Os agricultores familiares se uniram aos caminhoneiros nos protestos que estão parando o país. Segundo a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado de Santa Catarina (Fetaesc), o grupo representa 94,5% dos agricultores de SC. José Walter Dresch, presidente da federação, que é composta por 201 sindicatos e 300 mil trabalhadores filiados, explica por que a categoria também decidiu parar as atividades.

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Diário Catarinense – Por que os agricultores decidiram apoiar os caminhoneiros?

Dresch – Nós íamos apresentar nossa pauta em abril e cobrar em maio, mas certamente o descontentamento, o sentimento de não ser atendido pelos governos é muito forte no meio rural. Aí nossos agricultores foram pra rua junto com as pessoas que lá estavam. Nós estamos vivendo um período em que as pessoas não aguentam mais. E nesse sentimento elas vão pra rua, se mobilizam.

DC – Quais as principais reivindicações dos agricultores?

Dresch – Nossos agricultores, especialmente da região Oeste, sofrem com a falta de energia, com altos tributos na produção e o não cumprimento de promessas que vem se reprisando há anos. Nós já falamos isso no Grito da Terra de maio de 2014. Falta infraestrutura, as estrada estão cheias de buraco, tem falta de energia elétrica, falta de comunicação no meio rural e falta renda.

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DC – Como a falta de infraestrutura prejudica o agricultor?

Dresch – Se você sair de qualquer cidade do interior do estado de Santa Catarina, em dois quilômetros já está sem condição de se comunicar por que não tem sinal de celular. Não tendo telefonia fixa no meio rural, certamente não tem internet. E as pessoas que moram lá, principalmente nossa juventude, estão deixando mais de 30 mil propriedades sem sucessor ou com a sucessão ameaçada. Foram buscar, no mínimo, duas questões: renda e condições de vida digna. Em pleno 2015 é impossível um jovem não se comunicar com o mundo.

DC – E o aumento dos combustíveis?

Dresch – O combustível é utilizado diariamente pelos agricultores e em alguns casos até onde ele não devia usar: para alimentar geradores de energia elétrica no momento das quedas. Tratores, equipamentos agrícolas tudo isso depende desse combustível, que está aí em discussão agora.

O acesso às propriedades dos agricultores, as estradas estaduais e federais cheias de buracos, os pedágios, tudo isso é incluído no custo do frete, que vai para o custo de produção. Diminui o ganho dos nossos agricultores. Por que será que o litro de leite [para o produtor] caiu de R$0,99 centavos para R$0,75 de um janeiro para outro janeiro, em um ano, quando o custo de produção aumentou? A indústria teria que se posicionar. Até o momento eu só vi a agroindústria dizer que vai perder leite, vai ter problema com o frango e o suíno. E qual é a posição da indústria? Ela concorda com o aumento da energia, do frete?

DC – Em mais de uma semana de protesto, é possível mensurar o prejuízo para o agricultor?

Dresch – O protesto traz prejuízo para todas as categorias e para a sociedade de maneira geral. Ninguém está parado lá porque gosta. Não é possível mensurar. Essa semana que ficou parada deve ter alguns casos isolados de perda de produto. Mas é preciso ser levado em consideração aquilo que ele deixou de ganhar ao longo de um ano.

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DC – Vale a pena continuar parado?

Dresch Nós continuamos onde estiverem os trabalhadores, esse é o nosso compromisso. Não estamos recomendando a continuidade da greve. Estamos recomendando a mesa de negociação. A greve não deveria nem ter acontecido. Precisa as nossas autoridades terem a sensibilidade. É fazer uma agenda de negociação e dizer o que é possível e o que não é possível.