Zero Hora – Quais problemas existem nas áreas pacificadas? O que falta fazer?
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José Mariano Beltrame – Não se muda a realidade cultural de um lugar em cinco ou seis anos. Temos, por vezes, “estranhamentos” com moradores, temos de construir novas relações. O Complexo do Alemão é maior do que 80% dos municípios brasileiros, não é fácil sedimentar esse processo. É questão de tempo, mas a criminalidade diminuiu drasticamente.
ZH – Mas não houve migração do crime das áreas pacificadas para outros locais?
Beltrame – Isso é um pouco de falácia, existe a migração, mas não é tanto como falam. O “soldado” do tráfico é dependente do grupo traficante, ele não será recepcionado em outro lugar. Muitos praticam pequenos furtos dentro da sua favela, e agora encontram o que nunca encontraram: a polícia. São muitas prisões todos os dias. O que verdadeiramente acontece é a migração dos líderes do “negócio”: eles são reconhecidos no mundo do crime e recebidos em outros lugares.
ZH – Como o senhor vê o interesse sobre este tema? O sucesso de Tropa de Elite, e agora o filme que está sendo feito sobre a ocupação do Complexo do Alemão?
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Beltrame – Acho que é muito bom, mostra uma virada do Rio. Exportamos para o mundo cenas muito ruins ligadas à violência. Mostra que certos impérios caíram. Um lugar como o Alemão que fez o que fez com o Tim Lopes, que foi perseguido, preso, julgado, condenado e executado. O império caiu. Agora a liberdade de ir e vir está garantida. O recado está dado.
ZH – Que avaliação é possível fazer do começo do seu trabalho até hoje, com essa transformação que passou o Rio na segurança?
Beltrame – Nós acumulamos algumas conquistas importantes, mas não se pode comemorar, e sim aumentar a vigilância. Diminuímos índices de criminalidade importantes, e agora temos de consolidar isso. Mudamos a vida das pessoas, principalmente nas áreas conflagradas, mas ainda há muito o que fazer.
ZH – A cidade está preparada para ser a principal sede da Copa do Mundo?
Beltrame – Acredito que sim, o Rio historicamente tem uma capacidade muito boa de receber eventos. No Carnaval, recebemos 5 milhões de pessoas em uma semana. Isso faz com que nossas instituições de segurança pública saibam se comportar em relação a isso. Fizemos um Pan-Americano. Temos parceria com outras instituições. Queremos que o Rio se consolide como um lugar que tenha segurança para morar, criar filhos, desenvolver negócios, estudar e, obviamente, receber turistas.
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ZH – Tivemos recentemente muitos crimes cometidos por menores. A questão da maioridade penal tem que ser revista?
Beltrame – Eu acho que sim. Está na hora do nosso legislador dar uma resposta. Não posso dizer efetivamente o que tem de ser feito, mas precisamos de uma resposta. O menor pode fazer muita coisa, negócios, mas quando comete um crime é infantilizado. É urgente uma discussão com resultados objetivos.