O que mudou desde que você começou a negociar até hoje?
Os negociadores amadureceram, porque isso não é uma disputa, uma guerrilha. É um ato de gestão, tanto do sindicato quanto da empresa. Elas (as negociações) eram sempre muito emocionais. Mas o negociadores, dos dois lados, ficaram mais experientes e entenderam que a negociação não é só pra agora, você vai voltar ano que vem, então tem que construir uma relação.
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Há um jeito certo de negociar?
Sim, com certeza. Você tem que ter confiança em relação ao que está negociando, dos dois lados. Não dá para o chefe mandar um representante e falar ¿vai lá e negocia o que você achar melhor¿. Essa é a pior situação que tem. Também tem que ter em mente que você está indo lá para encontrar uma solução. Se for com o intuito de ganhar, exclusivamente, não é bom. Porque no ano que vem você vai sentar para negociar de novo e é preciso construir uma boa relação no longo prazo. É importante dizer também que negociar depende muito mais capacidade de resistência que de argumentação. Sempre sabemos quando começa, mas nunca quando e como termina.
Há categorias que têm um enorme poder de barganha por conta do setor em que atuam. Uma paralisação de uma hora em uma montadora representa vários carros a menos. Como barganhar quando a categoria não tem esse poder?
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Nesses casos, a empresa tem que entender que é importante ter o trabalhador satisfeito, isso é uma coisa da qual as pessoas precisam se dar conta. Você tem que trazer o seu empregado para o seu lado. A pessoa que trabalha bem, só traz benefício para o negócio.
Qual a diferença entre negociar com uma empresa privada e com o Estado?
É diferente porque o Estado negocia dentro do trilho que a lei permite. Também muda porque alguns governos não têm a compreensão absoluta do processo, eles têm uma visão de um prazo limitado de estar governando, então podem ser mais concessivos ou menos concessivos e olham o que vai acontecer com a posição deles em relação aos eleitores. Do lado do servidor, ele tem mais poder, porque seu contrato de trabalho é praticamente vitalício.
Você acha que as empresas têm abusado da crise como razão para não conceder reajustes?
Sim, com certeza. Eu acho que no caso do Brasil o blefe ocorre muito menos (que em outros países), mas acontece. É sempre desagradável você chegar lá e ouvir “olha o ano q vem vai ser uma droga”. É um discurso cansativo. Assim como é um discurso cansativo o sindicato insistir em temas que sabe que a empresa não consegue realizar. O interesse que o sindicato tem que ter é da preservação do negócio.
O Brasil tem cerca de 16 mil sindicatos. É muito?
16 mil de qualquer coisa é muita coisa, só que temos o problema geográfico. Mas, de maneira geral, os sindicatos do Brasil são considerados bons exemplos em outros países.
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