Dilma Rousseff jamais ouviu falar em Jeniffer Mafra Lottin. Mas a ponte que une as remotas realidades entre a presidente do Palácio do Planalto e a caçula da casa de paredes nuas do Bairro Testo Salto, em Blumenau, é uma promessa. Dois anos atrás, completados neste domingo, Dilma proclamara em visita ao Bairro Passo Manso que a “duplicação da BR-470 é uma questão de honra!”.
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Jeniffer não sabe quem é Dilma, ainda. A menina emburrada de vestido rodado cor-de-rosa, que espia curiosa à porta, também completa dois anos domingo. E em tão pouco tempo, a filha de uma promessa tem mais frutos a ostentar do que a presidente e seu discurso ao Vale.
Santa acompanha Jeniffer desde o nascimento
Era quinta-feira de 2012. Jeniffer nascera aos cinco minutos do dia 9 de junho. Na tarde daquele dia, Dilma esteve em Blumenau para inaugurar os condomínios do Minha Casa Minha Vida. Das pendências do Vale, comprometeu-se apenas com a duplicação. O projeto executivo da obra estava sendo feito e não havia previsão para ser concluído.
Do tempo que se passou desde então, a menina cresceu saudável. Os 53 centímetros se espicharam em 95. Os 2,8 quilos viraram 12, distribuídos em bochechas proeminentes, dedinhos e pernas grossas. Jeniffer é agitada. Brinca no computador portátil que emite sons, rabisca as folhas de um caderno, quer operar a câmera fotográfica que registra suas proezas.
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– Aonde a gente vai, todo mundo se encanta com ela – se envaidece o pai, Rosaldo, eletricista.
Confira aqui galeria de fotos da trajetória da menina
Aos sete meses, cresceram os dentes. Aos oito, a menina de colo deixara de mamar, na época em que vencia o prazo dado ao governo federal para início das obras de duplicação. O projeto não estava pronto. Diferente da burocracia, a vida seguiu adiante. Às vésperas da primeira festa de aniversário de Jeniffer, o Ministério dos Transportes dividiu o trecho em quatro lotes, para licitar cada um a sua vez.
Em setembro, saiu o primeiro edital. Em novembro, a primeira empresa escolhida. E Jeniffer já pronunciava a primeira palavra: “nano”. Queria chamar de mano o irmão Felipe, 13 anos.
Era mês também de publicar o edital de Blumenau e Indaial e a duplicação começava a andar. Chegou 2013. Vieram os primeiros passos, vacilantes, e o primeiro tombo da menina. Na rodovia, o primeiro baque: ninguém queria duplicar o trecho de Indaial e o Ibama não liberou a licença da obra.
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Jeniffer aprendeu a falar e a andar, mas a duplicação ainda não se concretizou
Hoje, Jeniffer superou a fase inicial, fala com desenvoltura, corre com firmeza, faz pose. A BR-470 ainda está em trabalho de parto. Somente nesta semana foi emitida a licença que permite assinar a ordem de serviço das obras.
E o tempo que separou o nascimento e o segundo aniversário de Jeniffer também soma a morte de 239 pessoas em acidentes na estrada. Na parede da sala, o retrato do avô Enevaldo Lottin relembra o sofrimento da família, atropelado na rodovia, em 2002.
A menina já reconhece os parentes nas fotogafias, reconhece o avô. Só não suspeita ainda quem é Dilma.
Confira a reportagem completa na edição deste fim de semana do Santa.