Visto como um dos chefes de Estado mais influentes com o governo federal, o governador Raimundo Colombo (PSD) foi entrevistado pela colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, Rosane de Oliveira. Ela quis ouvi-lo por Santa Catarina ser referência no enfrentamento à crise por maior diversidade econômica. O bom desempenho de SC serve de exemplo para o Rio Grande do Sul. Colombo reconheceu que falta solução para os crimes envolvendo facções criminosas e explicou porque o Estado aposta na captação de investidores.

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Rosane de Oliveira – Qual é o segredo do sucesso de Santa Catarina na atração de investimentos?

Raimundo Colombo – As características do nosso Estado são favoráveis ao empreendedorismo. Nosso povo é muito vocacionado, a nossa história é muito bonita. Nossas principais empresas nasceram de fundo de quintal, de empresas familiares, e isso cria um ambiente de negócios muito favorável. Por outro lado, o governo do Estado estimula, incentiva, cria mecanismos de incentivo fiscal, de todas as formas de atração. E somos muito arrojados na busca do relacionamento.

Rosane – O senhor não fica sentado esperando que um investidor venha a Santa Catarina?

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Colombo – Não, tendo qualquer informação, vamos atrás. A gente abre todas as portas, vai ao encontro deles em qualquer lugar do mundo. Já fiz muitas viagens: Japão, China, Coreia, à Europa toda e mesmo na América do Sul. Em muitos lugares, conseguimos abrir mercados, como o exemplo da carne suína no Japão, e agora temos uma expectativa muito grande de abrir, em breve, na Coreia. Somos um Estado livre de febre aftosa sem vacinação, e isso é um

diferencial importante.

Rosane – A população compreende a importância das viagens ou o senhor recebe críticas?

Colombo – Tenho o cuidado de levar só quem é necessário mesmo, ir em pequenas comitivas, não fazer nada em excesso e executar realmente uma visita de trabalho. Nunca recebi uma crítica por fazer essas viagens, pelo contrário, só recebi estímulos.

Rosane – Vocês estão importando mão de obra?

Colombo – Sim, temos hoje uma imigração muito grande de diversos Estados, inclusive de haitianos. Toda semana chega um número muito grande, e eles estão se integrando bastante nessas unidades de produção. Temos 3 mil haitianos trabalhando aqui, principalmente nos frigoríficos.

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Rosane – No Oeste, há mais vagas do que pessoas para ocupar esses postos de trabalho?

Colombo – Sim, inclusive, vem muita gente do Rio Grande do Sul trabalhar nas nossas unidades. Diariamente, são dezenas de ônibus que vão e voltam levando trabalhadores (a assessoria do governo informa que são 600 ônibus diários).

Rosane – Há estímulos diferenciados para quem quiser se instalar nas regiões mais deprimidas?

Colombo – Sim, aumentamos bastante os incentivos fiscais de forma bem expressiva para poder atrair e equilibrar. O nosso modelo de pequenas cidades, como é o modelo do sul do Brasil, é importante. Essa distribuição demográfica traz de forma direta a qualidade de vida, o dinamismo. Temos hoje todos os 295 municípios de Santa Catarina com pelo menos um acesso asfaltado.

Rosane – Nenhum município sem asfalto?

Colombo – Nenhum. É muito difícil você se desenvolver sem energia, sem asfalto. Nosso sistema universitário é muito bem distribuído, e esse é outro vetor. A gente oferece incentivo para que a pessoa fique morando no seu município.

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Outro programa que fizemos para manter a atividade no lugar é o programa Juro Zero para as pequenas empresas. O governo paga o juro para que ela se desenvolva. Você faz uma operação de crédito e as duas últimas prestações, que correspondem ao o juro, o governo paga se você estiver em dia e cumprindo o contrato.

Rosane – O senhor conseguiu combinar esse estímulo às pequenas e médias empresas à atração de investimentos que são a joia da coroa. O que foi definitivo para conquistar a BMW?

Colombo – Olha, fomos arrojados. A nossa equipe foi várias vezes à Alemanha, eles vieram aqui. Foi um período demorado de negociação, mas fomos convencendo, mostrando todo o potencial. Temos o segundo maior centro de ferramentaria do Brasil. Todas as características e exigências puderam ser atendidas. A BMW funcionava como um símbolo para a gente entrar no setor automotivo. Já tínhamos a fábrica de motores da GM, inaugurada em 2012, temos a Tupy, que é uma grande produtora de autopeças. O fato de ter uma origem alemã muito forte na região também pesou. Fizemos tudo que eles pediram, incluindo o acesso ao governo federal.

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Rosane – O senhor era um político de oposição ao Planalto e se aproximou do governo.

Colombo – Foi uma coisa que aconteceu por acaso. A BMW pediu uma audiência com a presidente e a gente conseguiu essa audiência, facilitou o trabalho. Tivemos várias enchentes, e o governo se colocou à disposição para ajudar a resolver esse problema, que era histórico. Hoje, estamos investindo R$ 1 bilhão no sistema de prevenção e contenção de cheias. Conseguimos construir uma parceria importante. A presidente nos tratou de forma republicana, e entendi que deveria contribuir na mesma intensidade e com os mesmos princípios.

Rosane – É verdade que nenhum governador tem um canal tão azeitado com o Planalto como o senhor tem?

Colombo – De fato, temos uma relação boa. Houve um momento crítico, com aquela resolução 13 do Senado, que mudou o critério do ICMS de importação. Ela penalizou muito os Estados em favor de São Paulo.

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Rosane – Ali, Santa Catarina ia perder R$ 1 bilhão.

