Na pandemia de coronavírus, deixamos de viajar. Viagens ao exterior foram canceladas e até mesmo os deslocamentos dentro do país ficaram restritos. Após a vacinação contra a Covid-19, cenas de reencontro começaram a viralizar nas redes sociais e uma das viagens mais desejadas por muitas pessoas pôde ser retomada. Agora, está permitido viajar dentro do abraço daqueles que mais amamos. Na época que antecede o Natal, um símbolo dessa retomada é o Aeroporto de Florianópolis. Local que diariamente registra, por exemplo, pais em busca do abraço dos filhos ou avós ansiosos pelo aconchego com os netos.

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Para reunir esses registros, assim como em um álbum de fotografias, a equipe de reportagem do Diário Catarinense passou duas tardes no aeroporto. Além disso, pedimos para que os catarinenses enviassem os registros desses momentos através do WhatsApp do Jornal do Almoço, da NSC TV. Seja pela internet ou presencialmente, flagramos centenas de tripulantes dispostos a embarcar no poder do carinho e do afeto.

E, assim como em uma viagem, o documento em mãos mais importante é o passaporte. Desta vez, trocamos o carimbo das imigrações pelo tão sonhado papel carimbado com as duas doses da vacina contra a Covid-19. Em alguns casos até com o terceiro carimbo, destinado à dose de reforço. De acordo com especialistas da área da saúde, somente assim é possível embarcar com segurança na viagem do abraço. Afinal, a pandemia de coronavírus ainda é uma realidade que precisa ser enfrentada.

Vídeo flagra abraços e reencontros em SC

Segundo o superintendente de Vigilância em Saúde de Santa Catarina, Eduardo Macário, é justamente o esquema vacinal completo que pode garantir tranquilidade para quem irá reencontrar a família neste período. – É preciso ter muito cuidado nesses reencontros e o primeiro ponto é completar a vacinação. […] O que significa que, tomar a vacina é a primeira medida de segurança que se deve ter antes de fazer os reencontros de fim de ano – reforça Macário.

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Os cuidados, porém, não param na vacinação. O superintendente ainda acrescenta duas outras ações que podem ajudar todos os viajantes a embarcar seguros nas festas. A primeira é a análise do perfil dos membros familiares, pensando na idade ou nas comorbidades, por exemplo. Se um dos tripulantes tiver mais de 80 anos ou se apresentar alguma condição física de risco para a Covid, o passaporte passa de ser o único documento exigido. Máscara e álcool gel começam a entrar na viagem para serem companheiros de embarque. A outra recomendação é a testagem antes do reencontro. Assim, a segurança é ainda mais garantida.

– O teste é uma “capa” de segurança a mais que pode ser utilizada neste momento. Todos nós estamos com saudades desses reencontros, de abraçar um ao outro. É importante que isso seja feito nesse momento, mas com todas as medidas de segurança e, principalmente, com todas as pessoas vacinadas. Com isso, os reencontros serão muito mais seguros – comenta o representante do governo do Estado.

Com todas essas recomendações em dia, o Natal 2021 em Santa Catarina pode ter mais viagens de esperança. Mesmo com a crise econômica que afeta as compras deste ano, a tão esperada vacinação em massa parece proporcionar que o clima natalino possa espalhar-se. É esse mesmo clima que faz com que cada abraço no saguão do aeroporto possa ser, de certa forma, também um respiro pela chegada juntos no destino final deste ano.

Galeria de fotos mostra histórias dos abraços e reencontros

Abraço para celebrar a família unida

Foi o sentimento de união que ficou representado pela família Rech, em meio a um abraço triplo entre pai, mão e filha. Se naquele dia você passasse por lá, notaria os três bem unidos e poderia até escutar a respiração aliviada, de todos eles. Roque Rech, de 55 anos, e Adriana Rech, de 49, celebravam a chegada da filha Alessandra, de 22. Todos ficaram cerca de 1 ano sem contato físico durante a pandemia. Abraçar, então? Impossível. Hoje para eles não há nada melhor do que poder aproveitar esse gesto.

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Em 2020, além do afastamento da família, Alessandra precisou lidar com a infecção pela Covid. A estudante de Fisioterapia, que mora em Goiânia e veio visitar a família em Garopaba, conta que celebrou o Natal dentro do quarto, com uma “marmita” feita por outra amiga universitária. Não conseguiu nem celebrar com o irmão, que também mora e estuda na capital de Goiás. Para compensar o ano passado, a mãe de Alessandra promete que não pretende deixar a filha sozinha nem mesmo para descansar: “nesse Natal vamos dormir até junto”, comenta Adriana.

Emoção, esperança e abraços

Há uma crença popular que fala que ser avó é ser mãe com açúcar. E foi assim que Marilene Pinho da Silva, de 60 anos, descreveu a relação com o neto de apenas 1 ano e 9 meses. Ansiosa pelo reencontro com a filha Mariana, de 35 anos, ela esperava logo em frente ao portão de desembarque. Atenta aos avisos no painel, Marilene chegou a comemorar e começar a chorar de alegria quando leu “aeronave no solo”. Ao lado do esposo – e avô com açúcar, Bernardino da Silva, 67 –, ela aguardava a filha chegar de Chapecó.

Além de amargar a distância do neto, Marilene precisou lidar também com outro efeito triste da pandemia: o aumento da miséria e da falta de sustento de muitas famílias. Ainda atuando como psicóloga na prefeitura de Santa Amaro da Imperatriz, a profissional comenta o crescimento de pessoas solicitando atendimento na assistência social do município. Da mesma forma que a necessidade aumentava, Marilene percebeu a solidariedade multiplicando-se. E foram essas lições que ela começou a reunir para enfrentar a distância e para planejar este Natal com mais união.

