O livro estava pronto, mas o autor seguia descontente. Fazia tempo que continuava arquivado em seu computador.
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– Isso normalmente não representa um bom sinal, pois minhas histórias nascem rapidamente – conta Paulo Coelho que, ao receber a cópia de um documento de um amigo, teve o estalo esperado. – Tive a inspiração, e o livro ficou pronto em 15 dias.
O resultado é Manuscrito Encontrado em Accra, sua 22ª obra, que chega às livrarias com uma fornada inicial de 100 mil exemplares. O tal documento foi enviado pelo filho do arqueólogo inglês Walter Wilkinson, que, em 1974, encontrou um pergaminho originário da cidade de Accra escrito por volta de 1307. Foi o ponto de partida para a fictícia história ambientada em Jerusalém, em 1099, quando muçulmanos, judeus e cristãos preparam-se para a invasão dos cruzados.
Próximo dos 65 anos (completa no dia 24 deste mês), Paulo Coelho vive um momento de harmonia, depois de ter se submetido a uma cirurgia no coração para desobstruir artérias. Se a saúde foi renovada, sua fama segue intacta – já vendeu mais de 140 milhões de exemplares (10 milhões só de O Diário de um Mago) e ainda detém o recorde do livro mais traduzido do mundo (O Alquimista tem versões em 69 idiomas).
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Na internet, o escritor ostenta mais de 9 milhões de amigos no Facebook e 5 milhões de seguidores no Twitter, mantendo contato direto com o leitor.
– Por isso que não participo mais de noites de autógrafos ou feiras literárias – disse ele à reportagem, por telefone, de Genebra, na Suíça, enquanto se exercitava na bicicleta ergométrica.
Pergunta – O que o motivou a escrever esse livro?
Paulo Coelho – Eu vinha notando um grande vazio nos comentários dos meus leitores, significando uma falta de valores. Como a maioria é jovem e eu, com quase 65 anos, não me sinto à vontade para ensinar a juventude a se comportar, acreditei no poder da ficção. Assim, aproveitei uma cópia do manuscrito que recebi do filho de Wilkinson no ano passado e tentei encaixá-lo em uma história. Mesmo tento lido apenas fragmentos desse manuscrito, senti-me inspirado a escrever algo que combatesse essa sensação de inutilidade que parece dominar parte da juventude.
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Pergunta – Esse livro substituiu outro, que já estava pronto?
Coelho – Sim, tinha outra história pronta que estava fazia tempo arquivada no computador. Quando isso acontece, não é bom sinal, pois meu processo criativo é muito rápido. Assim, decidida qual trama seria publicada, deletei parte da anterior e escrevi a nova em 15 dias. Parece um processo fácil, mas não é – eu rezava todos os dias antes de começar a escrever para garantir forças.
Pergunta – Como mantém contato direto com seu público pela internet, você já percebeu alguma reação alentadora em relação a essa sensação de inutilidade?
Coelho – Reação tão específica assim, ainda não. Mas percebo muito entusiasmo. Para você ter uma ideia, abri uma página no Facebook sobre o livro e, apenas no Brasil, já tive mais de 10 mil comentários. Certo dia, resolvi fazer um chat relâmpago e mais 10 mil pessoas participaram. O que mais me surpreendeu foi a reação da minha tradutora para o inglês: ela nunca fizera nenhum comentário e, desta vez, disse que o livro é maravilhoso. Mesmo que minha editora (Sextante) tenha cometido o erro estratégico de lançar o livro ao mesmo tempo em que saiu no Brasil o Cinquenta Tons de Cinza (megassucesso da inglesa Erika Leonard James, que já vendeu mais de 31 milhões de exemplares no mundo todo).
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Pergunta – Qual o segredo de tanto entusiasmo?
Coelho – Todos os livros traduzem a minha alma, mesmo aqueles que não foram tão bem nas vendas, como O Monte Cinco e O Vencedor Está Só. E, com o sucesso de Aleph, voltei ao topo da lista dos mais vendidos depois de quatro anos. Esse contato íntimo que mantenho pela internet atrai a confiança do leitor, que se envolve na promoção da obra. É por isso que a última noite de autógrafos de que participei aconteceu em 2006, em Vladivostok. Praticamente, não viajo desde 2009, com algumas exceções, como idas a Cannes e a que farei agora para Berlim, participar do Campus Party.
Pergunta – Nestes 25 anos de carreira, você enfrentou adversários de peso na luta pela ponta da lista dos mais vendidos, como Dan Brown, Stephenie Meyer. E, se nem sempre atingiu o topo, estava entre os 10 primeiros.
Coelho – Sim, desde O Mundo de Sofia (do norueguês Jostein Gaarder, publicado em 1991) até os recentes vampiros. O que me diferencia é a minha escrita simples sem ser superficial. Meu leitor sabe que não me envolvo com modismo, que jamais tentarei agradá-lo trilhando o mesmo caminho que trouxe sucesso para outros. Meus leitores podem gostar mais ou menos de uma obra, mas estão seguros de que não sigo fórmulas oportunistas.
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MANUSCRITO ENCONTRADO EM ACCRA
Paulo Coelho
Sextante, 176 páginas
R$ 19,90