Como foi taticamente o 6 a 1 da Nigéria sobre o Taiti não importa aos brasileiros. Talvez não seja vital sequer para os taitianos, nigerianos ou para o resto do mundo. Agora, o que ocorreu antes, durante e depois do jogo no Mineirão é um fenômeno único e que terá um lugarzinho agradável na história. Definitivamente não foi um jogo de futebol comum. Foi diferente dentro e fora de campo. Esqueça tudo o que o torcedor brasileiro aprendeu no centenário ato de ir aos estádios.
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Começou pelo acesso à partida. Absolutamente regrado e limitado: ou tinha ingresso, ou não chegava perto do Mineirão num perímetro de três quilômetros. Nada de ambulantes, cambistas e confusão. Aliás, para chegar ao estádio pertinho dos portões só nos ônibus especiais. Quem veio de carro estacionou longe e caminhou bastante. Era muito mais negócio vir no transporte coletivo que saía de vários pontos de Belo Horizonte. Nada, portanto, dos famigerados “latões” evitados em grandes eventos.
Segurança? Duas revistas, uma antes de chegar ao estádio, outra para entrar no portão principal. Inexistia a preocupação com a carteira no bolso. Torcer unido, atleticanos e cruzeirenses em paz, também fez parte do ambiente sui generis. Todos num só ideal: ser feliz no modo Taiti de jogar bola, sem compromisso.
Até o tão inexpressivo e sem carisma Fuleco, mascote sem graça da Copa, ganhou carinho. O atleticano Clemilton Souza e o cruzeirense Liomar Resende deram o tom.
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– Pessoalmente o boneco até fica simpático – brinca Clemilton.
– Somos todos Taiti hoje – completa Liomar.
O primeiro gol que o Taiti levou, num bate rebate que envolveu até o árbitro, passando por dois jogadores seus até cair dentro do gol provocou risos na torcida. E aplausos e gritos de incentivo. Então, aplausos e não vaias para o time que você está torcedo, fora do comum.
No segundo gol, saída de bola quase infantil, mais olhares compreensivos. No terceiro, a falha amadora do goleiro, um certo olhar de pena.
Aquele torcer sem ansiedade e sem nervosismo fez bem ao público no Mineirão. O estádio não lotou, mas os quase 20 mil presentes vibravam com fervor em ataqus mal construídos do Taiti. E secavam os ataques um pouco mais com cara de futebol dos nigerianos.
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Um público que levou como lição a certeza de que o futebol também serve para diversão, não só para ser um espetáculo técnico, tático, tenso, valendo fortunas e com ambição desmedida.
Um momento marcante: o placar registrava 3 a 0 e o Taiti achou uma rara chance de gol. O estádio, em peso, entoou: “Ô, ô, ô… o Taiti voltou…”
E a apoteose: no início do segundo tempo os taitianos responderam ao incentivo com um gol. O Mineirão explodiu em alegria, diferentes nações e interesses clubísticos se abraçando, e a remada de Jonhatan Tehau na comemoração, alusão a canoagem polinésia. O quarto, quinto e sexto gols da Nigéria? Esses passaram quase despercebidos, incomodaram somente o responsável por carregar os dados do placar eletrônico.
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Torcer por torcer, num estádio moderno, e rir de tudo e de todos. Os mineiros que vieram ao Mineirão, literalmente, desestressaram geral. E lançaram ao Brasil o lado gauche do futebol, versão saudável, segura e divertida de entender o esporte.
FICHA TÉCNICA
TAITI 1X6 NIGÉRIA
Local: Mineirão, em Belo Horizonte (MG)
Data-hora: 17/06/2013, às 16h (de Brasília)
Árbitro: Joel Aguilar (ELS)
Auxiliares: William Torres (ELS) e Juan Zumba (ELS)
Público: 20.187 presentes
Gols: Echiéjilé (4’/1ºT), Oduamadi (9’/1ºT), Oduamadi (30’/1ºT), J. Tehau (9’/2ºT), J. Tehau (contra, 23’/2ºT), Oduamadi (30’/2ºT), Echiéjilé (35’/2ºT)
Cartões amarelos: Omeruo (NGR)
Cartões vermelhos: não houve
TAITI: Samin, Simon (Lemaire, 33’/2ºT), Vallar (Faatiarau, 7’/2ºT) , Ludivion e Vahirua (Atani, 24’/2ºT); J. Tehau, Bourebare, Caroine e A. Tehau; Chong Hue e Aitamai. Técnico: Eddy Etaeta
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NIGÉRIA: Enyeama, Oboabona, Ambrose, Omeruo (Egwuekwe, 29’/2ºT) e Echiéjilé; Mikel, Ogude, Oduamadi, Mba (Ogu, 12’/2ºT) e Musa; Ujah (Ideye, 6’/2ºT). Técnico: Stephen Keshi