– Eu era apaixonada pelo cigarro. Ele era meu namorado.
Estas foram as primeiras palavras que Orlene Ferreira da Silva, 47 anos, falou no primeiro dia em que participou do Programa Municipal de Controle do Tabagismo de Joinville, em agosto do ano passado. No terceiro encontro, ela parou de fumar. Desde então, ela se considera uma nova mulher.
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– Hoje, eu vivo em paz porque descobri que o cigarro não me acalmava como eu pensava. Muito pelo contrário, só me deixava mais agitada – revela.
Orlene lembra como se fosse ontem o dia em que parou de fumar. Quarta-feira, 18 de setembro de 2013. Naquele dia, ela acordou cedo para fazer o exame que iria confirmar se as artérias do coração realmente estavam entupidas e decidiu que o cigarro não faria mais parte da rotina dela.
– Eu acordei e refleti que poderia viver sem fumar, já que eu havia fumado apenas cinco no dia anterior. Aí, você pensa assim: só cinco? Se comparar, é muito pouco para quem fumava cerca de 40 por dia, não é mesmo? – conta.
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Durante 27 anos, o cigarro foi o fiel escudeiro de Orlene. Ela abandonava tudo por ele, inclusive a família. Longe do vício, mas não totalmente imune à ele, a agente comunitária de saúde reconhece que é muito mais feliz agora.
– Hoje as minhas filhas me acham cheirosa. Antes, elas não conheciam o meu cheiro porque eu fumava na gravidez delas – conta.
Mesmo depois de abandonar o cigarro, Orlene continuou frequentando o grupo de controle do tabagismo até o final, em fevereiro. O objetivo dela era incentivar outras pessoas a abandonar o vício.
Ela diz que no início as pessoas não acreditaram que ela realmente tinha parado de fumar. No final das contas, ela se tornou um exemplo.
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Apesar de estar decidida a nunca mais pegar um cigarro na mão, Orlene confessa que o apoio das psicólogas e do grupo foi fundamental para ela resistir às tentações. No entanto, ela ressalta que tudo isso valeu à pena.
– A minha autoestima melhorou. Antigamente, eu me sentia inferior. Tinha vergonha de cumprimentar as pessoas por causa do cheiro do cigarro – diz.
Sete dias depois de fazer o exame recomendado pelo médico, Orlene descobriu que o seu coração estava muito mais saudável.
Mesmo assim, ela não sentiu mais vontade de voltar a fumar e até hoje agradece por este susto que fez ela mudar de vida.
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Hoje, o dinheiro que ela usava para comprar carteiras de cigarro tem outro destino: roupas, sapatos e cremes para o rosto.
“80% dos fumantes querem parar de fumar”, informa a psicóloga
Assim como Orlene, 813 pessoas já pararam de fumar depois de participar do Programa Municipal de Controle do Tabagismo, que começou em 2005. Até dezembro do ano passado, mais de dois mil fumantes já frequentaram os encontros. Atualmente, 45 unidades de saúde de Joinville realizam este tratamento, que é gratuito.
– Hoje, sabemos que cerca de 80% dos fumantes querem parar de fumar, pois a cada vez mais conhecem os malefícios do cigarro. Além disso, existe tratamento efetivo para ajudá-los – explica a psicóloga do Programa Municipal de Controle do Tabagismo, Karina Viana.
Cada grupo é formado por, no máximo, 15 pessoas e são coordenados por profissionais capacitados da área da saúde, supervisionados por uma psicóloga. O tratamento dura seis meses e é dividido em dez sessões.
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– A metodologia utilizada nos grupos é baseada na teoria cognitivo-comportamental, a qual busca lidar com os pensamentos que geram nossos comportamentos, como o de fumar, por exemplo – salienta Karina.
Até 2013, 142 grupos já foram atendidos pelo programa. Dos dois mil participantes, cerca de 62% precisaram tomar remédio para tentar largar o vício.
Lei que proíbe fumar em bares e restaurantes foi bem aceita em Joinville
Em Joinville, a fumaça do tabaco não polui mais os bares, restaurantes e ambientes fechados. A Lei Municipal número 6.775 de setembro de 2010 proibi fumar nestes lugares.
Na avaliação do presidente Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Joinville e Região (Sihrbes), Bernardo Kuerten, a medida foi bem aceita na cidade.
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– Desde de que a lei foi aprovada, o ambiente nos restaurantes e bares melhorou muito. Ficou mais agradável, cheiroso e limpo. Antes, a fumaça do cigarro incomodava os clientes, que chegavam a ir embora por conta disso – ressalta.
Além disso, ele observa que a lei ajuda quem está tentando parar de fumar. Isso porque, muitas vezes, as pessoas não querem sair sozinhas para fumar e substituem o cigarro por água ou uma bebida.
Saiba mais
– 6 milhões de pessoas morrem por ano no mundo devido ao tabagismo, segundo a OMS.
– No Brasil, 200 mil pessoas perdem a vida por causa do cigarro todo ano, conforme a OMS.
– 11% da população brasileira fuma, de acordo dados do INCA. A pesquisa foi feita em 2013 pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel).
– Doenças que o tabaco pode causar: câncer de pulmão (90%), doenças coronarianas – infarto e angina (25%), bronquite e enfisema pulmonar (85%) e doenças cerebrovasculares como o AVC (25%).
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