O Sindicato das Empresas do Transporte Público (Setuf) emitiu nesta sexta-feria uma nota em sinal de repudio à paralisação do transporte coletivo, que ocorreu na quarta-feira, na Grande Florianópolis. O Setuf considerou a suspensão dos serviços, em apoio à greve dos trabalhadores da saúde, “um ato irresponsável que deve ser criminalizado”. Na nota, o Setuf responsabiliza o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Urbano, Rodoviário, Turismo, Fretamento e Escolar de Passageiros da Região Metropolitana de Florianópolis (Sintraturb); e isenta motoristas e cobradores. O Setuf promete acionar juridicamente o Sintraturb pela atitude considerada pelas empresas como desprezível.

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O diretor do Sintraturb, Ricardo Freitas diz que a possibilidade de novas paralisações existe toda vez que uma situação de relevante interesse público estiver em jogo, como é o caso da saúde pública.Confira a entrevista com o sindicalista:

Diário Catarinense – Faz sentido a população ficar com o serviço de transporte suspenso por apoio a uma greve que já penaliza o cidadão como a da saúde?

Ricardo Freitas, diretor do Sintraturb – A população é diariamente penalizada em praticamente todos os serviços públicos sucateados, consequentemente ineficientes e que não atendem aos interesses de quem mais deles necessita. A saúde do povo, no que depende do setor estadual, é de péssima qualidade, independentemente de greve dos seus servidores (as). As greves, além de servirem para atender reivindicações imediatas de trabalhadores organizados política e sindicalmente, têm servido par colocar a nu a realidade desses serviços. Só não enxerga quem não quer.

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DC – O Sintraturb teve a mesma atitude solidária quando os motoristas e cobradores estavam em perigo durante a onda de ataques?

Freitas – O Sintraturb esteve junto com a categoria que representa desde o primeiro ataque aos ônibus. Nós estávamos o tempo todo, inclusive durante o feriado e final de semana, nas garagens nos terminais. Participamos de inúmeras reuniões com o alto comando da PM/SC, inclusive com o governador do Estado.

DC – Mas houve uma atuação concreta?

Freitas – A partir do feriado de 15 de Novembro, exigimos que todas as linhas se tornassem circulares (sem permanência em pontos finais nos bairros e parada apenas nos terminais), que os cobradores ficassem fora das catracas (para não se colocarem de costas para as janelas) diminuindo sua exposição a risco, que os motoristas fossem liberados pela Policia Rodoviária do uso do cinto de segurança (garantindo mais facilidade de abandono do veículo), que não fossem colocados policiais dentro dos ônibus, por razões óbvias; formação de comboios de, no mínimo, três veículos com escolta da PM para determinadas regiões e linhas.

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DC – A população não percebeu esta atuação de vocês.

Freitas – Lamentavelmente, a imprensa não cobriu devidamente este trabalho do sindicato e, certamente, o cidadão questionador não usa ônibus, pois se o fizesse, teria visto nossa atuação, inclusive entrando nos veículos e solicitando que a população tivesse paciência com os atrasos, enquanto se esperava o retorno das viaturas da PM para realizar as escoltas a partir do Ticen.

DC – Até quando população da Grande Florianópolis irá ficar refém de sindicatos que de uma hora para outra (sem avisar os usuários) suspendem serviços básicos como o transporte coletivo?

Freitas – Quem faz refém é bandido e em nenhum sindicato tem bandido, muito menos no Sintraturb. A população ficou refém foi dos ataques, que todos sabemos, ser o fruto de décadas de descaso, omissão, corrupção e falta de politica pública séria por parte de todos governos estaduais que se sucederam.

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DC – Podem os usuários dos ônibus ficar preparados para novas paralisações de outras categorias?

Freitas – A unidade dos trabalhadores e a solidariedade de classe são conquistas históricas. Lamentavelmente, no Brasil, isso praticamente não existe. Toda vez que uma situação de relevante interesse público estiver em jogo, e a saúde pública é uma delas, exigir medida que chame a atenção, faremos a nossa parte.

DC – O Sintraturb não está se metendo em outra seara?

Freitas – Outra seara? É ridícula essa dicotomização de questões umbilicalmente ligadas e interdependentes. Nós dependemos do SUS, nós sofremos a precariedade do atendimento, as filas de espera por consultas, exames e cirurgias, para citar só três exemplos. E isso não ocorre por conta da legítima greve do pessoal da saúde. Isso é a característica da saúde pública.

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DC – Houve alguma assembleia para discutir a paralisação na quarta-feira?

Freitas – Não devemos explicações sobre nossas formas de organização e processo de definições de nosso movimento. Discutimos na base nosso apoio ao movimento dos trabalhadores da saúde, distribuímos o informativo O Rodão (tiragem extra) nas portas de todas as garagens na madrugada do dia da paralisação. Orientamos nossos (as) representados(as) a responderem que não sabem de nada para se protegerem das retaliações patronais.