Esse será o primeiro ano que Vera Lúcia Pereira, 59 anos, irá passar longe da mãe. Dona Nida, 83 anos, é daquelas que recebe a família com a mesa repleta de delícias, pratos feitos com carinho para agradar os seis filhos e oito netos.

Continua depois da publicidade

– É estranho, a vontade de estar lá é grande, mas não posso arriscar.

Vera é a única filha mulher, trabalha na parte administrativa do instituto de cardiologia junto ao Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis, e por isso, está mantendo o distanciamento da mãe durante o período de pandemia. As visitas acontecem uma vez por semana, quando Vera leva as compras e os remédios para os pais, mas com todos os cuidados, já que Dona Nida fez recentemente uma cirurgia para a retirada de um melanoma no rosto.

Para suprir a falta de abraços e beijos, Vera conta que liga todos os dias para os pais.

– Ela cobra muito, ligo diariamente, agora de duas a quatro vezes por dia. Ela chegou a questionar em uma das ligações porque estava ligando tanto. Temos que explicar sempre pra eles, reforço diário, a cabeça deles é diferente. Acham que não correm risco porque sou filha, que não teria problema se aproximar.

Continua depois da publicidade

A ligação de Vera com a mãe é grande: foi ela que a ajudou criar o filho após o divórcio. Edelson Hames, o neto, também sente por não poder compartilhar do Dia das Mães com a vó.

Vera Lúcia com o filho Edelson e a mãe, Dona Nida.
Vera Lúcia com o filho Edelson e a mãe, Dona Nida. (Foto: Arquivo Pessoal)

– Passei sempre com ela essa data, almoço de família, com tudo feito por ela. Esse será o primeiro sem estar presente, sem poder sentar à mesa com eles e comer a comida que ela faz com tanto carinho sempre – diz o neto.

Essa não será a primeira data comemorativa que passam distante. Na Páscoa a reunião também precisou ser adiada.

– A vó fará 84 anos mês que vem, dia 24 de junho, mais uma data especial que se aproxima. Foi Páscoa, Dia das Mães e aniversário em breve. Isso é bem difícil. A gente fica mais emotivo nessas datas, principalmente depois que ela operou – finaliza o neto, que no domingo cedinho pensa em ir com a mãe preparar alguma surpresa para Dona Nida, já que não estarão presente no almoço.

Continua depois da publicidade

Tecnologia que aproxima mãe, avó e neto

A cabeleireira Maria Nunes, 65 anos, viu o primeiro neto nascer no meio da pandemia. A única filha, a jornalista Bárbara Nunes, 33 anos, deu à luz a Arthur no dia 6 de fevereiro. Nos primeiros dias acompanhou e ajudou nos cuidados com o bebê, mas estando no grupo de risco precisou se afastar assim que foi decretado o afastamento social no Estado.

Maria conhecendo o neto Arthur na maternidade.
Maria conhecendo o neto Arthur na maternidade. (Foto: Arquivo Pessoal)

A distância é encurtada com ajuda da tecnologia. Chamadas de vídeo fazem com que Maria acompanhe de perto o desenvolvimento do pequeno Arthur.

– Quando acordo, o primeiro olhar é para o celular. Ela faz vídeos e chamadas pelo FaceTime todos os dias. Fico que nem uma bobona fazendo careta e micagem, batendo palminha. É uma loucura, às vezes ele ri. Muito fofo! – diz a avó.

Maria conta que está sendo muito difícil ficar longe da filha nesse momento, que nunca imaginou que precisaria ficar longe, logo agora que planejava estar pertinho deles.

Continua depois da publicidade

– O que me consola é saber que a Bárbara cuida muito bem do bebê. Minha preocupação é mais com ela, que fica cansada. Mas ela está dando conta.

Bárbara também lamenta não ter a mãe todos os dias, mas destaca que está enfrentando a jornada da maternidade ao lado do marido, Felipe Franz Vieira, 34 anos.

– É claro que a gente liga, pede ajuda, entra no Google, mas no dia a dia é com a gente. A gente amadureceu muito, teve que aprender na prática – diz a mamãe do pequeno Arthur.

Bárbara e o pequeno Arthur de três meses.
Bárbara e o pequeno Arthur de três meses. (Foto: Arquivo Pessoal)

A maturidade do dia a dia também reflete na consciência para a importância do distanciamento nesse momento, inclusive no primeiro Dia das Mães junto de seu filho.

Continua depois da publicidade

– Vai ser uma data especial, mas é óbvio que gostaria de ter a minha mãe do meu lado aqui em casa. Mas a gente decidiu por esse afastamento por uma questão de cuidado um com o outro e de amor – finaliza Bárbara.

Mamãe de primeira viagem e presente on-line

Jaqueline Gonçalves Daroci, 34 anos, é mãe de primeira viagem. A comemoração do primeiro Dia das Mães não será como o esperado, reunida com a família, em Blumenau. Ela, o marido Diego Daroci, 35 anos, e a pequena Diana, de três meses, passarão o domingo em casa, por segurança.

