Quem vê Aleir Claudino Martins, 54 anos, com um cigarro na mão pode nem imaginar a batalha que ele trava diariamente contra o vício considerado o principal causador de mortes evitáveis no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O processo para abandonar o hábito que o acompanha desde os 14 anos começou em setembro do ano passado, depois de um susto com o diagnóstico de tuberculose. A doença agravou sintomas que o aposentado já sofria há tempos, como cansaço e falta de ar. Para se livrar do cigarro, ele sabia que não seria possível sozinho e encontrou em um grupo de combate ao tabagismo na unidade de saúde próxima de casa o apoio necessário.

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– Não é fácil. Me revoltava comigo mesmo por não conseguir – conta Martins.

A afirmação pode parecer estranha considerando que ele ainda fuma, mas cada conquista é celebrada. Antes do início do processo para deixar o tabaco, o morador do bairro Escola Agrícola fumava até três carteiras por dia. Atualmente, são, no máximo, dois cigarros. A jornada segue nos encontros mensais do grupo, em que recebe assistência profissional.

– Só faltei uma vez porque tinha médico. Vou sempre, sei que é importante. Quanto antes deixar do vício melhor – afirma.

Quem se livrou do cigarro, comemora. Liberaldina Longhi, 67 anos, hoje faz tranquilamente tarefas que antes eram complicadas, como carregar sacolas e subir o morro de casa. A senhora que passou 54 anos tendo o cigarro como companhia lembra bem do dia em que decidiu abandonar o vício.

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– Levantei, tomei meu café e fui fumar. Quando peguei aquele cigarro na mão, pensei: eu não quero mais essa porcaria, vou jogar fora – relembra.

Daquele momento em diante, a pensionista buscou apoio no mesmo grupo que Martins frequenta. Ela teve alta e festeja os 10 meses que pode ir tranquilamente à casa do irmão, que se incomodava com o cheiro do cigarro. Além disso, agora os quase R$ 400 gastos mensalmente com o tabaco se transformaram em roupas e sapatos novos para ela, a neta e o filho.

– É um vício desgraçado. A gente só queima dinheiro e prejudica a saúde – fala animada.

Dependência é química e psicológica

A médica que coordena o trabalho de combate ao tabagismo no Ambulatório Geral da Escola Agrícola, Giovana Merini Franceschi, explica que a dificuldade de superar o vício está atrelada à dependência química e psicológica. No primeiro caso, a intervenção com medicamento é eficiente, mas quando o uso do tabaco serve de fuga para algum problema, é necessário um trabalho especializado.

Giovana conta que a maioria dos integrantes procura o grupo após recomendação médica, quando já houve diagnóstico de outra doença, geralmente pulmonares. Dados do Ministério da Saúde apontam o cigarro como responsável por 63% dos óbitos relacionados às doenças crônicas não transmissíveis. Destes, 85% são de doenças pulmonares.

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Com três anos de experiência na atuação com os dependentes, ela reforça que a chave do sucesso no tratamento é a motivação para deixar o tabaco, que deve ser pessoal, fruto da consciência do quão prejudicial é o hábito. A médica pontua ainda dois tópicos fundamentais nesse processo:

– Ter apoio familiar é importante, pois é um vício e esse paciente passa pela abstinência, então as pessoas que estão ao redor precisam entender essa fase – reforça Giovana, ao frisar os sintomas que podem surgir, como irritação e ansiedade.

A assistente social Marianne Ewald, que também integra o grupo de apoio, explica que o tratamento passa por várias fases.

Na primeira delas, os pacientes são avaliados quanto ao grau de dependência e a necessidade de medicamentos. Só depois começam os encontros. O trabalho leva cerca de um ano.

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– Eles trocam experiências e informações sobre como vencer o vício. Também são medicados e quem precisa de apoio psicológico recebe encaminhamento – detalha Marianne sobre as ferramentas utilizadas no combate àquele que é responsável por mais de 73 mil novos casos de câncer registrados no Brasil em 2015.

Confira quais são os benefícios de largar o cigarro:

– Normalização da pressão arterial após 20 minutos

– Queda de 50% dos níveis de nicotina e monóxido de carbono no sangue, com normalização da oxigenação do sangue após 8 horas

– Melhora do olfato e paladar após 48 horas

– Melhora da capacidade de andar e correr após 2 a 12 semanas

– Redução do risco de derrame e de infarto semelhante do de quem nunca fumou após 5 a 15 anos

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