O barulho de água corrente que abre a primeira faixa não é ao acaso. Serenoato, disco de estreia do Projeto Dragão, apresenta-se como barco que navega pela poesia de seu capitão, Nenung. Mas, para quem conhece o músico de outros projetos, vale o alerta: aqui, ele está mais para caçador de Moby Dick do que para gondoleiro.
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A diferença começa pelo instrumental. Se n?Os The Darma Lóvers a pegada era mais melódica e pop, no Projeto Dragão o peso se faz presente – cortesia da excelente banda de rock formada por Maurício e Gustavo Chaise (guitarras), Thiago Heinrich (baixo e órgão), Rafael Bohrer (bateria). A mensagem também é outra:
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– Como artista, acredito que a arte tenha que fazer a diferença na vida das pessoas. Com Serenoato, procurei provocar o ouvinte, fazer questionamentos que considero oportunos – explica.
As provocações, às vezes, estão explícitas, como o hard rock Quem Serve a Quem (“Se o dinheiro existe para nos servir/ Como se explica tanta servidão a ele”) e a folk Maque Dia Feliz (“30 toneladas de lixo ao dia/ Pra vender mentiras com pão/ O palhaço ri, mas é tão sem graça/ Me sinto mal só de ouvir: Maque Dia Feliz”).
Às vezes, porém, podem estar nas entrelinhas da delicada Espelho (“Me reconhecer no que vejo em ti/ Deixar de ficar preso em mim”, uma reflexão sobre as redes sociais?) ou da funkeada Houve 1 Tempo (“Houve um tempo em que se faziam pontes/ E se costuravam noites na borda clara do dia/ E o sentido da vida era a vida ser sentida”, Nenung em seu melhor momento).
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Serenoato é também o lugar para canções de Nenung que não caberiam em outros artistas – ele, inclusive, resgatou Meu Amor se Mudou pra Lua, gravada por Paula Toller em 2007.
– Acho que a versão do Projeto Dragão ficou mais próxima do jeito que deveria ser. A própria Paula aprovou – diz. – É uma música que casa bem com essa ideia de álbum que nós queríamos, um disco que não é fragmentado, que faz sentido ser ouvido do começo ao fim.
Não por acaso, Bebê Baleia encerra a navegação. Dá-lhe, Capitão Ahab!