Presente de Natal: abraço do novo netinho

No final da segunda tarde no aeroporto, um filho muito emocionado chamou a nossa atenção. O abraço apertado, até meio atrapalhado, revelava o reencontro muito desejado após dois anos de distância. Desde o começo da pandemia, este era o primeiro abraço de Rodrigo de Cintra, de 48 anos, em Peter e Helena. Demorou mais do que esperado, pois os pais precisaram aguardar o intervalo correto para a dose de reforço de acordo com o calendário de vacinação de São Paulo, cidade que eles moram.

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Assim que foi possível, a saudade ficou para trás e os abraços aconteceram justamente no ambiente de trabalho de Cintra, que é chefe dos Bombeiros que cuidam do Floripa Airport. Ao lado dele, estava a netinha saltitante com a chegada dos avós. Catarina Cintra, de 7 anos, não escondia a empolgação de revê-los. O pai conta que, inclusive, foi o primeiro assunto que a pequena comentou durante o café da manhã. – E a gente ainda vai ganhar mais um presente desses daqui, temos mais um netinho como presente de Natal – comentou Peter Burmaster, de 80 anos, ao citar o neto recém-nascido que os aguardava em casa.

Quem tem um abraço de amiga, tem tudo

Imagine ter uma amizade por mais de 60 anos. Tantas histórias, tantos momentos, tantas lembranças. Essa é a história de amizade de Itajacy Pereira, de 88 anos, e Vera da Costa, de 92 anos. Na pandemia, precisaram ficar dois anos distantes. O reencontro só pode acontecer após as doses de reforço de cada uma. E o abraço foi tão especial que o filho de Itajacy precisou registrar a surpresa. Foi ele que filmou tudo e mandou para o Jornal do Almoço quando a NSC TV pediu para que os catarinenses mandassem os registros dos abraços

Morador da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, Luiz Adolfo Pereira conta que foi ideia dele levar a mãe para fazer a surpresa para a amiga. O último encontro tinha sido somente antes da pandemia isolar os mais idosos. E, depois de sobrevirem e tomarem a vacina, o abraço das amigas é um registro de esperança nos tempos pós-pandêmicos.

Após darem aquele abraço de amiga, as duas não tiveram dúvidas. Foram logo para uma cafeteria para colocar a conversa em dia. E o registro não poderia ser diferente: cheio de sorrisos. 

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Gesto de carinho e exercício para o cérebro

E você sabia que mais do que um gesto de carinho, o abraço também faz bem para a saúde? Pois é, pode até parecer clichê, mas é verdade. O nosso cérebro recebe diversos estímulos ao abraçarmos alguém ou até mesmo praticando o auto abraço. Então, além de nos ajudar a viajar e encontrar o aconchego que tanto precisamos, é como se o abraço funcionasse tal qual uma verdadeira ponte para que o nosso bem-estar aconteça.

Entre as diferentes formas do abraço, podemos até citar uma que diariamente acontece através do jornalismo. Laine Valgas, ao apresentar o Jornal do Almoço, na NSC TV, transmite informação e também quase que abraça diversos catarinenses ao fazer parte de um dos momentos mais familiares do dia. Além de jornalista, Laine também é especialista em neurociências do comportamento, e nos ajuda a descrever como esse gesto é fundamental para o funcionamento do corpo.

– Pela psicologia, o abraço é conhecido como matar a fome da pele. Por que? Porque nós somos naturalmente seres sociais, nós precisamos de vínculo e quando a gente tem esse toque do abraço, a gente se sente incluído – afirma a especialista. Isto é, pelo abraço nos aproximamos do outro, nos conectamos com ele e, por consequência, também nos sentimos reconhecidos. Mas, engana-se quem pensa que o benefício do abraço para a saúde para por aí.

De acordo com Laine, a ciência tem avançado – e muito – nas comprovações dos benefícios do abraço. Quando abraçarmos, o nosso corpo acaba por receber uma grande carga de neurotransmissores, como a serotonina, a endorfina e a dopamina. Juntos, eles são capazes de mudar a química do nosso corpo, proporcionando mais saúde, bem-estar, alegria e até mesmo um melhor comportamento em nosso dia-a-dia.

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E se ainda todos esses estímulos não bastassem, ainda recebemos a ocitocina quando abraçamos, hormônio que possui uma função bem específica. E, para Laine, entender o poder do abraço para a ser ainda mais transformador quando também compreendemos o que a ocitocina representa. – A ocitocina é o hormônio que a mãe libera na gestação, durante o parto e para amamentar e o lugar mais seguro do mundo é quando a gente está no útero da mãe. Então, de alguma forma, a gente ao abraçar faz a conexão com aquele momento que a gente é amado, querido, importante – complementa.

Para que todos possam sentir esses benefícios do abraço, Laine comenta que não é necessário ter um “padrão” ou uma “etiqueta” nessa hora. Os que amam o aperto, podem experimentar um abraço bem longo. Mas já para aqueles que não gostam tanto desse gesto, outras formas são recomendadas. Um auto abraço, por exemplo, pode ser a recomendação ideal para quem não é tão suscetível ao toque. A especialista em neurociências do comportamento ainda dá mais dicas: experimente abraçar uma boneca ou um animal de estimação; ou então, aposte no abraço através do toque das mãos. Todos eles, segundo Laine, oferecem milhares de estímulos positivos e o melhor: nos ajudam a finalmente viajar com mais tranquilidade em nossa rotina.