*Por Robert H. Frank
Muitas pessoas inteligentes estão prevendo que experiências desagradáveis com as aulas on-line durante a pandemia vão diminuir ou reverter as tendências do ensino a distância. Não é de admirar: velhos luditas como eu, lutando para transmitir nossos pensamentos por intermédio de conexões instáveis de internet, não são uma propaganda convincente para a mudança.
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Depois que nossos alunos foram mandados para casa em março, muitos de nós fizemos um resumo das aulas do semestre usando o Zoom, o Canvas e outros recursos on-line. Poucos tinham experiência nisso, e a maioria não era muito boa. Portanto, não é surpresa que, como observaram os céticos, as coisas nem sempre tenham corrido bem.
No entanto, o ceticismo em relação ao futuro do ensino a distância pode ser prematuro. Principalmente porque aqueles que sofrem no ambiente atual não são os únicos propensos a oferecer cursos on-line no futuro.
Considere este experimento. Qual você escolheria: um curso on-line ministrado por um dos instrutores mais experientes e carismáticos do mundo, apoiado por animadores da Pixar, cineastas documentais premiados e uma equipe presencial de assistentes de ensino de pós-graduação? Ou o mesmo curso ministrado pessoalmente por um instrutor médio lendo velhas anotações?
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É claro que diferentes alunos escolheriam diferente. Mas há razões amplas para acreditar que a experiência com a primeira opção acabaria levando uma proporção substancial de alunos a preferi-la, ainda que tivessem de pagar o mesmo valor por qualquer uma das abordagens. Mas, por causa das economias de escala, a opção remota desfrutaria de uma vantagem de custo.
Como Philip Cook e eu escrevemos em nosso livro de 1995, “The Winner-Take-All Society”, essas são precisamente as condições que dão origem a mercados em que o vencedor leva tudo. Como a tecnologia expandiu o alcance dos mais capazes, eles foram capturando ações cada vez maiores de mercados mundiais em uma série de domínios.
O setor de assessoria fiscal, por exemplo, já foi atendido quase exclusivamente por contadores locais. Em seguida, veio o H&R Block, que descobriu que a maioria das declarações poderia ser feita por graduados do ensino médio com apenas alguma assistência ocasional de contadores profissionais. Mais recentemente, dezenas de programas de software fiscal afetaram esse mercado. Mas, uma vez que os usuários elegeram o TurboTax, da Intuit, como o software mais abrangente e fácil de usar, este conquistou mais de dois terços do mercado de declaração de impostos on-line.
Outra característica de um mercado em que o vencedor leva tudo é o chamado Efeito Mateus. O sociólogo Robert Merton cunhou o termo, referindo-se a um versículo do Evangelho segundo Mateus: “Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância; mas, daquele que não tem, até o que tem será tirado”. À medida que um produto líder expande sua participação de mercado, receitas adicionais permitem refinar ainda mais a oferta que lhe garantiu a liderança.
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O Efeito Mateus e os processos relacionados de feedback positivo impulsionaram algumas das maiores histórias de sucesso da era da internet. O Google domina a pesquisa porque, quanto mais consultas a empresa processa, mais eficazes seus algoritmos se tornam. E, apesar das críticas e da concorrência, o Facebook domina as mídias sociais porque, quanto mais membros uma rede tem, mais útil ela se torna como um lugar para as pessoas interagirem.
Efeitos de feedback semelhantes estão prontos para remodelar o mercado de instrução acadêmica. A mudança para ofertas de cursos a distância vinha se processando lentamente, alimentada em parte por deficiências orçamentárias crônicas em muitas faculdades e universidades. Mas, como a pandemia ampliou muito essas pressões de custo, ela vai acelerar a transição. E, embora a qualidade média da aula remota tenha sido baixa, a grande escala dos esforços recentes acelerou a descoberta de maneiras para melhorá-la.
Como o software de declaração de renda, um grande número de cursos a distância vai competir pela aprovação dos alunos e dos revisores no início. E, da mesma forma, alguns concorrentes serão tidos como os melhores.
A economia de escala é a força motriz aqui. A maioria dos custos de cursos a distância é fixa, o que significa que os gastos por aluno caem acentuadamente com o volume. O custo de produzir um vídeo instrutivo de primeira linha, por exemplo, é o mesmo, não importando quantos alunos o vejam. A única despesa adicional para a expansão desses cursos seria a contratação de professores assistentes locais.
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Como as principais ofertas remotas são mais amplamente adotadas, as receitas adicionais vão gerar melhorias na qualidade. Com o tempo, os cursos remotos mais bem-sucedidos desfrutarão de uma vantagem de custo crescente, uma vez que suas despesas por aluno diminuem à medida que mais pessoas os acessam.
O aprendizado remoto não substituirá totalmente a experiência do campus. Por um lado, o ensino acadêmico não é a única missão das instituições de ensino superior. Os alunos vão para a faculdade em parte para ampliar suas redes sociais e adquirir habilidades que possam ajudá-los no mercado de trabalho. Muitas escolas vão sobreviver dando continuidade ao atendimento dessas demandas.
Além disso, as aulas no campus permanecerão para muitos cursos especializados que são muito pequenos para poder bancar um superstar remoto. Em suma, as forças econômicas que promovem a educação a distância não vão significar o fim da vida estudantil no campus tão cedo.
Mas grandes mudanças estão sendo programadas, e implicarão benefícios e custos significativos. Como nos casos mencionados do vencedor que leva tudo, as tecnologias que permitem que os produtores mais capazes atendam a mercados mais amplos aumentarão a quantidade total de prosperidade econômica disponível para ser compartilhada por todos. Sem controle, no entanto, elas também vão gerar grandes aumentos na desigualdade.
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Portanto, se a maior dependência da instrução remota for sua melhoria, isso dependerá fortemente das políticas públicas. Em percalços passados, essencialmente ignoramos os danos associados ao aumento da desigualdade. Nossa experiência durante a pandemia destaca razões poderosas para reconsiderarmos essa estratégia.
A solidariedade social torna a vida melhor para ricos e pobres. E, quando a torta econômica cresce, é necessariamente possível distribuí-la para que todos obtenham uma fatia maior do que antes.
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