Um dos maiores estudiosos dos indígenas em Santa Catarina, Sílvio Coelho dos Santos registrou as pesquisas em mais de 20 livros, além de artigos científicos. Também estudou grupos originários de outras regiões. Acompanhou de perto a realidade que viviam, inclusive adentrando a floresta Amazônica.

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Desde jovem, percorreu este caminho. Nasceu em Florianópolis em 1938. Cursava as faculdades de Direito e Filosofia quando começou a trabalhar no magistério. Foi para o Rio de Janeiro com o intuito de qualificar-se melhor para esta atividade com uma especialização em Antropologia na universidade federal.

À frente do curso, estava Roberto Cardoso de Oliveira, antropólogo de grande destaque que desenvolveu novos conceitos para a teoria da disciplina. Recebeu convite para ser assistente dele na pesquisa da convivência interétnica dos Tukúna, concentrados na área de fronteira do Brasil e Colômbia.

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Em 1962, aos 24 anos, viajou à Amazônia para acompanhar o dia a dia deles. Tinha a incumbência de anotar no diário de campo cerca de 15 páginas por dia. Era a orientação de Cardoso para garantir um registro mais completo e fiel do que observava. Por três meses, seguiu esta rotina. Em 1964, o professor lançou o livro “O índio e o mundo dos brancos: a situação dos Tukúna do Alto Solimões”, considerado um clássico da antropologia.

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A experiência o fez mudar o plano profissional de atuar na área jurídica depois de formado. Desistiu da faculdade de Direito. Debruçou-se na conclusão da especialização pesquisando os indígenas do grupo Jê de Santa Catarina. Fez doutorado na Universidade de São Paulo (USP), colaborou na Universidades do Estado de Santa Catarina (Udesc) e seguiu carreira acadêmica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde teve um trabalho fundamental na criação e consolidação do Departamento de Antropologia.

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Foi professor emérito da UFSC, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, coordenador do Núcleo de Estudos sobre Povos Indígenas, entre diversas funções. Como pesquisador, atuou pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e outras instituições. Colaborou ainda com diversas entidades, entre elas a Academia Catarinense de Letras.

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Manteve presença nos estudos de campo. Enfrentava quilômetros de estradas na região do Vale do Itajaí para pesquisar os Xokleng, aproximadamente 60 anos depois de serem atraídos para formarem aldeia no Posto Indígena Duque de Caxias, organizado pelo governo federal em uma política de “pacificação” interétnico. Ali, registrou uma época em que ainda mantinham muitas das tradições. Acompanhou as transformações que passaram no contato com outros grupos e com os não-indígenas e o impacto provocado pela Barragem Norte, construída para conter as enchentes no Vale do Itajaí que, no entanto, inundou parte da terra dos Xokleng.

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A entrevista com um bugreiro, como eram chamadas as pessoas contratadas para “caçar” os indígenas, foi publicada em uma revista da editora Abril e teve repercussão nacional. Rendeu-lhe o prêmio Abril de Jornalismo de 1976. Sílvio Coelhos dos Santos, que viveu até os 70 anos, escreveu 24 livros, entre eles “Os índios Xokleng – Memória visual” (1997), “Índios e brancos no Sul do Brasil (1973)” e “Nova história de Santa Catarina” (1974), leitura para compreender como os catarinenses se formaram como povo.

*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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