A inconfundível tatuagem vermelha de palhaço, que sugere matador de policiais, chamava a atenção no corpo franzino de Geovane Xavier da Silva, o “Gê”. O jovem suspeito de ser um dos autores da morte de um turista argentino em 2011 e de um policial civil em 2010, foi preso nesta quarta-feira, pela primeira vez depois de completar 18 anos, no último dia 31 de janeiro. Ele falou com exclusividade, de sua cela, na 5a DP da Capital.

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O jovem era procurado pela polícia por estar foragido do sistema socioeducativo e por sua extensa ficha infracional. Policiais civis receberam informações de que ele estaria escondido sob proteção de traficantes, no Morro do Costeira do Pirajubaé, Sul da Ilha de Santa Catarina ou no Morro do Caju, no Monte Verde, bairro onde Gê foi criado, na Capital. O chefe do tráfico do Morro do Caju, por exemplo, patrocinou a festa de aniversário de Geovane, que aconteceu na madrugada do dia 1º de fevereiro.

O Batalhão de Choque da Polícia Militar recebeu informação do Serviço de Inteligência da PM de que havia intenso tráfico de drogas em uma casa no Morro do Quilombo, no Itacorubi, na Capital, e que Gê estaria lá.

Policiais do Choque montaram campana às 6h de ontem até que viram Geovane arrumando uma mochila, dentro da casa. Às 9h, a casa foi cercada e os policiais prenderam o jovem em flagrante. Um outro rapaz, Lucas Nascimento Gama, 19 anos, o Furinho, estava dormindo e também foi preso. Na casa foram apreendidos um revólver 38 com duas munições, três petecas de cocaína, dez torrões pequenos de maconha, nove pedras de crack, um rádio transmissor, dois celulares, R$ 250, uma moto que teria sido furtada, DVDs, roupas, e a chave de um carro Citroen C3 cor prata.

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De acordo com o policial do Choque que participou da prisão, soldado Guilherme Silveira, o carro teria sido usado no assalto a um posto de combustível no Sambaqui, Norte da Ilha de SC, na madrugada de ontem. O carro estava escondido no Itacorubi e foi apreendido pela polícia. A Polícia Civil informou que Geovane é suspeito de envolvimento neste assalto, mas não foi autuado por este crime.

A equipe do Choque contou que Gê havia alugado a casa para servir de ponto de drogas e só usava a residência para dormir. Disseram que o jovem passava o dia escondido no morro, de casa em casa.

Depois da prisão desta quarta-feira, os dois jovens foram encaminhados a 5ª DP, onde foram autuados por tráfico de drogas e porte ilegal de armas. Os dois foram transferidos ontem à tarde para a Central de Triagem do Estreito. Depois da maioridade, Geovane é suspeito de ter participado de um furto a um condomínio na Agronômica.

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Primeira retranca

Pela primeira vez na vida, Geovane vai ficar preso em uma cadeia. Ele tem extensa ficha por infrações supostamente cometidas quando era adolescente. É suspeito de ser um dos autores da morte do turista argentino Rául Baldo, em janeiro de 2011.

Suas impressões digitais foram encontrados no carro do turista por peritos do Instituto de Criminalística. Gê é suspeito também por envolvimento na morte do policial civil Eliseu de Souza, em 2010. E também por participação em pelo menos três assaltos a residências e estabelecimentos comerciais.

Ainda quando era adolescente, Gê fugiu do Centro de Internação Provisória de Itajaí e foi logo apreendido pela PM, em novembro de 2011. Internado no Centro de Internamento Provisória de Rio do Sul, Geovane fugiu novamente, dois dias antes de completar 18 anos. Desde então, ele estava foragido.

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As medidas de contenção e socioeducativas recebidas por Geovane quando ele ainda era adolescente podem ser cobradas pela Justiça até que o jovem complete 21 anos. Se for liberado do sistema prisional antes dos 21 anos, ele retorna ao sistema socioeducativo para cumprir o restante das medidas que ficaram em aberto.

Muito magro e abatido, Gê falou nesta quarta-feira, com exclusividade, da cela onde ficou detido.

DC – Esta é a primeira vez que você é preso depois dos 18 anos. E agora?

Geovane – Foi a última oportunidade do cara mudar.

DC – Sua mãe sempre lutou bastante por você e acreditou que você poderia mudar. O que você tem a dizer sobre isso?

Geovane – Eu amo muito a minha mãe. O sofrimento não é meu, é por ela.

DC – Por que você está tão magro?

Geovane – É muita correria. Não me alimento direito.

DC – Por que você continua nesta vida “errada”?

Geovane – O cara quer sempre o melhor, ter condição própria.

DC – Você nunca trabalhou? Se pudesse, queria trabalhar com o quê?

Geovane – Já fui lavador de carros. Queria ser advogado porque o salário é bom e o serviço é tranquilo. Mas agora minha ficha sujou…

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DC – Você confirma ser o líder deste comando que os adolescentes tanto falam, o Comando G?

Geovane – Não tem comando. Sou por mim mesmo.

DC – O que você diria para meninos de 11, 12 anos que estão entrando no crime?

Geovane – Respeitar o pai e a mãe, e não cair nas drogas.

O pai de Geovane, funcionário de uma empresa de telefonia, também falou com o Diário Catarinense

DC – O senhor já sabe da prisão do seu filho?

Pai – Estou bem ruim. Tinha esperança que ele ia sair dessa. A gente está bem triste. Meu coração está partido.

DC – A família vai contratar advogado para defendê-lo?

Pai – Não falei com a mãe dele ainda. Vamos ver se vale gastar. Já gastamos muito com ele. Nosso dinheiro vai fora.

DC – Quando foi a última vez que o senhor falou com ele?

Pai – Este ano. Ele veio aqui em casa. Dei um abraço e um conselho para ele sair dessa vida. Ele sempre disse que ia sair.

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