Quando se fala em preservação ambiental, a água ganha destaque. O tema tem pautado a Organização das Nações Unidas (ONU) há anos em todas as suas variáveis: água e energia, cooperação pela água, água e segurança alimentar, águas transfronteiriças e saneamento e água limpa para um mundo saudável. Criou-se até uma agência mundial dedicada ao estudo do recurso natural, a UN-Water, que, neste ano, escolheu como tema Água e o desenvolvimento sustentável.
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Para marcar o Dia Mundial do Meio Ambiente, que é comemorado nesta sexta-feira, “AN” procurou especialistas e técnicos no assunto para projetar o futuro do abastecimento de água na cidade. Apesar de os dois mananciais que fornecem água para o município estarem longe da escassez, o desafio da sustentabilidade e da infraestrutura é realidade bem próxima de Joinville.
Hoje, são processados 2,1 mil litros de água por segundo nas duas estações de tratamento da Companhia Águas de Joinville. O consumo médio de cada morador na cidade é de 200 litros de água por dia. O que em princípio soa como abundância é, na verdade, um alerta. Segundo a ONU, a média em países tropicais não deve ultrapassar os 110 litros diários, volume suficiente para atender às necessidades de uma pessoa.
– Aqui em Joinville, temos um plano diretor para o abastecimento de água que foi elaborado pensando no futuro da região. Vimos que, ao menos até meados de 2040, se o crescimento da população se mantiver dentro do estimado, os mananciais dos rios Piraí e Cubatão darão conta do recado. Mas, evidentemente, levamos em conta a educação e a consciência ambiental da população. Vale lembrar que a água não desaparece. É a demanda que aumenta – explica Cesar Rehnolt Meyer, responsável pelo setor de planejamento e desenvolvimento da Águas de Joinville.
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De acordo com Meyer, o desafio é fazer com que a modernização da infraestrutura acompanhe a expansão populacional.
– O crescimento desordenado é perigoso. Temos de buscar um planejamento apurado para garantir o abastecimento, sem fazer vista grossa para as zonas de crescimento populacional de Joinville. Quando expansão e infraestrutura caminham em descompasso, a cidade sofre com a escassez, como aconteceu com São Paulo no início deste ano – destaca.
LIMITES NATURAIS DEVEM SER RESPEITADOS
Joinville tem uma das melhores e mais puras águas de todo o Brasil. Em grande parte, esse fato se deve à qualidade natural da água dos mananciais, proveniente de rios com correnteza frequente e um sistema de captação que não chega a represar a água.
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Contudo, para o engenheiro ambiental Luiz Roberto Tartaglia, esta é uma realidade que pode facilmente se transformar caso as iniciativas pública e a privada não saibam respeitar os limites naturais dos mananciais.
– Em Joinville, a captação de água é superficial. Existe uma espécie de barragem pequena, onde a água é coletada, tratada e distribuída. Vejo isso como o grande diferencial, pois a água vem de rios com fluxo bom e constante, o que garante a sua pureza. Em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, a opção foi pelo sistema de barragens. Não é o ideal, pois, além do impacto ambiental, perde-se a qualidade na água – diz Tartaglia.
Na avaliação do engenheiro, a preservação dos mananciais e das nascentes é fundamental. Por isso, a urgência em se pensar em soluções para garantir a integridade ambiental destes espaços. Por outro lado, Cesar Meyer, da Águas de Joinville, conta que o município só enxerga opções como barragens e represamento em um horizonte muito distante.
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– Sabe-se que a barragem não é o sistema ideal, mas é importante que uma cidade do porte de Joinville tenha um plano B, em caso de redução dos níveis nos rios. Por precaução, estudamos até a possibilidade de trazer água do rio Itapocu, uma opção cara e distante do ideal, mas ainda assim uma opção – diz Meyer.
Até o ano que vem, a ETA do Cubatão terá a capacidade duplicada
ZONA SUL E PERIFERIA SENTEM DIFICULDADES
A zona Sul de Joinville vive hoje uma verdadeira torrente de investimentos imobiliários e expansão populacional.
Grandes projetos habitacionais têm aumentado gradativamente a demanda por serviços de saneamento básico e infraestrutura, o que gera também um problema de logística para o abastecimento funcional de água.
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– A estação de tratamento de água (ETA) do Cubatão hoje é responsável pelo abastecimento de 70% de Joinville. Ela produz cerca de 1,6 mil litros de água por segundo, mas fica no extremo oposto à zona Sul. Fazer a água chegar até lá é um desafio de infraestrutura – destaca Meyer.
O rio Piraí, na região Oeste, abastece outros 30% da cidade, tratando uma média de 500 litros de água por segundo. Em razão do modelo de captação e dos níveis de água dos dois rios, a chance de ocorrer uma crise hídrica na cidade nos próximos anos é considerada pequena, mas a estabilidade do abastecimento para a zona Sul e periferias da cidade ainda deve passar por momentos conturbados.
Para aumentar a captação das estações e diminuir o risco de crise, a Águas de Joinville pretende investir R$ 21 milhões para duplicar a capacidade da ETA Cubatão, obra que está em processo de licitação e deve ser entregue em 2016. Para a zona Sul, o projeto da companhia prevê a construção de uma nova estação de tratamento.
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– A ETA Piraí Sul ainda está em fase de estudos preliminares da qualidade da água, mas é um projeto previsto para 2019, com um investimento de R$ 65 milhões – informa o presidente da companhia, Jalmei Duarte.
EXECUTIVO E LEGISLATIVO DE OLHO NO FUTURO
A Câmara de Vereadores de Joinville elaborou no último mês uma carta oficial com 17 ações urgentes para garantir que a cidade tenha água de qualidade no futuro. Batizada de “Carta de Joinville”, o documento foi redigido após o “Seminário da Água: os Desafios para Enfrentar a Escassez em Joinville”, promovido pelo Legislativo.
Os tópicos foram escolhidos com base nas necessidades da população para os próximos 20 anos. Isso porque a estimativa é que a cidade passe dos atuais 550 mil habitantes para quase 900 mil daqui duas décadas. O documento estabeleceu metas para o município, como reduzir os desperdícios nas redes, que hoje está acima dos 40%, e transformar em lei a reutilização de água da chuva, além da sugestão de incentivar a adoção de tecnologias que reduzam o consumo nas casas e nos prédios públicos.
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Um dos projetos curiosos que surgiram da empreitada da Câmara de Vereadores contra a escassez de água veio do vereador Fábio Dalonso (PSDB). Ele propõe que se inicie os estudos para buscar água em uma nova fonte e que reforce a nascente do rio Piraí.
– Sem dúvida, o discurso de sustentabilidade é um desafio que temos que buscar, e água é uma questão urgente, que deve ser trata com muita responsabilidade – afirma o vereador.