A moda funciona mais ou menos como uma eficiente máquina do tempo. Vai e volta nos anos, abusando dos benefícios que a tecnologia trouxe para a indústria na criação de cortes, estamparias e modelagens, ao mesmo tempo em que resgata o que houve de melhor em décadas que há muito se foram. Sendo assim, vez ou outra o baú da vovó, aquele empoeirado e trancado no quartinho da despensa, pode ser uma ótima fonte de renovação do closet.
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Os sapatos de couro pouco usados, as bolsas com alça de correntes dos anos 1950, as camisas de seda, as rendas, as joias. Tudo isso um dia integrou o guarda-roupa dela e bem que poderia figurar entre os queridinhos de uma moçoila antenada de hoje. Pois não é à toa que alguns fashionistas trocariam sem hesitar a coleção de um estilista atual pelo guarda-roupa da avó estilosa.
Nos últimos anos, vimos desfilar pelas passarelas mais importantes releituras de quase todas as épocas passadas, de 1920 aos recentes 1990 – e inclua aí os tresloucados anos 1980, amados por uns e odiados por outros, pelo menos no quesito moda.
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– Já vimos a moda resgatar várias vezes as mesmas décadas com diferentes interpretações. E é assim que ela se reinventa – avalia a consultora de moda Ana Paula Lima.
A última da tal máquina do tempo foram as saias esvoaçantes na altura do tornozelo e de cintura marcada emprestadas dos anos 1950 e desfiladas pela Louis Vuitton, Ralph Lauren e Diane Von Furstenberg nas semanas de moda de Paris e Nova York.
O shape dos anos 1950 chegou até a ser chamado de “novo comprimento” por algumas publicações, embora de novo não tenha nada. Pouco depois, a nova velha mania já se apresentava nos tapetes vermelhos, com sucesso de crítica. Não há dúvidas de que o passado esteja entre as maiores fontes de inspiração dos criadores. E, mais do que fonte de inspiração, para Ana Paula, ele chega a ser até mesmo fonte de renovação. “As formas e as tendências voltam, mas mais atuais e modernas que na época original e, assim, viram novidade.”
Se a moda é cíclica, como dizem alguns especialistas, Ana Paula há de ter razão. E algumas fashionistas mais apegadas ao passado que ao presente também. Esse grupo daria o reino por um vestido com cheirinho de naftalina. Por nada nesse mundo trocaria uma rendinha desgastada dos anos 1920 ou um par de óculos dos anos 1950 por modernidades futuristas, estampas digitais, cortes a laser.
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Esse tipo que não resiste a uma velharia você encontra na internet – tanto apego ao retrô tinha que ganhar seu toque de modernidade, afinal -, escondido nos quartos das avós, vasculhando armários, baús e gavetas, e enfiado em brechós, concentrado para não perder nenhum bom achado.
Para essas blogueiras, é a roupa com história que lhes prende a atenção. A maioria delas ostenta páginas virtuais que poderiam pertencer a uma verdadeira pin-up dos anos 1950 ou a uma elegante senhora dos 1940. Como a página da fashionista vintage Natasha Bailie, 26 anos, cujo site, que leva seu nome, virou referência na web para as pin-up modernas.
– Eu adorava assistir a filmes como Alta Sociedade e Cantando na Chuva. Adorava a atmosfera, os romances, o glamour e, claro, os vestidos. Comecei a colecioná-los e, hoje, eles são mais da metade do meu guarda-roupa – confessa Natasha.
Se “metade” parece suficiente para Natasha, para a blogueira Jennifer Siggs, 25, do blog Yesterday Girl, não.
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– Com certeza 95% do meu closet é vintage. Acho que só meus pijamas e roupas velhas de ficar em casa escapam da conta – brinca.
A paixão pela moda com cara – e data de fabricação – antiguinha começou como um protesto fashion contra o ritmo frenético de atualização das tendências.
– Costumava gastar muito dinheiro em roupas quando era adolescente, e percebi que usava cada uma delas duas ou três vezes porque depois ela saíam de moda. Fiquei entediada com essa coisa de seguir tendências e fui buscar meu estilo nos clássicos.
Hoje, nada melhor do que olhar-se no espelho vestida num original dos anos 1950.
– Não há sentimento como o de quando você veste um vestido vintage que lhe cai perfeitamente. Não me lembro de me sentir assim com nenhuma outra roupa atual. Além disso, é algo que você tem para sempre – descreve Jennifer.
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Os anos 1950 são a grande paixão da maioria dessas meninas. Seja pelos vestidos marcados na cintura com saias amplas e busto ajustado ou pelo jeans, que nessa época passou a ser usado no dia a dia e não somente como uniforme de trabalho.
