O inquérito aberto para investigar as delações de ex-executivos da Odebrecht sobre o ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), traz uma planilha com supostas doações da empreiteira para políticos de todo o país entre 2010 e 2014. Nessa lista, constam nomes de Santa Catarina que não são alvos de petições ou inquéritos e que teriam recebido recursos não declarados na eleição de 2010.
Continua depois da publicidade
A relação apresentada pelo delator Benedicto Junior mostra o interesse da Odebrecht na eleição catarinense. Candidatas ao governo do Estado naquele ano, Angela Amin (PP) e Ideli Salvatti (PT), estão listadas como beneficiadas com R$ 300 mil cada. Não há detalhes sobre como teria sido o acordo para que Angela recebesse os valores. Segundo a planilha, Angela recebeu o codinome “Aspirina”.
Naquela eleição, a pepista liderou as pesquisas no início da campanha, mas acabou derrotada por Raimundo Colombo (PSD) ainda em primeiro turno. Colombo não está nessa planilha, mas é citado pelos delatores Fernando Reis e Paulo Welzel como beneficiário de R$ 2 milhões da Odebrecht naquela disputa.
O caso de Ideli Salvatti, terceira colocada na eleição de 2010, é o da suposta doação intermediada pelo ex-prefeito joinvilense Carlito Merss (PT) que motivou a petição para que o caso seja analisado pela Justiça Federal em Santa Catarina porque nenhum deles conta com foro privilegiado. Na lista, o codinome da petista é “Fantasma”.
Continua depois da publicidade
Candidatos a outros cargos em Santa Catarina naquela disputa também estão relacionados. O ex-deputado federal Paulo Bornhausen (PSB) teria recebido R$ 100 mil em dois repasses. Seu codinome no sistema que organizava as doações da Odebrecht era “Filho”. Filiado ao DEM na época, Bornhausen foi reeleito naquele ano.
Outro ex-deputado federal na lista é Edinho Bez (PMDB), codinome “Mercedes”, que teria recebido R$ 50 mil. O peemedebista também se reelegeu naquela disputa. Menos sorte teve Tico Lacerda, à época filiado ao PDT. Citado com o codinome “Teco”, ele foi candidato a deputado estadual e consta na planilha como beneficiário de R$ 50 mil. Com apenas 2,3 mil votos, ficou longe da vaga na Assembleia.
CONTRAPONTOS
Ouvidos pela reportagem nesta quinta-feira, Angela Amin, Paulo Bornhausen, Tico Lacerda e Edinho Bez negaram ter recebido valores da Odebrecht em 2010.
Continua depois da publicidade
Confira abaixo o que disseram os políticos à reportagem:
Angela Amin (PP)
“O dinheiro que veio para a campanha veio tudo oficial. Não conheço ninguém da Odebrecht. O que foi para o diretório nacional (do partido) veio de maneira oficial”.
Edinho Bez (PMDB)
“Nunca tive relacionamento nenhum com isto. Estão generalizando isso aí, meu nome não vai aparecer em nada. Vou desafiar (a comprovar), nunca tive Mercedes na minha vida, meu carro sempre foi simples. Não respondo processo, sou ficha limpa. É possível que quem recebeu, por exemplo o presidente do partido, deve ter colocado alguns nomes para justificar o que pegou. Nunca houve nada disso”.
Paulo Bornhausen (PSB)
Em contato com a reportagem, Paulo Bornhausen negou ter recebido valores da Odebrecht em 2010, mas afirmou que preferia se manifestar com mais detalhes apenas após ter acesso ao inquérito.
Continua depois da publicidade
Tico Lacerda
“Nego, acho engraçado e afirmo: em 2010 minha candidatura era preparatória para disputar para vereador em 2012, o que realizei no PSOL. Qual interesse teria a Odebrecht num candidato desse? Por fim, nunca ocupei cargo eletivo, nem cargo político comissionado algum. Nunca toquei em dinheiro público em minha vida.”
Leia mais notícias:
Quinta-feira foi de avaliação e reação na Casa d’Agronômica, na Capital
Entenda a relação entre a Odebrecht e o município de Blumenau
VÍDEOS: o que dizem os delatores que citaram políticos de SC