Com olhar atento, os alunos do 4º, 5º e 6º ano do Colégio Municipal Maria Luiza de Melo, ouviram as explicações sobre um assunto que apesar de acontecer com frequência, ainda é tabu entre muitas famílias e na sociedade: o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes.

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Nesta quarta-feira, dia 18 de maio, é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças. A data foi escolhida pois em 1973, a menina Araceli Cabrera Crespo, na época com oito anos, foi sequestrada, estuprada e morta no Espírito Santo. Após uma forte mobilização, foi aprovada a lei federal 9.970/2000, instituindo este dia como um marco na luta pelo fim da violência contra menores.

Quando a foto da menina Araceli apareceu no telão da escola, que fica em São José, os alunos já sabiam quem era ela. Ao longo da semana, os professores foram trabalhando o tema em sala de aula para não causar estranhamento nas crianças. A prisão do ex-BBB Laércio de Moura, acusado de estupro de vulnerável por ter mantido relações com uma menina de 13 anos em Curitiba, também trouxe o assunto a tona.

Papo reto

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Na conversa com as profissionais da Rede de Proteção às Pessoas em Situação de Violência de São José, o papo foi franco e direto. Com linguagem simples, a psicóloga Ana Brasil e a assistente social Thayse Pinheiro mostraram para as crianças que a violência pode acontecer até mesmo dentro de casa, com pessoas em quem elas confiam, mas que é possível pedir ajuda e denunciar. O Projeto a Hora do Conto também esteve na escola, retratando um pouco da história da menina Araceli.

— A linguagem varia muito conforme a instituição, mas nesta escola já tivemos relatos de fotos com nudismo que se espalharam em rede social, por exemplo. Hoje em dia as crianças estão na internet e têm acesso a tudo muito cedo, por isso começamos a prevenção logo, para que consigam identificar uma situação que não é correta e não estão se sentindo confortáveis — explica Ana.

As vítimas

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do município de São José no período de 2013 a abril de 2016 mostram que 33,2% das violências contra crianças e adolescentes foram sexuais, sendo 83,8% do sexo feminino. A faixa etária mais atingida é entre 10 e 13 anos, e os principais agressores são conhecidos das famílias e padastros.

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— Quando fazemos estas visitas nas escolas, percebemos que logo em seguida aumentam as denúncias no Conselho Tutelar — destaca a assistente social Thayse.

Para os alunos, além do aprendizado, fica o alerta. Desconfiar de pessoas que oferecem presentes sem aparente motivo e sempre procurar ajudar de um adulto de confiança, seja em casa ou na escola.

A estudante Barbara Muller Martin, 11 anos, disse que aproveitou bastante as orientações:

— Gostei das dicas que passaram. Já aconteceu com uma amiga de falar com gente na internet que se passava por outra. Na minha casa a gente conversa sobre o assunto, mas é bom saber mais.

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Para fazer denúncias, qualquer pessoas pode utilizar o Disque 100 ou procurar o Conselho Tutelar e delegacias de polícia.