O Prêmio Nobel em Economia, o indiano Amartya Sen, mostrou-se favorável à utilização de um sistema de cotas para facilitar o acesso de parcela dos estudantes ao ensino superior.
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– Não há dúvida de que muitas pessoas com um histórico desprivilegiado não alcançariam posições privilegiadas de outra maneira – afirmou o Nobel durante o seminário `Diálogos em Educação’, no Centro de Convenções Bovespa, na Capital do Rio de Janeiro.
Ele citou como exemplo a experiência adotada na Índia após a independência em 1949, quando foram implantadas ações afirmativas nos órgãos estatais, no serviço público e na educação, para corrigir as disparidades sociais envolvendo a casta mais discriminada naquele país, os dalit, também conhecidos como os “intocáveis”.
Amartya Sen sugeriu ainda que o Brasil faça um acompanhamento constante do desempenho destes alunos ingressantes pelo sistema de cotas, avaliando suas trajetórias acadêmica, profissional e pessoal, a exemplo do estudo desenvolvido por William Bowen e Derek Bok, ex-reitores de Princeton e Harvard, respectivamente.
Eles analisaram durante décadas o progresso de estudantes que ingressaram na vida acadêmica por meio de ações afirmativas, e identificaram que essas pessoas não só obtiveram considerável melhoria de renda e sucesso profissional, como também se dedicaram mais a atividades em prol da sociedade.
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A análise foi publicada no livro “O curso do rio – um estudo sobre a ação afirmativa no acesso à universidade” (“The Shape of the River”). A educadora Wanda Engel, ex-ministra da Secretaria de Estado de Assistência Social, também defendeu o sistema de cotas.
– Se tivéssemos uma igualdade de oportunidades educacionais para todos, não haveria a necessidade de haver cotas. Dizem que deveria ser social e não racial, mas concretamente os mais pobres são os menos brancos – afirmou.
Nobel no Fronteiras do Pensamento
Na noite de quarta-feira, Amartya Sen lotou o Salão de Atos da UFRGS na palestra Justiça, Esperança e Pobreza, a primeira do Fronteiras do Pensamento 2012. Nobel de Economia de 1998, Sen apontou o Brasil como um exemplo de uso eficaz do crescimento econômico para reduzir a miséria e privação.
Irônico, Sen criticou a postura política europeia, à qual, segundo ele, importa menos o que diz o povo grego ou espanhol do que as avaliações de analistas financeiros e agências de classificação.
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