Ônibus e ruas vazias, lojas fechadas: a Nicarágua acordou paralisada nesta sexta-feira (13), em meio à greve geral decretada pela oposição para exigir a saída do presidente Daniel Ortega, que, em resposta, mobiliza seus partidários para marcharem até Masaya, a cidade mais rebelde do país.
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Esta segunda greve geral de 24 horas começou na madrugada desta sexta, à 0h00 local (3h no horário de Brasília), convocada pela Aliança Cívica para a Democracia e a Justiça, coalizão da oposição que inclui setores da sociedade civil. Um primeiro movimento social idêntico bloqueou o país em 14 de junho.
“Esvaziamos as ruas para mostrar que não queremos mais repressão e que queremos que eles vão embora”, lançou a oposição no início da mobilização, referindo-se ao casal presidencial Daniel Ortega e Rosario Murillo, que além de primeira-dama também é vice-presidente.
Segundo a oposição, a greve tem 90% de adesão, mas a mídia estatal indica normalidade em algumas zonas de comércio. No Mercado Oriental, o maior – de aproximadamente 20.000 estabelecimentos -, está escuro e praticamente fechado.
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Na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN), no sudoeste de Manágua, forças ligadas ao governo atiraram contra estudantes entrincheirados no local.
“Por favor, nos ajudem. Estamos sós” – pediram os estudantes na UNAN em vários vídeos nas redes sociais, nos quais são ouvidos tiros.
A greve geral faz parte de uma série de ações de três dias lançada pelo campo anti-Ortega para reforçar a pressão sobre o governo.
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Apoiadores de Ortega partiram de Manágua a bordo de centenas de veículos e motocicletas, balançando bandeiras rubro-negras da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, esquerda), em direção a Masaya, 30 km ao sul.
“Queremos demostrar força, que o FSLN não está enterrado e continua forte”, declarou AFP Carlos López, de 57 anos.
Ambas as ações acontecem em meio a temores de escalada da violência que deixou cerca de 270 mortos e 2.000 feridos em três meses de protestos contra o governo.
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Na véspera, um mar azul e branco – as cores da Nicarágua – invadiu as ruas da capital e de outras cidades. Confrontos durante uma marcha a Morrito, no sudeste do país, deixaram cinco mortos: quatro policiais e um manifestante.
A polícia prendeu nesta sexta o líder camponês Medardo Mairena, um dos delegados opositores no diálogo com governo, acusado por essas mortes do sudeste do país.
“Foi capturado o terrorista Medardo Mairena quando pretendia fugir do país (…) Ele é o responsável direto pelo massacre e assassinato por quatro companheiros policiais e o professor de escola primária” na quinta-feira, anunciou a chefe de relações públicas da Polícia Nacional, Vilma Rosa González.
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– Sete países da OEA pedem eleições antecipadas –
Em reunião nesta sexta-feira, em Washington, sete países da Organização dos Estados Americanos (OEA) apresentaram um projeto de resolução que exorta Ortega a fortalecer as instituições democráticas e a apoiar as eleições antecipadas propostas pela oposição.
Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Peru e Estados Unidos revelaram a iniciativa durante sessão do Conselho Permanente da OEA, que reúne os 34 países membros ativos do organismo.
O texto, que deverá ser analisado nos próximos dias, precisa de 18 votos para ser aprovado.
“Esta resolução pede um calendário eleitoral para que possam acertar na Nicarágua os temas para uma possível eleição”, disse à imprensa a embaixadora argentina, Paula María Bertol, que leu o texto durante a sessão do Conselho Permanente.
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“A Carta da OEA fala em não ingerência, mas também em conservar a paz e a democracia no continente”.
O projeto de resolução reafirma a “enérgica condenação” e a “grave preocupação” com a violência documentada pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH), que na quarta-feira assinalou o agravamento da repressão aos manifestantes.
A Igreja Católica, mediadora do diálogo, propôs antecipar as eleições de 2021 para 2019, o que foi rejeitado por Ortega.
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Os adversários de Ortega pedem justiça, eleições antecipadas, ou a saída do presidente, acusado de repressão durante os protestos e de ter instaurado, com sua mulher, uma “ditadura” marcada pela corrupção e pelo nepotismo.
O país mais pobre da América Central registra manifestações de amplitude histórica contra Daniel Ortega, ex-guerrilheiro de 72 anos. Ortega está no poder desde 2007, depois de uma passagem de 1979 a 1990. Segundo a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH), pelo menos 264 pessoas morreram desde 18 de abril.
* AFP