Toda mãe é amorosa, carinhosa, batalhadora, incansável, preocupada, protetora, mandona, guerreira. Mas o velho clichê que diz que “todas as mães são iguais” não se aplica nos tempos atuais, apesar de algumas características continuarem sendo comuns. Tem pai que é mãe, mãe que também é pai, tem vó que é mãe, família que tem duas mães, outras nenhuma, mas mesmo quem nunca teve mãe, ou ainda é muito pequeno para entender o significado do termo, associa a mãe ao amor, cuidado e dedicação.

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Neste Dia das Mães, a Hora conta a história de Jaqueline Souza Ribeiro, 27 anos, moradora de Biguaçu, mãe de quatro filhos. Jaqueline é uma mãe guerreira, mesmo que não pense assim. Para a auxiliar de serviços gerais, ela simplesmente faz o que precisa ser feito:

— Botei no mundo, tenho que criar — diz, com simplicidade.

O domingo será um dia como qualquer outro para Jaqueline, sem homenagens em rede social ou almoço especial. O único presente que já recebeu foi dado pela filha mais velha, Karoline, de nove anos: um desenho com declarações de amor. Os outros — Daniel, 4, Antônio, 3 e Emanuel, 1, ainda são muito pequenos para entender a data. São muito pequenos também para entender toda a luta da mãe para dar o melhor para eles.

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Talvez nem ela compreenda as batalhas que trava diariamente: sair de casa todos os dias às 5h20min da manhã, pegar três ônibus para chegar no trabalho na Trindade e voltar para casa só de noite, quando, muitas vezes, as crianças já estão dormindo. Com o salário de auxiliar de serviços gerais ela paga aluguel e uma vizinha para cuidar das crianças quando não estão na creche e escola.

Aos 17 anos, Jaqueline virou mãe após engravidar em seu estado natal, o Pará. Adolescente, sem ter um bom relacionamento com a própria mãe, entendeu que sua vida tinha mudado com a chegada da filha Karoline. O pai da menina morreu, alguns anos se passaram, ela se casou de novo, teve mais dois filhos e a família atravessou o país para vir a Santa Catarina em busca de uma vida melhor.

O desemprego chegou para o marido, que resolveu voltar à terra natal, mas Jaqueline decidiu ficar no estado com as crianças, pois diz que aqui tem mais opções de trabalho para ela, além de acesso à saúde e educação para os filhos. Há um ano, a família ganhou mais um integrante, o bebê Emanuel.

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A nova batalha da heroína que não se vê como tal

Sem ajuda dos pais das crianças ou outros familiares, Jaqueline dispensa o título romântico de heroína. Não tem tempo para esmorecer, mas os olhos se enchem de lágrimas ao falar da nova batalha que vai precisar enfrentar com o filho Antônio, três anos, diagnosticado nesta semana com linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer.

— Ele começou a perder peso e apareceram várias ínguas. Essa semana tivemos o resultado dos exames e a médica me explicou que era isso. É uma preocupação muito grande, sei que vai ter um longo tratamento pela frente, mas vamos enfrentar — diz.

O momento em que deixa transparecer sua fragilidade dura pouco. A mãe-fortaleza Jaqueline sabe que é o único porto-seguro de seus filhos, e por isso, se vira em mil para dar conta de tudo, encarando isso com naturalidade.

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— Às vezes me sinto culpada, fico preocupada, mas toda a recompensa vem quando chego em casa e vejo o sorriso deles. A gente é muito julgada por ser mãe solteira, mas só o que quero é fazer o melhor para os meus filhos, para que cresçam e sejam pessoas de bem.

Jaqueline é uma “mãe de ferro”, como descreve o jornalista Marcos Piangers em sua crônica de Dia das Mães. Ela representa as milhares de mulheres pelo Brasil e mundo afora que são incríveis por serem mães, mesmo que não se considerem.

O Dia das Mães de Ferro*

Marcos Piangers

Na televisão você vai ver imagens de uma mulher arrumada, maquiada, magra, lindíssima, brincando com o filho no sofá. Uma música emocionante, a câmera focando os dois de perto, uma luz bonita entrando na lente, os dois sorrindo e dando gargalhadas, trocando afagos. No final do vídeo alguma marca vai aparecer, desejando a você parabéns pelo seu dia.

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No Facebook todo mundo terá fotos com a mãe. Todos dirão ¿hoje é dia da melhor mãe do mundo¿. Todas as mães serão as melhores mães do mundo e, realmente, talvez todas sejam.

Mas esse texto é pra você que não recebeu homenagens.

Esse texto é pra você que não é maquiada, nem lindíssima e magra e não tem filhos ainda em idade pra prestar qualquer homenagem. É pra você que tem que fazer tudo sozinha, trabalhar, limpar, acordar cedo, sair tarde do trabalho, pagar contas, ficar presa no trânsito. Você que cria seu filho sozinha. Você que foi abandonada.

Você que foi largada pelo pai da criança, que ¿não estava esperando esta notícia¿, que queria tirar o bebê, que ¿não tem condição de assumir¿, que era “muito novo pra ser pai¿. Você que foi chamada de vagabunda, ¿quem mandou transar sem camisinha¿. Você que teve seu estudo interrompido, sua vida profissional prejudicada, sua relação com seus pais abalada, sua honra manchada.

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Você que sentiu vergonha de todo mundo: esse texto é pra você.

Esse texto é pra te dizer que você pode não ser aquela mulher da propaganda, você pode não ser a mulher mais linda do mundo, a mãe perfeita que dá conta de tudo e está sempre bem. Mas o mundo é melhor porque você existe. Você é de verdade. Imbatível e inquestionável.

Esse texto é pra te dizer: eu sei que não é fácil. Você é a minha mãe chegando atrasada em apresentações escolares, pagando todas as contas, cozinhando, passando, limpando, gritando e levando tudo sozinha. Você é a minha mãe, uma rainha. Obrigado, mãe. Você é uma guerreira. O mundo todo contra, e você de pé. Ninguém derruba você.

Nesse Dias das Mães, se você estiver se sentindo sozinha, esse texto aqui é pra você. Nós estamos aqui. Nós estamos torcendo por você.

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Feliz Dia das Mães.