Pela sexta vez e na primeira tentando a reeleição, Carlito Merss (PT) disputa a Prefeitura de Joinville com um mantra para justificar as dificuldades da administração nos primeiros anos: a necessidade de arrumar a casa.
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Agora, com a máquina reformada, as obras estariam aparecendo em maior velocidade. Em um eventual segundo mandato, o ritmo mais rápido seria imposto desde o início do governo.
Nesta entrevista, o prefeito não fugiu do script adotado na sua administração, como a ênfase em obras de saneamento e a “legalização” da cidade, queixas em relação ao governo do Estado e aplausos ao governo federal. A maior obra, em caso de reeleição, seria a continuidade das iniciativas já em andamento ou perto de começar.
Que avaliação o senhor faz do seu governo?
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Carlito Merss – Nós arrumamos a casa, em todos os sentidos…
Mas a casa estava como?
Carlito – Do ponto de vista financeiro, do ponto de vista administrativo, do ponto de vista da legalidade. É impressionante o que fizemos para regularizar a situação administrativa da Prefeitura. Diria que a transparência, que é uma marca nossa, que passa pela certidão negativa de débito (CND) online, em entrar no site da Prefeitura e ver as contas, é o legado do nosso governo. Não haverá mais como retroagir nessa área. E o fato de termos arrumado a casa, reduzido as dívidas, nos possibilitou que muitas obras que estavam travadas andassem. E os vários prêmios, de gestão, Amigo da Criança, convite para a Rio+20, entre outros, são o reconhecimento desse trabalho.
As obras estavam travadas?
Carlito – Vamos pegar os parques. Pelas informações que eu tive, sabia que era um projeto internacional, tudo planejado, que o dinheiro estava na conta. A surpresa foi iniciar o governo e ver que não era nada disso. Os projetos eram inconsistentes, como o do Boa Vista, mesmo o Parque da Cidade. Não tinha nada a ver com o que aprovamos. Então, foi assim. Minha pauta, em 2008, foi muito em cima do saneamento, da promessa de atingir 52%, porque a informação que tínhamos do governo anterior era de que o Jardim Paraíso, o Paranaguamirim, o Morro do Meio e o Centro de Pirabeiraba estavam com contratos prontos. Outra pauta que tivemos foi o eixão. Nosso compromisso era concluir o eixão (obra viária do aeroporto até o Eixo de Acesso Sul, na BR-101). Terminar as obras já licitadas e ampliar para a (avenida) Santos Dumont. O (Marco) Tebaldi e o próprio Darci (de Matos, candidato na eleição passada) diziam que o projeto estava encaminhado. Pode pegar nosso plano de governo de 2008: terminar o eixão e conseguir verbas para duplicar a Santos Dumont.
Mas mesmo que o eixão estivesse no zero, três anos e meio de governo não daria para ter feito alguma coisa?
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Carlito – Tudo o que era possível fazer, nós fizemos. Uma parte, o binário da Procópio Gomes com a rua Urussanga, era para estar no Badesc. No PAC ou no BNDES (financiamento de R$ 40 milhões para obras viárias, assinado no ano passado), não se incluiu por outros motivos.
Não foi tentado?
Carlito – O que eu corri atrás… Fui três vezes lá com o Mauro Mariani. A lista de obras estava determinada desde o governo anterior e não mexemos nisso, era o binário do Vila Nova, essas obras. No caso do eixão, estamos correndo atrás também. Diziam que tinha projeto de elevado. Não tem projeto nenhum. Tecnicamente, não posso falar, mas acredito que possa ter um elevado na Ottokar Doerffel com a Marquês de Olinda. Tinha também necessidade da rotatória da Beira-rio, perto da Acij…
E as demais obras?
Carlito – Um erro que cometi e não cometeria é que, quando saí do Congresso, consegui uma emenda para mim e outra para o prefeito de São José, coisa inédita. Ganhamos uma emenda de R$ 20 milhões. Eu podia ter aplicado tudo em uma obra só. Mas aí entramos nos projetos, e foi aquela confusão, olhamos a Santos Dumont, aí houve cobrança para duplicar a Dona Francisca. Então, fomos analisar a Dona Francisca, que já tinha um pré-projeto. Qual nossa surpresa? Que só as desapropriações custavam R$ 25 milhões. Então, fui atrás dos empresários da Dona Francisca. Só um se comprometeu a doar um terreno a ser desapropriado, que foi o Grupo Perini.
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E quais as propostas novas? Um anel viário?
