Eu nasci no dia 14/02/12 numa sala entre algumas outras de um hospital local, na presença da minha esposa e de uma criaturinha de unhas compridas e cabelo claro a quem chamaríamos de Tom. Na época, aquele que ainda não era eu já estava com 37 anos e nunca havia se imaginado pai.

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Aquele que ainda não era eu prezava demais a liberdade e o tempo. Tantas coisas ainda por serem conhecidas, tantas coisas ainda por fazer e por sentir… Até que aquele que ainda não era eu o viu. E nós nascemos. O Tom e eu. Eu o vi e chorei enquanto ele também chorava, nós dois descobrindo, ao mesmo tempo, no mesmo hospital, na mesma sala, um mundo novo, estranho, diferente.

Como dois irmãos siameses paridos no mesmo instante. Eu olhava pra ele e me via nele e ele olhava pra mim. Nem ele nem eu pensávamos sobre nascer. Simplesmente nascemos. E assim também crescemos. Sem muito pensar sobre ser pai ou ser filho. Simplesmente sendo a gente, toda hora, todo dia.

Dá saudade de quando eu ainda não era eu? Às vezes dá. Às vezes dá saudade da liberdade e do tempo que, por maior que fossem, nunca seriam o suficiente. Mas é como a saudade boba de uma namoradinha do colegial que a gente nunca amou e de quem a gente nem lembra mais o rosto.

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O que eu sei é que o cara que hoje eu sou deve a sua vida ao filho, ao Tom, o meu filho que é também o meu pai, por ter me gerado no momento em que nasceu, e é também o meu irmão siamês, por estar do meu lado em cada nova descoberta que fazemos juntos neste caminho que iniciamos unidos, há 3 anos e meio. Eu, que sou pai e irmão do meu filho. O meu filho, que é meu irmão e meu pai.

Gregory Haertel, escritor e dramaturgo.

Pai do Tom.