Pelos lados teóricos da história desenhada ontem é possível dizer que os laços do matrimônio de Napoleão Bernardes (PSDB) com Blumenau foram renovados pelas próximas quatro primaveras. Já os lados práticos da narrativa, com a segunda vitória consecutiva do novo tucano-rei do Vale do Itajaí sobre o, até agora, seu maior rival nas urnas sentenciam o dono da cadeira mais importante da política blumenauense como um nome forte do PSDB ao governo do Estado em 2018.
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Inevitável.
Sem um representante de impacto que fuja da mesmice política catarinense, o jovem prefeito da voz grave e aveludada, com o aperto de mão que por vezes machuca e sorriso constante é, de fato, o menino dos olhos do partido – por mais que ele seja para lá de ensaboado quando fala do assunto:
– Não invisto um segundo do meu tempo pensando em projetos eleitorais futuros.
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Ao que parece, o eleitorado de Blumenau captou a estratégia subliminarmente alinhada a uma frase de Fernando Henrique Cardoso, liderança ideológica de Napoleão. “Em política, você não tem que contar com quem é a favor e quem é contra. Você tem que transformar quem é contra em a favor. Tem que argumentar”.
Esquivando-se de golpes, comunicados urgentes e as críticas da campanha adversária no segundo turno, Napoleão – que também não é irretocável, diga-se de passagem – mostrou que algumas das palavras presentes no Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, seu livro de cabeceira, são suficientes para triunfar. Prudência para não cair na tentação de revidar e temperança para respirar fundo o catapultaram novamente ao terceiro andar da prefeitura.
No livro preferido de Napoleão ainda constam algumas palavras sentimentais que integram o conjunto de valores destacados pelo autor. Embora tolerância, generosidade, gratidão, compaixão sejam essenciais para uma pessoa íntegra, alguém que queira governar Santa Catarina necessita de uma dose de pulso firme.
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A diferença do Napoleão de quatro anos atrás para o de hoje é que há um vice ao seu lado que não serve exclusivamente para captar votos de um público específico ou que pense quase que exclusivamente na campanha para deputado federal. E é bom ficar atento a Mário Hildebrandt (PSB) porque, embora os pensamentos do tucano para 2018 sejam apenas involuntários e superficiais, é o pessebista quem poderá assumir a prefeitura na reta final do próximo mandato.
Pensando em um amanhã óbvio, Napoleão terá de esquecer os quatro anos até aqui. Os passos a serem seguidos daqui para frente são os mesmos de Jean. Não o Kuhlmann, é claro, mas o Valjean, protagonista de Os Miseráveis, filme preferido do reeleito. Buscar um recomeço, escapando das dificuldades e daqueles que o perseguem, são analogias de Hollywood que se aliam a Blumenau. Suficientes para que ele esteja no pleito de 2018? Provavelmente. Embora ninguém fale oficialmente sobre isso.