Carlito – Isso seria inventar obras. O Plano Diretor já determina isso, com estudos técnicos e tudo mais, englobando as ciclovias, corredores de ônibus. Não adianta dizer que vou fazer uma megaobra da minha cabeça. Existe o que está nos projetos.
Para onde o senhor acha que a cidade vai crescer? Todo mundo dizia que era para o Sul, no passado, e cresceu para o Leste.
Carlito – No Leste, chegou-se a um limite, que é o mar. Não tenho dúvida de que vai crescer para o Sul. Tudo mostra que estamos indo para o Sul, para nos conurbarmos com Araquari. Mas falando de expansão, não tenho dúvida de que precisamos verticalizar essa área central, ter mais gente no Bucarein, Anita. Aqui tem toda a infraestrutura necessária, não precisa expandir mais lá para as pontas da cidade.
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Em um segundo mandato, o senhor vai insistir em uma reforma administrativa, como acabar com as secretarias regionais?
Carlito – Estou convencidíssimo em acabar com as regionais. Aliás, vejo mais candidatos falando disso já. O ideal são cinco e deu.
Vai mudar alguma coisa em relação à licitação do transporte público?
Carlito – Se Deus quiser, está bem encaminhada.
Mas aquela pendenga da dívida com as empresas de ônibus?
Carlito – Isso não tenho como decidir. Fui ver Curitiba, lá foi o mesmo. A Justiça é que vai decidir. Se o juiz decidir que temos que pagar a dívida, vamos ter que acatar. Não vou eu dizer se é verdade ou não, definir número de dívidas.
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E o impacto da folha nas contas…
Carlito – É pesado…
Tem como reduzir, ajustar, para não pesar tanto no orçamento?
Carlito – Nós temos demandas sociais. Por isso, estamos construindo mais seis CEIs, mais seis postos de saúde. Precisamos fazer. Mas isso significa mais funcionário, mais peso na conta a pagar. Na saúde, a situação é a mais grave, porque se continuarmos tendo um Hospital “Regional” São José, não vamos dar conta de contratar médico, abrir leito e nunca vamos resolver o problema. O Hospital Regional deveria ajudar a atender.
O senhor está satisfeito com a saúde?
Carlito – Não, porque o Estado não está fazendo a parte dele com o Regional. O que tem acontecido é a rede municipal e o Hospital São José absorverem uma demanda que o Estado não tem cumprido.
É aí o principal gargalo?
Carlito – Sim. É só ver os números dos nossos investimentos na saúde Quantos postos recuperamos, quantos médicos contratamos, quanto investimos no São José. É sempre acima de 30% do orçamento municipal (o mínimo a ser investido em saúde é 15%).
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Mesmo assim, o pronto-socorro continua lotado, dá a impressão de que nada se resolve…
Carlito – Tem avançado. Nossa maior dificuldade é aplicar a triagem, o Protocolo de Manchester, que é atender só aos casos realmente graves e mandar os que não são graves para outros serviços. Tem muita resistência.
O senhor implantaria uma OS no São José?
Carlito – Não. Nesse formato que está aí, não. Seria uma forma de privatização, que eu não concordo.
Em outros setores, dá para fazer parcerias?
Carlito – Claro, no saneamento. Eu não fecho o mapa do saneamento se não fizer PPP. Não tem outra saída.
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O senhor defende subsídio para o transporte público?
Carlito – Acredito que redução do preço da passagem passa por ICMS e IPI. Se não baixar isso no País para insumos do transporte, como pneu e diesel, não tem como baixar a passagem. É um problema no País. O ideal no mundo hoje é tarifa de um dólar, algo como dois reais…
Joinville está acima…
Carlito – Se nós conseguíssemos algo como no Ceará, onde ocorre um abatimento no ICMS, talvez baixássemos, mas depende disso.
Na educação, é só construção de escola? Tem algo novo a ser feito?
Carlito – Não é só construir escola, é educação continuada, qualificação dos professores. Nós, hoje, temos professores altamente qualificados. Garantimos 20% de hora-atividade, algo inédito. Teve até o 14º salário para os professores no ano passado. Demos 8,5% de reajuste, enfim. Nunca os servidores da educação foram tão valorizados como no nosso governo, isso é inquestionável.
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O que o senhor mudou pessoalmente nesses quatro anos como prefeito?
Carlito – Meus cabelos ficaram mais brancos.
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Releia a entrevista com Carlito Merss (PT) em outubro do ano passado