Há 39 anos a segunda-feira de Carnaval tem endereço certo em Santa Catarina, ao menos pelas bandas do litoral, já seguindo para o Norte do Estado: Navegantes. A cidade mais conhecida por ser sede de porto e aeroporto se transforma no destino dos mais variados foliões. O Navegay é, de longe, a festa mais democrática da região.
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Não há distinção de nada. Foliões de todas as idades, gêneros e raças seguem juntos pela Avenida João Sacavém, a principal via do Centro da cidade, em direção a praia. São homens e mulheres que se transformam em mulheres e homens, em super-
heróis encalorados de pouca roupa, em animais, em autoridades de farda curta, em personagens que não fazem parte dos outros dias do ano, da vida real.
Os grupos de amigos são a principal atração. As fantasias se combinam, formando esquadrões de Mulheres Maravilha ou bandos prontos para uma festa do pijama. Mas há quem siga com a família, vendo o pai vestido de mãe, a mãe registrando tudo em fotografias digitais e o filhinho confortavelmente acomodado sobre a caixa térmica com rodinhas. O transporte não importa, o que interessa é chegar lá.
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Na Avenida Beira-Mar, endereço da folia desde 2016, a multidão vai se espalhando e ocupando os espaços livres, que em pouco tempo não existem mais. Ao som de pagodes clássicos da última década do século 20, funks proibidões de ontem e hoje e hits do sertanejo universitário, os trios elétricos – ao menos uma dúzia deles – literalmente arrastam a multidão tarde adentro. O horário marcado era 15h, mas o público não parou de chegar até que a noite tomasse conta da festa.
O capricho das fantasias é uma atração à parte. Os homens trajados de mulher, claro, são maioria no principal “bloco de sujos” do Sul do país, e o cuidado com os detalhes fica evidente em cada personagem. Muitos se preocupam em ostentar uma vasta cabeleira sintética e colorida, exibir o sutiã, mostrar as pernas em uma saia bem curtinha e, pasmem, festejar em saltos estratosféricos, de fazer inveja a muita mulher. As moças, porém, não ficam para trás na criatividade. Enquanto muitas preferem o frescor das roupas de banho – a festa é na praia, oras – outras investem na fantasia e colocam para fora soldadas, gatas, anjas e diabas.
Um dos pontos altos é o banho de mangueira oferecido pelo Corpo de Bombeiros da cidade. Refrescando o corpo, os foliões aproveitam para – sim – lavar a alma e dar o último grito de alforria antes do ano começar de vez. Até hoje a sensação é de que tudo ainda estava meio suspenso, com algo a ser concluído, finalizado. Os quatro dias de liberdade ofertados por Momo encerram o ciclo de espera e de folia e marcam o início definitivo de mais um ano. Até o próximo fevereiro as fantasias se guardam, as personalidades ficam sérias novamente e tudo se trata de mais um ciclo até o novo grito de liberdade. E quando ele chegar, forte e renovado, o Navegay onde tudo é possível, volta a reinar absoluto nas tardes de segunda de Carnaval.
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Confira alguns momentos da folia no Litoral:
A história
O maior bloco de sujos do Sul do país iniciou em 1978, com oito integrantes da família Souza, do bairro São Domingos. A diversão de segunda-feira de Carnaval deles era se fantasiar de mulher e sair pelas ruas da cidade. O primeiro nome do bloco foi Banho da Dorotéia. No seguinte, o grupo ganhou simpatizantes e foi chamado apenas de Bloco da Dorotéia.
Dois anos depois, em 1980, a escola de Samba Unidos de São Domingos foi fundada e o Bloco da Dorotéia ganhou força. Nesta época, o nome do bloco havia se tornado Naveguei, no sentido de navegar, com o passar dos anos, as mulheres começaram a participar e o bloco ficou conhecido como Navegay.
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