Durante visita, nesta terça-feira, a Michoacán, no oeste do México, o papa Francisco convidou os jovens do país a “sonhar” com uma vida fora do crime e pediu aos religiosos que se mantenham firmes diante das ameaças do narcotráfico.
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Por muito tempo, a região foi considerada um reduto do tráfico de drogas. Em um encontro multitudinário em Morelia, capital de Michoacán, Francisco ouviu relatos de violência e de falta de oportunidades de alguns jovens.
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Ao convidá-los a “se atrever a sonhar”, o pontífice disse aos cerca de 50 mil garotos reunidos nos estádio Morelos que “é mentira que a única forma de viver, de poder ser jovem, é deixando a vida nas mãos do narcotráfico”. Jesus “nunca nos convidaria a sermos assassinos”, insistiu o religioso.
Francisco também pediu aos religiosos mexicanos que não se resignem à violência, ao tráfico de drogas e à corrupção, em uma missa celebrada em Michoacán.
– Que tentação pode vir de ambientes muitas vezes dominado pela violência, pela corrupção, pelo tráfico de drogas? – questionou o Papa em uma missa festiva diante de milhares de religiosos e seminaristas.
– Confrontados com essa realidade, podemos ser vencidos por uma das armas favoritas do diabo: a resignação – afirmou ele.
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Outras 300 mil pessoas acompanhavam a cerimônia fora do recinto em Morelia.
– A resignação não só nos atemoriza, mas nos entrincheira em nossas sacristias e aparentes seguranças – sustentou.
Pouco antes, dezenas de milhares de pessoas – a maioria sacerdotes, freiras e seminaristas – receberam Francisco com canto e dança no estádio abarrotado.
Depois da cerimônia com os religiosos, Francisco embarcou no papamóvel para percorrer as ruas coloniais de Morelia, onde milhares de fiéis o saudavam, agitando bandeiras e balões brancos e amarelos, as cores do Vaticano.
– Tomara que, com a sua bênção, Deus tenha piedade de nós, e que esta gente do tráfico ouça e entenda a mensagem – comentou o funcionário municipal Alfredo Vazquez, 53 anos, após a missa.
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Menos otimista, Rosa García, uma dona de casa de 60 anos, comentou:
– Eu não acho que isso (o tráfico) vá mudar muito sozinho porque o Papa veio. Pode mandar muitas mensagens de paz, mas os criminosos com certeza não escutam, eles fazem dinheiro fácil e não vão deixá-lo.
À tarde, Francisco fez uma rápida visita à catedral de Morelia para um encontro com 600 crianças, com as quais fez uma oração antes de ouvir um coro infantil da localidade.
– Continuem sendo criativos, procurando a beleza e nunca se deixem pisar por ninguém – mencionou o pontífice às crianças do coral.
A visita do papa a Michoacán, no quarto dia de sua viagem apostólica ao México, ocorre em meio a um forte esquema de vigilância, em uma região onde em 2013 um sacerdote chegou a ter de celebrar a missa usando colete à prova de balas.
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Com ameaças que resultaram em mortes, Michoacán é um dos estados mais perigosos para os padres mexicanos, que não fugiram da violência dos cartéis da droga. Cerca de 40 sacerdotes, seminaristas e leigos religiosos foram assassinados na última década no México.
A violência exercida pela Família Michoacana e o segregado cartel dos Cavaleiros Templários no Estado fez com que, em 2013, camponeses formassem milícias para se defender dos criminosos, que extorquiam, sequestravam e matavam em diferentes comunidades.
Nos primeiros dias de sua visita ao México, Francisco denunciou o narcotráfico e a corrupção em mensagens destinadas à classe política e aos bispos. O Papa pediu aos sacerdotes e às freiras que se arrisquem para transformar a realidade violenta e evitem se tornar “empregados” ou “funcionários” da empresa de Deus.
Francisco usou o cajado de Vasco de Quiroga, primeiro bispo de Michoacán, que durante a época da colônia dedicou sua vida aos indígenas purépechas da região, que lhe deram o nome de “Tata Vasco”. Na cerimônia, Francisco lembrou que Vasco de Quiroga encontrou “índios vendidos, humilhados e vadios”, e usou o caso como exemplo.
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Longe de levá-los à tentação da resignação, “moveu sua fé, moveu sua vida, moveu sua compaixão” e fez propostas que foram “um respiro diante da realidade tão paralisante e injusta”.
– Tenho fé de que, após a visita do Papa, as coisas vão mudar, que vamos perceber que a violência não é o caminho – declarou José Rodríguez, um trabalhador migrante que viajou para ver o papa de Los Angeles, Califórnia (EUA).
Em setembro de 2006, Michoacán foi notícia quando cinco cabeças humanas apareceram em um bar de Uruapan, na sub-região de Tierra Caliente, com a seguinte mensagem: “Esta é a justiça divina”, assinada pela Família Michoacana.
O grupo criminoso criou uma “bíblia” que mescla “denúncia social, auto-ajuda e pinceladas cristãs”, onde estabelece que seus membros não podem consumir álcool, ou drogas, lembra Jaime Rivera, da Universidade Michoacana.
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No final de 2010, o cartel se reinventou, adotando o nome de Os Cavaleiros Templários, tendo como símbolo a cruz vermelha das cruzadas católicas. Os Templários construíram altares dedicados a seu ex-líder El Chayo, “San Nazario”, morto em 2014, a quem veneram com orações.