O Brasil faz política monetária para controlar a inflação – dizem os economistas. Tendo moeda própria, faz o que os gregos já não podem fazer, com sua moeda comunitária, o euro.

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Mas por que o resultado, aqui e lá, é igual a zero, a Grécia falida e o Brasil desesperado, com uma inflação impávida, rumo às alturas? Apesar de uma Selic (a taxa básica do BC) em 13,75%, a caminho – dizem – dos 14,50%, no final do ano.

Os juros bancários do Brasil ignoram a dita taxa básica. Os bancos são parentes próximos daquela velha agiota de Crime e Castigo, o romance genial de Fiódor Dostoiévski.

Cena digna de filme de suspense é o assassinato da personagem Alena Ivanovna, a prestamista “justiçada” pelo estudante Raskolnikof. O perturbado Ródia resolve castigar a usurária porque a considera uma parasita. Ela nada produz, a não ser a miséria dos que lhe devem dinheiro. Então, desenvolve a enlouquecida tese de que os seres humanos podem usar seu livre arbítrio para eliminar malfeitores como a agiota.

Imaginem se o povo brasileiro resolve aplicar igual castigo aos banqueiros que há séculos mamam nas tetas da usura, cobrando juros e spreads como não se vê em nenhum país civilizado?

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Há linhas de crédito que chegam facilmente aos 300% ao ano. E os spreads – diferença entre o que o bancos pagam na captação de recursos e o que ganham no seu empréstimo – batem tranquilamente nos 135%, descontada a inflação.

Quer dizer, a taxa básica equivale a menos de 14% ao ano, mas os juros bancários são tridigitais.

Sofrendo de privação de sentidos, Ródia desceu o machado na velha. Tivesse sobrevivido às machadadas, Ivanovna seria facilmente admitida na diretoria de qualquer grande banco brasileiro.

Ganância e “profissionalismo” não lhe faltavam, como aos bancos não falta a cara de pau de lucrar a cada ano cerca de 30% do seu patrimônio líquido. Ou seja: um banco brasileiro lucra num ano exatamente um terço de tudo o que já possui.

Num Brasil que tateia como cego em meio ao breu da grave crise que se abateu sobre o país, constrange aos céus saber que há instituições lucrando em um ano um terço de todo o seu capital.

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Alena Ivanovna está se revirando no seu túmulo de São Petersburgo, sentindo-se injustiçada.

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