O 29 de junho é um dia aguardado para quem atua na pesca artesanal. É a data do padroeiro do pescador, São Pedro, e por consequência, dia do próprio pescador no Brasil. Apostando nas bênçãos do santo, pescadores da Lagoinha, no norte da Ilha, acreditam que esta data pode render bons frutos. Ou melhor, tainhas. Se o padroeiro estiver disposto a ajudar, nesta quinta-feira cedinho, os pescadores já estarão em seus postos, mar adentro, em suas canoas, esperando pelas prateadas chegarem às redes. Fé é o que não falta. E a data carrega um histórico positivo.

Continua depois da publicidade

Na manhã desta quarta, os cerca de 30 pescadores que atuam na localidade arrumavam as redes na praia, deixando tudo pronto para caso os peixes resolverem aparecer na baía. Os vigias, a mesma coisa: estavam de olho da imensidão do mar em três pontos diferentes da praia.

— Em 2014, por exemplo, não tivemos nenhum lance bom de tainha. A safra não estava rendendo nada. Até que em 29 de junho, quase no final da temporada e no dia de São Pedro, tivemos um lance de seis mil tainhas. Foi o que salvou a nossa safra — recorda Alionézio Manoel Souto, 52 anos, Nézio, o coordenador do rancho de pesca da Lagoinha.

No ano passado, o dia reservou um lanço bom também, de três mil prateadas. E se na data de São Pedro o mar não estiver para peixe, o capitão Nézio atesta: as tainhas vão aparecer durante a festa dedicada ao santo, que ocorre todos os anos na Lagoinha. Este ano, o evento ocorrerá nesta sexta, sábado e domingo.

Continua depois da publicidade

— Por coincidência, nossos melhores lances sempre ocorreram nos fins de semana. E é batata: depois da missa de domingo, que ocorre durante a festa do São Pedro, elas aparecem — garante o pescador.

Aí será aquela coisa, como brinca o pescador mais antigo do rancho do Nézio, seu Jucélio Dutra, 71:

— Vai ser um pé na festa e outro na praia. Eu acho que nem vou sair do rancho, vou ficar por aqui esperando elas!

Ao que tudo indica, as preces dos pescadores estarão alinhadas com as condições meteorológicas previstas para Florianópolis. Segundo meteorologista da Epagri/Ciram Erikson de Oliveira, o vento Sul — tão importante para trazer as tainhas para costa — deve chegar à ilha entre a noite de sexta e madrugada de sábado. Nesta quinta-feira, o dia ainda estará quente e, talvez, as prateadas façam joguinho para entrar na baía.

Continua depois da publicidade

— Mas já na sexta à noite, e em todo sábado e domingo, teremos a presença do vento Sul, junto com uma frente fria que deve chegar à região com mais força no sábado. Vamos ter mínimas de 10°C e máximas de 20°C em Florianópolis — alertou o meteorologista.

Em busca de um lanço especial

Com muito orgulho, os pescadores da Lagoinha lembram-se de lanços extraordinários que ocorreram nos anos de 2008 e 2011, quando, de uma vez só, cercaram 19 mil e 33 mil tainhas, respectivamente. As proezas renderam até prêmios, como o Troféu Tainha daqueles anos.

— O dia de São Pedro é especial, porque ele é nosso padroeiro. Mas em todo dia de santo esperamos por algum lanço bom. Em 2011, foi no dia de São João, quando tinha um monte de gente em uma festa junina em Ratones. O vigia do rancho dos pescadores da Praia Brava avistou um cardume enorme passando, mas não tinha ninguém no rancho para cercar. Todos estavam na festa. Então, nós, que estávamos na praia, ficamos sabendo que as tainhas estavam próximas e nos jogamos no mar — relembra Nézio.

Continua depois da publicidade

Mesmo de madrugada, a comunidade inteira, cerca de 500 pessoas, apareceu para puxar as redes e claro, levar aquela tainha para casa.

Leia mais:

Pescadores do norte da Ilha contam história de lanço de 300 mil tainhas cem anos atrás