A casa de Nivaldo Klein, 58 anos, parece um paraíso para qualquer criança: os mostruários na parede, cristaleiras, mesas e balcões estão cobertos de miniaturas de veículos e estruturas ferroviárias. Mas esse mundo mágico é só para olhar. Não dá para tocar em nada. Isso porque o ferromodelista é ciumento e as peças não são brinquedo.
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– Criança é assim mesmo. Quando você proíbe de mexer, aí que ela tem mais interesse. Quando meus dois filhos eram pequenos, eu usei uma tática e avisei que era para ter cuidado. Por isso eles nunca mexeram – conta.
Como todo colecionador que se preze, Nivaldo é extremamente cuidadoso e tem na memória a história de cada um dos 520 itens carinhosamente guardados. A relação afetiva com o ferromodelismo vem desde a infância em São Paulo, onde morou durante 13 anos.
– Como minha família não tinha poder aquisitivo, eu via as outras crianças brincarem e não podia comprar. Deve ser uma demanda reprimida – brinca.
Hoje aposentado, ele dedica boa parte do tempo à coleção e sabe de cor quando e como comprou cada uma das peças. A primeira compra foi em 1981, assim como o contato com os outros apreciadores das miniaturas. Desde então, Nivaldo não parou mais. Naquela considerada por ele como “a grande loucura”, comprou todo o lote de um ferromodelista que estava se desfazendo do hobby. Nivaldo também viajou para encontros de colecionadores pelo interior de São Paulo e reuniu peças separadas para montar um trem único e exclusivo.
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Foi ainda membro da extinta Associação de Modelismo de Joinville, mas hoje não sabe se há outros ferromodelistas na cidade. A coleção não está aberta ao público para visitações: é exclusividade de Nivaldo e dos filhos Francisco Ricardo e Paulo Henrique, que herdaram do pai o gosto e o ciúme pelos objetos. Além dos veículos e vagões, outros itens da coleção de Nivaldo são os dioramas de estações ferroviárias do País, incluindo um de Joinville que retrata a atual Estação da Memória em 1906, 11 anos antes da grande ampliação. Os detalhes impressionam.
– Quem monta sempre vai ao local, levanta o projeto e reproduz com fidelidade, desde altura das portas, janelas até a largura dos trilhos – explica.
No meio da pomposa coleção, Nivaldo só lamenta não poder comprar uma maquete completa.
– Como temos esse respeito com as dimensões, ela não caberia em lugar nenhum aqui em casa – diz.
O ferromodelista também abandonou os encontros e reduziu o volume de compras de anos anteriores, até porque nem sabe quanto já investiu nas peças.
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– Hobby é algo que custa caro, então, chega o momento da vida em que você precisa fazer uma opção.
Ainda assim, é com orgulho que Nivaldo mostra o resultado de quase 30 anos de dedicação.