Pela primeira vez desde 2016, o governo e os rebeldes do Iêmen iniciaram negociações de paz, na Suécia, em um contexto de emergência humanitária e com exigências de última hora dos dois lados.
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As negociações, com mediação da ONU, começaram com um pedido do enviado da organização para que as partes aproveitem a “oportunidade única” para buscar a paz em um país devastado por quatro anos de guerra, que deixaram mais de 10.000 mortes e 14 milhões de pessoas à beira da fome.
“No decorrer dos próximos dias teremos uma oportunidade única para fazer avançar o processo de paz”, declarou o britânico Martin Griffiths à imprensa, diante das delegações do governo iemenita – apoiado pela sunita Arábia Saudita -, e dos xiitas – respaldados pelo Irã.
Mas nem os beligerantes nem os analista têm muitas ilusões sobre as probabilidades de avanços.
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Pouco antes da abertura das negociações, governo e rebeldes apresentaram suas condições.
O governo do Iêmen exigiu que os rebeldes se retirem da cidade estratégica portuária de Hodeida, enquanto os rebeldes ameaçaram impedir que os aviões da ONU utilizem o aeroporto da capital, Sanaa, caso as negociações na Suécia não resultem na retomada do tráfego aéreo civil.
O aeroporto internacional de Sanaa – controlado pelos huthis – foi fechado ao tráfego comercial civil depois da intervenção militar em 2015 de uma coalizão pró-governo liderada pela Arábia Saudita.
Até o momento fracassaram todas as tentativas de encerrar a guerra no país mais pobre da Península Arábica, que sofre a pior crise humanitária do mundo, de acordo com a ONU.
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O mediador da ONU viajou à capital Sanaa para buscar a delegação de rebeldes huthis, que chegou à Suécia na terça-feira à noite.
Os representantes governamentais chegaram um dia depois em Estocolmo, procedentes de Riad.
Os contatos acontecem na região de Rimbo, em um centro de conferências do castelo de Johannisburg, a 60 km ao norte de Estocolmo.
Antes da viagem, os dois lados manifestaram esperanças moderadas.
Os huthis “não pouparão nenhum esforço para fazer com que as negociações tenham sucesso”, afirmou Mohamed Abdelsalam, que lidera a delegação dos insurgente.s
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O ministro iemenita da Informação, Muamar al Iryan, declarou que a delegação governamental “leva as esperanças dos iemenitas de acabar com o golpe e restabelecer o Estado”.
Uma fonte diplomática do Conselho de Segurança da ONU afirmou à AFP que tem “poucas esperanças” de que as negociações permitam avanços concretos.
Nesta quinta, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu às partes em conflito no Iêmen que participem nas negociações mediadas pela ONU sem impor condições prévias, depois que o governo e os rebeldes apresentem demandas.
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Guterres “pede às partes a avançar na agenda de consultas (…) exercendo flexibilidade e comprometendo-se de boa fé e sem condições prévias”, disse em comunicado da ONU.
O secretário-geral da ONU pediu às partes para que continuem a la desescalada de Hodeida, cidade portuária controlada pelos rebeldes que é um ponto de entrada-chave para a ajuda humanitária e fornecimentos vitais.
Antes, na Suécia, o ministro das Relações Exteriores do Iêmen pediu a retirada dos huthis de Hodeida, algo que os rebeldes rejeitaram.
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Em 2014, os rebeldes huthis conquistaram amplas faixas do território do país, incluindo a capital Sanaa e a estratégica cidade portuária de Hodeida, por onde transita a maior parte da ajuda humanitária enviada ao país.
O conflito se tornou aos poucos uma “guerra por procuração” entre os rivais regionais, Arábia Saudita e Irã, e arrastou milhões de civis ao exílio e à fome.
Quase 80% da população do Iêmen (24 milhões de pessoas) precisa de algum tipo de “proteção e assistência humanitária”, segundo a ONU.
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O país tem 18 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, incluindo 8,4 milhões que já sofrem de “fome extrema”.
* AFP