi lançada. Mas a cada ano um novo hit é abraçado pelo público e, para quem quer chegar na festa sabendo, a própria coreógrafa ensina os passos em um canal no YouTube.

– No show ficamos 95% do tempo no palco, interagindo com o público, até porque é a nossa marca registrada. Como temos musicalidade própria e a galera conhece, já é tradição há anos – destaca.

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Sicronia de gerações

Quando os Velhos Camaradas soltam a voz, o público que toma conta do Eisenbahn Biergarten se volta para assistir. Tanto que às vezes nem nota que as bailarinas do grupo de sapateado da Escola de Dança do Teatro Carlos Gomes – o Pró-Dança – se infiltram na plateia. Quando a música para e o som dos sapatos contra a madeira ecoa pelo pavilhão, o encantamento começa.

Nascida da admiração da diretora Michelle Silveira Nicoletti, a parceria com o coral masculino deu certo logo de cara. Ela conta que sempre foi fã das apresentações e que quando a oportunidade surgiu não deixou passar:

– Eles gostam de inovar sempre, então acho que o sapateado dá um brilho a mais para o show, que já é fantástico.

O corpo de baile participa de uma parte do show, que varia entre três e quatro músicas. Michelle explica que, como o sapateado se encaixa facilmente nas canções, a sincronia entre a música e a dança funcionou desde o início. E como agora os dois grupos já se conhecem, alguns ensaios antes da Oktoberfest começar são suficientes para afinar o andamento.

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O público reage sempre com surpresa e entusiasmo, principalmente porque parte das bailarinas sai do meio da plateia. E no final, o que reina é a alegria.

– Para nós é muito legal poder divulgar a nossa arte, porque muitas pessoas não tinham visto (o sapateado) e têm essa oportunidade. E acho que o tradicional unido ao que é novo fica mais interessante – observa a bailarina.