Foi numa caminhada entre o futebol e a praia feita numa segunda-feira de Carnaval que os integrantes do Bloco da Doroteia, hoje Acadêmicos de São Domingos, decidiram se vestir de mulher e animar o feriado na cidade. Hoje, o grupo de amigos e familiares de Valdir Manoel de Souza, 70 anos, vai abrindo a festa com cerca de 60 integrantes que compõem uma espécie de bateria de escola de samba. Mas o Navegay, 40 anos depois, tomou uma proporção não imaginada até mesmo pelos que deram origem a festa.

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O Navegay, um dos maiores blocos de sujos do país, ocorreu ontem à tarde na Avenida Beira-Mar, em Navegantes. No total, 14 trios elétricos percorreram o trajeto de 1,5 quilômetro animando o público. A expectativa da organização era de que o público chegasse a 180 mil pessoas – 6% mais do que os 170 mil do ano passado. Um forte esquema de segurança foi armado para garantir a tranquilidade de quem cai na folia. São 150 policiais militares e 200 seguranças particulares que, somados a bombeiros voluntários, militares e salva-vidas, totalizam cerca de 600 pessoas trabalhando na festa.

Embora não tenha chovido, a tarde de tempo instável não ajudou e até permitiu algum espaços para caminhar em comparação com outros anos. A organização só deve ter o público confirmado nesta terça-feira, mas às 21h a PM passou uma estimativa de que cerca de 150 mil pessoas teriam passado pela festa.

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O que é certo e quase unânime é a energia única do Navegay. Unicórnios, marinheiros, xerifes, Barbies, bailarinas, Mario e Luigi, homens vestidos de Mulher-Maravilha, mulheres trajadas de Super-Homem, Bin-Laden com óculos de funkeiro ostentação, foliões com perucas das mais variadas cores e glitter em volta do corpo. Todos juntos se divertindo, conhecendo pessoas e dançando loucamente os axés de Cláudia Leitte, o funk de MC Kevinho e o pop de hits de Carnaval como Que Tiro Foi Esse e Vai, Malandra. É esse clima que impressiona marinheiros de primeira viagem como Edilson Lenhardt, que veio de Jaraguá do Sul para conhecer o bloco e saiu impressionado com a energia, e que fez Alex Silva, 31 anos, vir pela quinta vez do Rio Grande do Sul para curtir a festa.

– O clima daqui não tem em nenhum lugar do mundo. Todos brincando junto, sem preconceito. Aqui me sinto em casa – contou Alex Silva, com uma fantasia de Chapeuzinho Vermelho.

Uma festa democrática e para todos

Esqueça a divisão ideológica e de gênero que se acentua. O Navegay é mais um bloco de Carnaval, não uma festa ou parada gay, embora acolha e se identifique com esse público. Héteros, gays, trans, solteiros, casais, jovens, adultos de meia idade, vendedores ambulantes, todos conseguem curtir a festa. Se a cerveja a três por R$ 10 estão mais longe do alcance do bolso, uma caixa térmica com um pacote de gelo resolvem o problema – só não valia garrafa de vidro.

Allan Gustavo de Souza e Luiz Eduardo da Rosa são amigos de faculdade e têm um grupo de seis colegas. Resolveram se vestir cada um de uma fada do desenho Clube das Winx para curtir a festa com as namoradas. Acabaram ganhando a companhia de 20 amigos que espalhavam animação ao longo da Beira-Mar. Às 17h, mesmo sem um calor escaldante, os bombeiros deram o primeiro banho de mangueira sobre os foliões, momento tradicional do bloco carnavalesco. Depois disso, o primeiro trio elétrico abriu caminho para a noite de folia que chegava. Isso ao embalo de YMCA e de Robocop Gay, música que, 20 anos atrás já nos pedia para abrir a mente. Assim como os pioneiros do Bloco da Doroteia fizeram 40 anos atrás. Para quem não gosta, é melhor acostumar: ano que vem tem mais.

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