– Acho que essa década tem uma identidade fashion bastante forte – opina Jennifer. “Foi um retorno à feminilidade depois das privações da Segunda Guerra, e tem o shape que mais valoriza o corpo feminino – acrescenta Gemma Seager, outra blogueira, dona do Retro Chick.
Os anos 1940, pela elegância e vaidade das mulheres, ainda que sob racionamento pesado em função da Segunda Guerra Mundial, no entanto, também estão entre os favoritos de algumas fãs do vintage, embora mais difíceis de encontrar em boas condições de conservação pelos brechós e baús abandonados.
– Os 1940 são uma fonte de inspiração: o esforço de se arrumar, de se maquiar e de pentear os cabelos mesmo sob toda aquela dificuldade. Toda mulher deveria ter um pouco disso – complementa Jennifer.
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Para se jogar na aventura, invista nos clássicos que viraram ícones das décadas. Só tome cuidado para não ficar com cara de quem acabou de sair de uma máquina do tempo. Use sempre uma peça atual no look. Aí não fica caricato.
O passado na web
A internet mal dava sinais de que viria a existir quando as lojas exibiam nas vitrines os vestidos que essas meninas cobiçam hoje em seus blogs de estilo vintage. Separamos alguns que valem uma visita.
http://blog.natashabailie.com/
:: Natasha Bailie, a dona do blog, é uma aficionada pelas décadas de 1940, 1950 e 1960, mas não se aproveita do gosto pelo passado apenas para incrementar o próprio estilo. Além do blog, mantém uma loja virtual onde vende vestidos, blusas e saias inspirados no estilo original de cada década. As aficionadas por brechós e baús da vovó como as blogueiras entrevistadas nesta matéria aprovam.
:: O Queens of Vintage é uma espécie de revista eletrônica para as moças que não se contentam em viver apenas o presente. Tem desde dicas de decoração retrô, entrevistas com pin-ups modernas, dicas de estilo e de lojas, ranking com as “rainhas do vintage” mais estilosas e até tutoriais de amarração de lenços, costura, como transformar peças do seu guarda-roupa, etc.
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:: Anúncios dos anos 1930 e 1940, sapatos como os originais dos anos 1940 por 40 libras, penteados e achados vintage. Com carinha de passado moderninho, o blog Diary of a Vintage Girl (Diário de uma garota vintage, em tradução livre) é uma bela visita para os dias em que as referências atuais parecem não bastar na hora de montar o look. Pode adicionar nos favoritos.
http://vintagesecretblog.blogspot.com/
:: Sabe aquelas fotos um pouco amareladinhas, cheias de gente que provavelmente nem vive mais, mas que esbanja estilo nas montações? O avô de terno cáqui, a avó com um vestido rodado superatual e a bisavó arrasando nos cachinhos? O Vintage Secret Blog tem essa atmosfera, com a diferença de que as pessoas nas fotos são todas nascidas lá pelos anos 1980 mesmo. Uma ótima fonte de inspiração, mesmo para quem não gosta de retrô.
http://jennyjenny-yesterdaygirl.blogspot.com/
:: Entrar no blog de Jenny é quase como visitar a página de uma autêntica pin-up. Dos penteados encaracolados e presos em coques ao desenho das sobrancelhas à Dita Von Teese e o batom vermelho, tudo por lá cheira a passado. Passado esse bastante estiloso, por sinal. Jenny publica fotos dos seus looks, dicas de decoração vintage, achados em lojas virtuais. Um verdadeiro guia para quem tem uma queda pelo retrô.
http://beautyisathingofthepast.blogspot.com/
:: Se é uma delícia procurar inspiração nas roupas de outrora, imagine então buscá-la nos penteados, cortes de cabelo e maquiagens da era do rouge e do carmim? Essa é a proposta do Beauty is a thing of the past (Beleza é uma coisa do passado, em tradução livre) – um apanhado de revistas amareladas e fotos de celebridades com dicas de como conseguir “cachos românticos”, desenhar as sobrancelhas ou cortar o próprio cabelo.
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:: O Modern Vintage Girl é a terceira investida da britânica Angel Cutsforth no mundo dos blogs e expressa, segundo a própria, seu “caso de amor com a moda vintage”. No blog, dá para conferir a lista de compras para o Natal, o recente amor da blogueira por chapéus e casquetes de todos os tipos, vestidos e mais vestidos – preferência número um no guarda-roupa – e sapatos, tudo comprado pela web.
:: Segundo a autora, o Retro Chick é “uma forma de compartilhar sua paixão por roupas bonitas com o mundo” e “fazer com que roupas de décadas passadas funcionem todos os dias”. Gemma Seager, que assina o site, vive entrando de portinha em portinha nos brechós menos badalados atrás de bons achados vintage. O site é também uma loja virtual de roupas novas inspiradas nas originais do passado.