Só 18% da população mundial ganha mais do que a classe média brasileira. O dado foi repassado pelo presidente do Instituto Data Popular, Renato Meirelles, em palestra feita na quarta-feira na Exposuper, em Joinville. Isso indica duas possíveis análises: não somos tão pobres assim ou, alternativamente, os trabalhadores, em todo o globo, ganham muito pouco.

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Meirelles mostrou, ainda, outros números: apenas 5% dos brasileiros têm renda per capita superior a R$ 2.450. São os ricos. Os catarinenses consomem R$ 118 bilhões por ano. Metade vem dos bolsos da nova classe média.

Integrante da comissão que estudou a nova classe média na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Meirelles tem MBA em gestão de negócios e é colaborador da publicação Varejo para baixa renda, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Também é autor do livro Guia para enfrentar situações novas sem medo.

CRESCIMENTO

– A renda familiar média dos 25% mais pobres foi a que mais aumentou. Este público aumentou a renda em 44,9% nos últimos dez anos, enquanto que os mais ricos aumentaram ganhos em 12% no mesmo período. Significa que a tradicional pirâmide social está, agora, com o formato de losango. Isso mudou o modelo de consumir.

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ABRANGÊNCIA

– Para efeito de análise econômico-financeira, o Data Popular considera classe média a família de quatro pessoas, que tem renda mensal de R$ 1,2 mil a R$ 4,5 mil. Metade das famílias brasileiras vive com renda per capita de R$ 513. Estudo mostra que mulheres e jovens cada vez influenciam mais na decisão de compras. A renda dos brasileiros mais pobres aumentou 44,9% nos últimos dez anos.

FAVELAS

– Há, no Brasil, 11 milhões de habitantes em favelas (ou comunidades). Isolando-se o número, significa o quinto maior Estado do Brasil. Este grupo consome R$ 63 bilhões por ano. É o mesmo que consomem Paraguai e Bolívia juntos.

PASSADO

– Há 30 anos, a inflação era de 80% ao mês. Todos corriam ao supermercado na hora em que recebiam seu salário. O dinheiro era como um cubo de gelo se derretendo. Nas casas e apartamentos, havia despensa para estocar comida. Hoje, há mais um banheiro.

IMPACTO

– Nos últimos dez anos, 20 milhões de brasileiros entraram no mercado formal de trabalho. Significa ter direito a 11 meses de trabalho por ano, férias de 30 dias, 13 salários anuais. O impacto nos negócios é enorme. Com as mulheres trabalhando, puxou para cima a venda de mercadorias congeladas e de semiprontos. Outro ponto: dos 183 milhões de cartões de crédito, 103 milhões estão nas mãos da nova classe média.

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PODER DE CONSUMO

– As famílias catarinenses consomem R$ 118 bilhões por ano. Metade do valor é dinheiro que vem dos bolsos das classes C e D. No item alimentação, a nova classe média responde por R$ 7,3 bilhões, ou 57% do total dos gastos para a categoria, que é de R$ 15 bilhões. Na compra de eletrodomésticos, o percentual é de 49% do total, e a mesma classe média catarinense já adquire 48% de tudo o que é consumido relacionado a itens de higiene e beleza. Seis em cada dez catarinenses (59%) estão na classe C. Florianópolis é a capital de Estado com a maior presença de gente da classe C do País.

VÃO CRESCER

– As classes A e B, no Brasil, vão crescer, proporcionalmente, mais nos próximos anos. Isso tem uma explicação. A atual geração dos ricos é a primeira que é composta por gente que faz riqueza por conta própria, independentemente de heranças. É pessoal jovem, empreendedor, de renda A/B e mentalidade de classe C.

TABLOIDES

– O consumidor coleciona tabloides de supermercados. Compara preços de concorrentes, mas aceita pagar mais caro pela marca que deseja e confia. É importante para o lojista investir em práticas de relacionamento, chamar o cliente pelo nome, ter capilaridade de pontos de venda e comunicação direta e didática.

COMPARAÇÃO

– A classe média norte-americana é mais rica do que 89% da população de todo o mundo. Não dá para comparar. Se olharmos para a população mundial, 54% dela ganha menos do que a classe média brasileira. Incluem-se aí um bilhão de chineses, um bilhão de indianos e toda a África. Só 18% da população global ganha mais do que a classe média brasileira.

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COMPANHEIRISMO

– O pessoal da classe C valoriza o companheirismo – 44% dela cuidou do filho do vizinho nas duas últimas semanas. As redes de relacionamento são mais próximas. No País, 7 milhões de pessoas compartilham wi-fi.

SACOLAS

– A nova classe média valoriza encher sacolas em lojas de comércio popular. É sinal de status poder comprar quantidade. Ela consome R$ 117 trilhões por ano. Isoladamente, seria a 18ª maior nação de consumidores do mundo.

RICOS

– Só 5% da população brasileira tem renda per capita superior a R$ 2.450. Há duas notícias aí. A ruim: ainda há muita desigualdade de renda na nossa sociedade. A boa: estas são, estatisticamente, as famílias ricas em nosso País.