Jeniffer Mafra Lottin entrou para a fase da pré-adolescência. A menina que nasceu junto com a promessa de duplicação da BR-470 completou 10 anos em junho. As primeiras fases da infância já são coisas do passado e Jeni, como gosta de ser chamada, até consegue explicar — parcialmente — o que simboliza.
Continua depois da publicidade
> Receba notícias de Blumenau por WhatsApp. Clique aqui e entre no grupo do Santa
— Vocês estão aqui porque nasci no dia que a Dilma prometeu que ia consertar a BR-470 — diz em voz baixa, pausadamente, ainda tímida com a presença de estranhos na casa dela.
Em 9 de junho de 2011, a então presidente Dilma Rousseff (PT) esteve em Blumenau para a entrega de um residencial do programa Minha Casa Minha Vida, no bairro Passo Manso. Durante a visita ao município, anunciou o início dos trabalhos de duplicação e afirmou que o assunto era questão de honra para ela.
Jeniffer passou a representar, com a própria história, a evolução de uma obra que se arrasta há uma década. A garota ainda não entende o que a rodovia representa para a região, mas sabe que é perigoso atravessá-la e que o vizinho, assim como o avô dela, morreram em acidentes na BR-470.
Continua depois da publicidade
> Leia também: Como surgiu a BR-470? Rodovia nasceu do trajeto de mulas e do desejo pelo desenvolvimento
> E mais: Qual o percentual de conclusão da duplicação da BR-470? Veja os detalhes nos quatro lotes
Desde que os primeiros oito quilômetros duplicados foram entregues, há dois anos, pequenos avanços ocorreram tanto no desenvolvimento da blumenauense quanto nos trabalhos na principal rodovia do Vale do Itajaí. Enquanto Jeniffer descobria novos talentos, a BR-470 ganhou outros 30 quilômetros de pistas restauradas.
Para a mãe de Jeniffer, Adriane Mafra, 37, que cruza a rodovia a pé para ir ao serviço diariamente, o andamento da obra é tão lento que a menina pode chegar aos 18 anos e não ver a duplicação concluída.
Continua depois da publicidade
Atualmente, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) estima 51% de evolução nos quatro lotes. O mais atrasado deles, entre Blumenau e Indaial, é o que a família Mafra Lottin mais conhece, localizado a uma curta distância da casa em que mora no bairro Testo Salto.
— A gente já sabe como funcionam as coisas no país: começa uma obra e para, é tudo demorado. Sou sincera em dizer, acho que (quando Jeniffer tiver 18 anos, a obra) não estará pronta. Porque olha, faz 10 anos e não está nem na metade — opina a mãe.

No último ano, com mais tempo em casa por conta da pandemia da Covid-19, Jeniffer desenvolveu habilidades que impressionam pela pouca idade que ainda tem. Ela edita vídeos e imagens em aplicativos do celular e publica os conteúdos no canal que criou no YouTube. A criatividade, que a acompanha desde o berço e está estampada nos desenhos coloridos na parede da sala, que fez quando era bem pequena, ajuda também na escola.
— A professora disse que tenho muita criatividade para inventar histórias, por isso tiro notas boas em Português — orgulha-se a garota.
Continua depois da publicidade
A história da BR-470 Jeniffer ainda não conhece, mas improvisa no papel um desenho para ilustrar o caminho que percorre até a escola, que fica do outro lado da rodovia. O pai leva e busca a criança de carro diariamente. Atravessar o trecho a pé, como a mãe faz, é proibido. Adriane e o marido sabem dos perigos e preferem proteger a caçula.
Ao completar 10 anos, Jeniffer entrou oficialmente para a pré-adolescência, como define a OMS. As conversas já são menos infantilizadas, conta a mãe, mas o comportamento ainda é de criança. A menina adora brincar — seja no celular ou com um dos cachorros —, corre a todo momento e carrega na voz e nos trejeitos a meiguice da infância.
Jeniffer cresce e evolui rápido, bem diferente da obra que simboliza.