A neve que tingiu Santa Catarina de branco esta semana nunca foi registrada de forma oficial em tantas cidades ao mesmo tempo. Mas é por outro motivo que o fenômeno ficará guardado para sempre na história de Santa Catarina: a forma como os flocos de gelo nasceram na atmosfera, em uma formação considerada rara pela meteorologia – a friagem.

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O mais comum é a neve nascer do encontro de dois ciclones, um no sentido horário – mais úmido, que vem do oceano Atlântico – e outro no sentido antihorário – mais seco e mais frio, que vem de países como Argentina e Uruguai. Mas desta vez, outras situações atmosféricas provocaram o fenômeno.

Tudo começou por causa de uma frente fria estacionada entre a costa de São Paulo e o noroeste do Rio Grande do Sul. A chegada de um ar mais gelado vindo da Argentina instabilizou a atmosfera e formou nuvens de gelo, que deram início ao fenômeno na segunda-feira. Somente 8% das nevadas se formam assim.

Essa formação é o que explica, também, o fato da neve ter caído em menor quantidade, mas espalhada pelo Estado – 107 municípios registraram o fenômeno, segundo a Epagri/Ciram. Em 2010, quando 23 cidades foram atingidas, a espessura da neve era maior porque a formação ocorreu do método tradicional, do cruzamento de dois ciclones.

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Segundo o pesquisador Alexandre Aguiar, sócio-diretor da MetSul Meteorologia, há pelo menos 30 anos não se via um fenômeno assim.

– Essa semana foi completamente atípica. Foi um aprendizado para qualquer um que trabalha com meteorologia. É o fenômeno mais incrível no Sul do país desde as enchentes de 2008 – explica.

Doutora em meteorologia, a pesquisadora Márcia Fuentes, explica que o Estado já viu outros dois momentos com formação similar, mas não tão intensa: de 1970 a 1975 e no ano 2000. No primeiro período, nevou cinco vezes em cinco anos. Mas como existiam poucas estações meteorológicas na década de 70, o registro feito pelos órgãos não chegou nem perto do que ocorreu neste ano.

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– Agora, as redes sociais e a fotografia digital têm papel fundamental para a meteorologia. As informações chegam com rapidez e podemos deslocar os observadores para outros lugares. Checar os fenômenos é mais fácil – diz Márcia, que pesquisa todos os registros de neve na região Sul do Brasil ocorridos desde 1948.

Hoje, a Epagri tem cerca de 200 estações que medem fatores como ventos, temperatura e radiação e pelo menos 15 pontos de observação de fenômenos meteorológicos.