Colombo – Eram R$ 100 milhões por mês. Perdemos. Então, a gente fez uma política de compensação, e o governo federal nos ajudou. Isso nos permitiu fazer um programa de investimentos, o Pacto por Santa Catarina, para investirmos R$ 10,5 bilhões.

Rosane – O senhor identifica na crise uma janela de oportunidade para o Brasil fazer as correções necessárias?

Colombo – Não tenho dúvida de que é chance que o Brasil tem. Com o crescimento que houve, muito relacionado com o que estava ocorrendo lá fora, essas coisas foram anestesiadas e todo mundo achou que dava para viver daquele jeito. Hoje, você está vendo a crise na Grécia e foi basicamente isso que aconteceu. O embaixador da Irlanda estava me falando que, no auge da crise, em 2008, eles cortaram 20% do salário de todos os servidores públicos. A Irlanda explodiu e hoje é uma referência extraordinária de sucesso. A Grécia afundou, não quis fazer nada. O problema do Brasil é semelhante, podemos fazer como a Grécia ou como a Irlanda. É uma questão de escolha.

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Rosane – Como o senhor lida com as pressões dos sindicatos de servidores públicos?

Colombo – Essa é uma das coisas mais desagradáveis desses quatro anos e meio em que estou aqui. Foram muitas greves, muitos confrontos, muito desgaste, nossa relação é complicada. Mas não tem jeito, tem que estabelecer um limite do que é possível, fazer com transparência. A gente faz o que é justo e possível.

Rosane – O senhor pretendia adotar algumas medidas antipáticas aos servidores, como corte da licença-prêmio, da incorporação de gratificações, triênios. O senhor conseguiu avançar nisso?

Colombo – O que eu percebi foi que esse primeiro semestre foi muito complicado no processo administrativo no país. Essa crise contaminou. Um processo como esse só tem chance ser aprovado se você acertar na fórmula e no momento. Entendi que este não era o momento adequado. Tudo que pude fazer por ação interna ou decreto eu fiz. Não preencher cargos, agora estou começando a fazer a fusão de agência, eliminar cargos comissionados. Essa semana estou mandando para a Assembleia a retirada de mais 300 cargos em comissão, o que dá quase 20% do que temos.

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Rosane – SC tem o maior número de secretarias. É necessário uma máquina desse tamanho para administrar o Estado?

Colombo – É um modelo de filosofia que coloquei, de fortalecer unidades regionais. Estamos transformando essas secretarias em agências de desenvolvimento e estamos enxugando a estrutura e dando novas atribuições.

É um modelo que foi implementado há 10 anos e que está sofrendo aperfeiçoamentos. Vai se perder o status de secretaria. Vai ser uma agência de desenvolvimento. Tinha secretário-adjunto e estamos eliminando. São 200 e poucos cargos que estão sendo extintos.

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Rosane – O senhor teve no seu primeiro mandato os ataques criminosos. Essa questão já está superada?

Colombo – Não, não está superada. É um problema que continua. Existe uma briga entre o PCC, que é uma facção criminosa de São Paulo que tenta entrar em Santa Catarina e o PGC, que se formou aqui. Eles se digladiam o tempo todo. Estamos fazendo um esforço muito grande dentro das unidades prisionais, construímos muitos presídios novos, modernos.

Rosane – Em Santa Catarina, os outros poderes têm percentuais fixos no orçamento. Não está na hora de mudar isso?

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Colombo – Existe uma iniciativa da Assembleia, dos deputados. Eu já tentei várias vezes e não consegui, é um diálogo muito difícil. Na Assembleia, que é quem delibera a lei orçamentária todo ano, há um movimento dos deputados em mudar esse sistema. É um sistema que vem há mais de 20 anos e como houve no período um aumento de arrecadação muito significativo, o percentual dos poderes cresceu muito. O nosso é o segundo pior do Brasil, parece que o pior é o do Rio Grande do Sul. Mais de 20% do que arrecada é repassada aos outros poderes, inclusive a universidade.

Rosane – O senhor anunciou o pagamento da metade do 13º. No RS, o governo vai ter de tomar um empréstimo para isso. Como se equilibra as contas? É no dia a dia, no detalhe, para se chegar a esses números?

Colombo – Temos um acompanhamento diário. A gente vai avaliando por setores, as 200 maiores empresas, as 500, as mil, quais são os setores, qual o nível de contribuição, o que está abaixo, o que está acima, o que pode acontecer. Estamos reduzindo muito o custeio, esses contratos que falei, aumentaram muito a eficiência e o custo deles. Temos o sistema de fluxo de caixa que permite somente liberar aquilo que a gente tem. Então, a gente trabalha com fluxo de caixa, não gastamos um tostão a mais do que o que a gente tem. Às vezes temos alguma surpresa, algum saque judicial por alguma demanda que tramita na Justiça.

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Rosane – Como o senhor vai lidar com esse segundo semestre difícil? Pretende aumentar impostos?

Colombo – Fazendo gestão, não tem outro jeito. Não vamos buscar mágica financeira, não vamos sacar dinheiro do judiciário. Impossível aumentar imposto, seria penalizar a sociedade.

Rosane – O senhor é cobrado pelo apoio à presidente Dilma, pela sua ligação em um momento em que ela vive uma crise de credibilidade no país inteiro?

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Colombo – O meu gesto foi de gratidão, ela foi uma parceira importante do governo e do Estado de Santa Catarina. Muitas coisas que estavam enroladas há muitos anos nós conseguimos resolver e houve empenho pessoal dela. Ela sempre tratou o Estado com distinção, tenho certeza da sua honestidade pessoal, não tenho dúvida de que não há envolvimento e ninguém terá condições de acusá-la disso, porque não há, e isso é o suficiente sob o ponto de vista de relação pessoal.