Edegar Schatzmann não é um personagem histórico que foi perseguido pela ditadura militar, preso três vezes e torturado. É mais do que isto. Aos 73 anos, o senhor de conversa fácil gosta de circular entre adolescentes, universitários e grupos ligados aos movimentos sociais e de direitos humanos de Joinville.

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Passa boa parte do tempo na biblioteca de casa. Nos últimos dias, tem participado de palestras, seminários e debates sobre o golpe de 1964 e a ditadura militar. A maioria dos sobreviventes daquela época, não mais do que 20 ou 30 camaradas, prefere o anonimato ou as discussões longe de microfones e plateias de estudantes.

Edegar, então, se transformou em uma espécie de porta-voz, um símbolo de resistência à ditadura e, mais do que isso, dos traumas vividos na época.

– Muitos amigos morreram sem conseguir superar o que houve – lamenta.

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Seu Ed, o mais popular e carinhoso dos apelidos que colecionou desde os tempos de clandestinidade, tem memória fotográfica. Lembra dos rostos de todos os médicos que o atenderam na prisão e um ou outro militar que “facilitou” as coisas para o grupo de presos políticos do Norte de Santa Catarina.

Mas a resistência, lembra, começou muito antes das prisões e não tinha nada de subversiva. Ele era um dos estudantes que lutava para a implantação de uma escola de segundo grau gratuito, público, em Joinville.

A reivindicação era da cidade, dos intelectuais da época, de políticos e, principalmente, da comunidade. O máximo que se fazia eram pequenos panfletos que corriam de mão em mão pelo Centro de uma cidade com cerca de 70 mil habitantes.

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Com pouco mais de 20 anos, Edegar começou a se interessar pela União Soviética e conseguiu ser escalado para um intercâmbio de estudos políticos por lá. Era 1963 e um grupo de brasileiros passaria seis meses estudando em Moscou.

A viagem era o “carimbo” que faltava para que fosse tachado de comunista e considerado uma ameaça no Brasil. Em 31 de março de 1964, quando os militares depuseram Jango, Ed estava em Moscou. Ficou impedido de voltar ao País.

Lá, iniciou um curso para o ingressar na Universidade Patrice Lumumba, em Moscou. Mas a vontade de voltar ao Brasil só crescia. Parte do grupo, em 1964, foi “convidado” a trabalhar em uma refinaria em terras geladas do Norte da União Soviética. A saudade falou mais alto, ignorou a ditadura em que o Brasil mergulhava e levou o grupo a voltar.

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– Vocês estão loucos! Vão ser presos no Brasil, não estão vendo? Era isso o que nos diziam – lembra Schatzmann, complementando:

– O Brasil pode ter muitos problemas, mas acho que é o único lugar que dá uma saudade danada quando se fica longe.

Antes de pisar em solo joinvilense, passou por Berna (Suíça), Roma (Itália), Lima (Peru), Montevidéu (Uruguai), Porto Alegre e Florianópolis. Tudo para tentar despistar os militares e entrar no Brasil sem ser preso. Em Joinvile, ficou responsável por distribuir o jornal A Voz Operária.

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Foi preso pela primeira vez na famosa investigação feita pelo coronel Ferdinando de Carvalho, que já havia cuidado do processo de Luiz Carlos Prestes.