Se Papai Noel perguntar como foi o ano da Nati, primeira menina a jogar nas categorias de base de um clube de futebol do Campeonato Brasileiro, responder que ela se comportou vai ser pouco. É que o 2019 da garota de 10 anos foi espetacular.
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– De 0 a 10, meu ano foi mil. Foi muito top – avalia.
Nati foi aprovada em teste e integrada ao time sub-11 do Avaí, viajou e jogou bola em Londres (Inglaterra), Paris (França) e Gotemburgo (Suécia) e se firmou na equipe feminina do Centro Olímpico, de São Paulo. Passou a ser patrocinada por uma marca de material esportivo e foi embaixadora da Copa Floripa de futebol de base, que foi encerrada no meio de semana. Porém, os êxitos dela geraram conquistas que a ingenuidade de menina de 10 anos não permite perceber.
— O espaço das meninas cresceu muito. Teve até uma que foi tentar o teste na base do Avaí e, infelizmente, não passou. O bom é que deixaram fazer o teste. E tiveram várias meninas foram fazer teste no Centro Olímpico. Tanto que até ficou muito maior em estrutura. Quando cheguei lá era menor. Do nada começou a encher de menina. Tiveram até que dispensar algumas – relata Natália Pereira, que ficou conhecida no Brasil como a “menina do laço”.
O que para ela é um acessório indispensável para jogar futebol o laço ganhou significado de combate ao preconceito contra meninas no futebol. No ano em que foi e continua a primeira e única menina na categoria de base de um time do Campeonato Brasileiro, sem perceber deu lição de como lidar com situações que poderiam no mínimo causar desconforto.
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— Acho que vai ter um pouco de preconceito por ser menina jogando bola. Eu não ouço dentro de campo, quando estou no campo eu desligo pro mundo, não consigo ouvir nada. Minha mãe me contou depois, eu estava jogando um campeonato e eu driblei um menino. Uma mulher gritou: “não pode perder bola para essa frangota”. Quando minha mãe contou, eu não fiquei brava. Eu comecei a rir porque poderia ter sido mais criativo – conta.
É longa a estrada de Nati para atingir o sonho de ser um jogadora de futebol profissional. Pelo caminho ela colhe os frutos que troféus, patrocínios ou outra conquista dá: amizades. Não à toa sabe o que quer de presente de Natal.
— Pedi para ganhar qualquer coisa, menos roupa. Roupa é meio chato de ganhar. Minha mãe perguntou se eu queria uma bola, e disse que gostaria.
Devagar, mas caminha
O Kindermann, equipe de Caçador, foi campeão catarinense de futebol feminino pela 11ª vez. A novidade para a modalidade em Santa Catarina foi a realização do estadual sub-17 pela primeira vez. Neste ano, também teve a Copa do Mundo feminina sediada na França com as americanas campeãs e a craque Megan Rapinoe chamou a atenção pela luta por igualdade no esporte.
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O futebol feminino avançou um pouco mais no ano que está por acabar.
— Com certeza passou para outro patamar em 2019, chamou a atenção das federações e clubes, quebrando recordes de audiência e ganhando a visibilidade que sempre mereceu. Agora é preciso cuidar para que o desenvolvimento da modalidade aconteça da maneira correta. Não adianta criar campeonatos sem times para jogar, ou com times jogando no improviso. Assim como não adianta fazer os times sem que as federações criem campeonatos para mantê-los ativos. O diálogo entre todas as partes envolvidas é a melhor forma de garantir que as meninas tenham a estrutura que precisam para desenvolver o melhor de seu futebol e construir uma carreira de sucesso – comenta Fernanda Schuch, engenheira e especialista em futebol feminino.

É justamente dessa evolução que depende Nati para seguir seu caminho no futebol. Aos 10, ela não precisa se preocupar pelos próximos dois anos. Conforme regulamentação, ela e qualquer outra menina pode jogar em um time de base até os 13 anos junto com meninos. Até lá fica a esperança que a estruturação prossiga e haja no Brasil ao menos times e competições adequadas para que meninas possam atravessar a barreira do futebol como brincadeira para o profissional.
— Além das federações e clubes é necessário um engajamento da sociedade, nas mídias, nas escolinhas de futebol, nas escolas e nas famílias. Futebol, como qualquer outro esporte, é coisa de menina também. A Nati mostra que futebol é pra todos, basta seguir os seus sonhos, ter apoio da família e ter espaço. Que ela possa abrir cada vez mais portas pra todas meninas que sonham em jogar futebol – anseia Fernanda.
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