Em uma semana, cinco casos de apologia ao nazismo foram registrados em Santa Catarina. No Sul do Estado, um professor de história da rede pública elogiou Hitler na internet. No Oeste, suposta saudação nazista em protesto é investigada pelo Ministério Público. Na UFSC, em Florianópolis, uma carta de ódio foi divulgada contra negros, gays e feministas.
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A reportagem do g1 SC entrou em contato com especialistas para entender o aumento desses casos. Segundo eles, o perigo desta ideologia é a “pregação de uma superioridade racial”.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Santa Catarina, Rodrigo Sartori, explicou o que é a ideologia nazista.
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— É uma ideologia que prega uma superioridade racial, que acham que existe. É uma doutrina de extrema-direita, é uma doutrina que prega essa superioridade contra alguns grupos étnicos. É uma ideologia que não é só a tática em si, mas a doutrina prega isso, é contrária à democracia liberal, é antiliberal — resumiu
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— A gente sabe o horror que foi o holocausto, foi resultado daquilo que o nazismo perpetuou — afirmou.
O holocausto foi genocídio cometido pelos nazistas ao longo da Segunda Guerra Mundial, levando a morte de aproximadamente 6 milhões de pessoas, a maioria judeus.
Crime
A lei número 7.716/1989 define os crimes resultantes de preconceito. No parágrafo primeiro do artigo 20, é abordado o nazismo.
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Segundo a legislação, crime é “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo”.
Perigo
O perigo da propagação da ideologia nazista, para o presidente da Comissão de Direitos Humanos, é inclusive, de violência física.
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— Há um risco muito concreto, espero que não aconteça, de violência a grupos específicos, negros, pessoas LGBT, mulheres, pessoas com deficiência. Também há o perigo da perda de conquistas de direitos desses grupos — afirma.
Sobre as consequências na política, a professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Mariana Joffily disse:
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— A questão é compreender o que exatamente está sendo exaltado e reverenciado nessa reapropriação de símbolos e gestos nazistas. Tudo indica que é uma concepção de política na qual a disputa saudável entre diferentes projetos, civilizada e mediada pelo jogo democrático é totalmente negada.
— Os adversários são reduzidos a uma categoria única, de inimigo, que deve ser combatido e mesmo, exterminado. Essa concepção de política nega a própria política, na medida em que a sociedade, a coletividade é negada em suas diferenças e multiplicidade. E, claro, é sumamente antidemocrática e autoritária — completa.
Aumento de casos em Santa Catarina
Os casos de resgate da doutrina nazista, como o dos jovens presos em Santa Catarina são chamados de neonazismo. Conforme Sartori, a propagação de ideias nazistas em não é de hoje.
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— Não é algo novo, ocorre há décadas, desde a Segunda Guerra Mundial — disse.
Segundo ele, havia o intercâmbio de ideias entre o estado catarinense e a Alemanha nazista nas décadas de 1930 e 1940.
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— As pessoas [nazistas] têm se sentido mais à vontade para agir, fazer pichações, por conta da conjuntura, do crescimento de uma extrema-direita violenta, que tem se colocado contrária a pautas das mulheres, LGBT, pessoas em situação de rua, racismo.
Sartori opina sobre uma forma de diminuir a propagação da ideologia nazista.
É importante a criminalização, propagação do nazismo é crime no Brasil. Mas a gente precisa atuar não apenas no campo criminal, precisa educar as pessoas, ensinar as pessoas que essa doutrina não pode ser propagada, precisa ser rechaçada. A ideologia em si é racista, antiliberal, antidemocracia. Isso é o mais importante: por meio da educação, a gente consegue resolver. A gente não pode mais tolerar isso
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