– Esse Dia das Mães vai ser diferente, porque vai ser o meu primeiro como mãe. A gente não tinha se programado para essa data especificamente, porque é muita novidade com a chegada do bebê e a gente tenta viver cada etapa e cada momento, mas claro que vai ter aquela falta da família. Claro, sabemos que estamos com ela, mas sem poder abraçar ninguém.

Jaqueline, o esposo e a pequena Diana passarão o domingo em casa.
Jaqueline, o esposo e a pequena Diana passarão o domingo em casa. (Foto: Arquivo Pessoal)

A falta do afeto no toque e da presença física preocupa Jaqueline no crescimento e desenvolvimento da filha.

Continua depois da publicidade

– Realizamos muitas videoconferências com a família para mostrar como ela está. E, às vezes, eles questionam se ela não vai estranhar muito quando tudo isso passar, porque não tem tanto aquele contato pessoal. E bebê, principalmente, tem aquela necessidade muito grande de toque, de ser acariciado, eles vão muito pelas emoções básicas do tato, do olfato, do olhar, do carinho e do sentimento, que nesse momento está sendo só meu e do meu marido. Então, não sei se isso vai prejudica-la de alguma forma futuramente.

Em casa, com o marido, ela tenta suprir esse carinho. No domingo, ela irá preparar um almoço especial. O presente, que também é uma forma de carinho na data, chegou antecipado.

– O presente foi comprado on-line e já chegou. Ajudei na escolha, prefiro assim para não ter erro – confessa Jaqueline.

Rotina alterada para ficar presente com a família

A enfermeira Renata Maestri, 32 anos, tem dois filhos: Enzo, 10 anos, e Pedro Jorge, seis. Ela atua na Maternidade Carmela Dutra, referência no atendimento de Covid-19 na área de ginecologia e obstetrícia, em Florianópolis. Por isso, Renata está muito atenta com os cuidados para se manter presente junto dos filhos.

Continua depois da publicidade

​:: Em site especial, saiba tudo sobre o coronavírus

Nos primeiros 30 dias de quarentena ela se manteve afastada, mas após perceber que a situação demoraria muito para normalizar, precisou organizar a rotina para ficar menos tempo no ambiente hospitalar.

Renata e os filhos, Enzo e Pedro Jorge.
Renata e os filhos, Enzo e Pedro Jorge. (Foto: Arquivo Pessoal)

— Comecei a fazer trocas de plantão para fazer um seguido do outro para folgar e ficar mais tempo com eles e também com a minha mãe, que é do grupo de risco. Por estar trabalhando no hospital, não fico o tempo todo abraçada, não beijo tanto. Antes de beijar e abraçar tomo todos os cuidados: tomo banho, troco de roupa, passo álcool na mãos e estou o tempo inteiro fazendo a higienização para poder ter esse contato com eles. Além do uso da máscara – conta.

A mudança na postura diante da pandemia aconteceu no final de março, quando o filho mais velho completou 10 anos.

– Foi aí que tomei essas atitudes para conseguir ficar mais tempo com eles.

No domingo, ela estará com os filhos e também com a mãe com todo cuidado e carinho que tem tido até agora.

Continua depois da publicidade

Perto, mas mantendo os cuidados básicos e a distância

A médica endocrinologista Maria Isabel Vieira Cordioli, 37 anos, vai seguir as regras de distanciamento, mesmo não estando trabalhando na linha de frente no combate ao coronavírus. Com três filhos pequenos, Pedro, seis anos, Sofia, dois anos e o mais novo, André com apenas quatro meses, ela está triplicado a atenção durante o período da pandemia. Junto ao marido, Júlio Cordioli, 42, criou uma forma de manter as crianças perto das avós, alternativa que será usada também no domingo.

Maria Isabel reunida com a família.
Maria Isabel reunida com a família. (Foto: Arquivo Pessoal)

– O Dia das Mães desse ano será realmente bem diferente. Ao contrário dos anos anteriores em que eu passava na casa da minha mãe com meus filhos, ela virá até a minha casa para fazermos mais um dos cafés que temos feito nessa quarentena no jardim da minha casa, sem abraço apertado, sem beijo. Temos feito isso há algumas semanas para aliviar a saudade e para que ela possa acompanhar o desenvolvimento dos netos, que crescem rápido demais.

A ideia do café com os avós surgiu em meados de abril, no aniversário do filho mais velho. A mãe de Maria Isabel fez um bolo para o neto e queria estar presente nos parabéns. Para continuar seguindo as determinações dos órgãos de saúde e para preservar a saúde de todos, uma mesa foi montada no jardim eles puderam curtir a festinha com alguns metros de distância.

Os encontros reúnem os avós, mas com o distanciamento necessário para preservar a saúde de todos.
Os encontros reúnem os avós, mas com o distanciamento necessário para preservar a saúde de todos. (Foto: Arquivo Pessoal)

– As crianças já aprenderam que não podem abraçar e ficar muito perto e se contentam em contar histórias para os avós, mostrar as habilidades nas brincadeiras no jardim e mandar beijos de longe.

Continua depois da publicidade