O aposentado José Domingos Arruda, 70 anos, conviveu durante quase seis décadas ao lado de um inimigo em Joinville. É assim que ele define a relação que tinha com o cigarro e a forma com que ele encarou o vício para conseguir parar de fumar no ano passado. A luta não foi fácil, mas ele criou coragem para escolher uma data em que faria a mudança em prol da saúde e de qualidade de vida: 1° de junho de 2017. Coincidentemente, um dia antes é considerado o Dia Mundial sem Tabaco.

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Domingos começou a fumar aos 13 anos, quando conseguia cigarros com os amigos e ia para um campinho de futebol fumar. Ao longo dos últimos 57 anos anos tentou parar outras duas vezes, antes de conseguir, finalmente, largar o cigarro. Nas duas primeiras tentativas, voltou a fumar depois de passar por problemas familiares. Porém, na última vez procurou ajuda profissional e frequentou um grupo de fumantes, que tinha como objetivo em comum eliminar o cigarro de suas vidas.

Domingos continuou fumando durante uma semana após começar a ir aos encontros. Depois parou e nunca mais fumou. Nem mesmo a perda de um filho fez ele ter uma recaída. Segundo ele, a determinação foi o fator preponderante para não voltar atrás da decisão.

— Não é fácil. Coloquei na cabeça que tinha um inimigo comigo. Quando dava aquela fissura de fumar, eu brigava comigo mesmo e com o cigarro — conta.

A maior motivação para parar de fumar foi recuperar a saúde, que já dava sinais de desgaste. Para subir as escadas até o primeiro andar do prédio onde mora, o fôlego já não era o suficiente. Hoje, ele frequenta a academia três vezes na semana e se sente uma nova pessoa.

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— Passei a me sentir tão bem que comecei a academia. Sou um velho que recuperei a disposição — brinca.

Além disso, ele também não se sentia bem com o incômodo das outras pessoas com o cheiro do cigarro que ficava nele após fumar. Um ano depois, ele continua determinado a ficar bem longe do vício para manter a saúde e também não decepcionar todos aqueles que o apoiaram e ajudaram a largar o cigarro.

Os perigos do tabagismo

Um estudo realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) em 2017 mostrou que 428 pessoas morrem diariamente no Brasil por causa do tabagismo. Os números representam 12,6% de todas as mortes anuais no país. No ano passado, 73,5 mil pessoas foram diagnosticadas com câncer provocado pelo tabagismo.

O número de fumantes caiu 30,7% nos últimos nove anos. O problema é que mesmo assim ainda há 1 bilhão de tabagistas no mundo. Estudos já comprovaram que o hábito de consumo do tabaco está diretamente relacionado com vários tipos de câncer. Além disso, o tabagismo pode levar à doenças cardiovasculares, como infarto ou acidente vascular cerebral (AVC), que têm mortalidade até maior do que as doenças ligadas ao câncer.

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A oncologista clínica Andrea Santin, do Centro de Hematologia e Oncologia (CHO), alerta também para os riscos do narguile e da maconha. Segundo ela, ambos têm substâncias ativas na causa de câncer, por exemplo, de testículos e do sistema nervoso central. Tabagistas de todas as idades estão sujeitos às complicações.

O caminho para evitar as doenças é parar de fumar. No entanto, Andrea explica que o cigarro atua como um antidepressivo e causa uma dependência química na pessoa. Isso pode levar a um quadro depressivo ou uma abstinência relacionada ao cigarro.

— O cigarro precisa ser substituído por uma coisa que produza endorfina. Então, atividades físicas ou prazerosas, que tragam algum bem-estar ou benefício são importantes. Às vezes, também podem ser necessários medicamentos para substituir esse antidepressivo — explica.

A dica da especialista é buscar a prática regular de exercícios por, pelo menos, 30 a 40 minutos por dia, além de uma dieta saudável e um sono de qualidade. Normalmente, depois de duas semanas sem cigarro, o fumante está desintoxicado. Em média, uma pessoa que fuma reduz em 6,2 anos a sua expectativa de vida.

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Estatísticas revelam que os fumantes comparados aos não fumantes apresentam risco:

– 10 vezes maior de adoecer de câncer de pulmão

– 5 vezes maior de sofrer infarto

– 5 vezes maior de sofrer de bronquite crônica e enfisema pulmonar

– 2 vezes maior de sofrer derrame cerebral

Se parar de fumar agora:

– após 20 minutos sua pressão sanguínea e pulsação voltam ao normal

– após 2 horas não tem mais nicotina no seu sangue

– após 8 horas o nível de oxigênio no sangue se normaliza

– após 2 dias seu olfato já percebe melhor os cheiros e seu paladar readquire a capacidade de identificar sabores

– após 3 semanas a respiração fica mais fácil e a circulação melhora

– após 5 a 10 anos o risco de sofrer infarto será igual ao de quem nunca fumou