Um temporal de verão caía em Joinville naquele fim de tarde de 19 de janeiro. Ricardo Roberto Coelho, 35 anos, estava em casa, no bairro Vila Nova, e aproveitava para retirar o excesso de água acumulada na varanda. Pouco a pouco, barulhos de sirene começaram a ecoar nas ruas próximas. O celular tocou. Do outro lado da linha, o primo de Ricardo informava que o irmão dele, Murilo José Coelho, havia sofrido um acidente e não estava bem.

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O homem foi até o lugar onde aconteceu a colisão, entre o carro conduzido por Murilo e uma moto guiada por Jean Everson Raymundo, 23 anos. O local fica bem perto da casa de Ricardo. Quando ele chegou à esquina das ruas Leopoldo Beninca e Joaquim Girardi, já encontrou o irmão caído na calçada e muitas pessoas ao redor.

— Quando eu cheguei, comecei a ficar nervoso. Fiquei perdido, não sabia se o abraçava no chão ou se chorava. Eu fiquei ‘no mundo da lua’, porque nós éramos muito próximos — diz.

Os procedimentos de reanimação foram feitos, mas a vítima não resistiu aos graves ferimentos. Apesar do acidente, os machucados pelo corpo de Murilo não foram causados pela colisão, foram resultado de agressões sofridas durante um desentendimento após a batida. A denúncia, oferecida pelo Ministério Publico (MP) em fevereiro deste ano, demonstrou que a vítima sofreu chutes, socos e "capacetadas".

O motociclista teria ficado extremamente violento, retirando o motorista do carro e desferindo socos contra ele. O motociclista foi denunciado pelo MP por homicídio doloso (quando há intenção de matar). Para a família, não há explicações para o brutal assassinato. Ricardo conta que Murilo estava no chão e, ainda assim, continuou sendo golpeado.

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Júri acontece nesta terça

O julgamento de Jean, acusado de matar Murilo após a briga, acontece nesta terça-feira, às 13 horas, e será presidido pelo juiz Gustavo Henrique Aracheski, da Vara do Tribunal do Júri. A denúncia do MP aponta que a vítima foi morta por motivo fútil e com emprego de meio cruel. À época, a investigação da Polícia Civil demonstrou que Jean estava com a namorada – sentada na garupa da moto –, e que ela teria machucado o pé durante a colisão.

Inicialmente, o inquérito policial da Polícia Civil foi instaurado por lesão corporal com resultado morte – crime intermediário entre o homicídio doloso (quando há intenção de matar) e culposo (quando não há intenção de matar).

Entretanto, no curso das apurações, a polícia verificou com as provas que se tratava de um homicídio doloso. O laudo pericial, concluído ainda em janeiro, demonstrou que Murilo tinha diversas lesões em várias partes do corpo, como cabeça, boca, pescoço, cotovelo e joelho.

— Os vizinhos contam que foi tudo muito rápido. Eu escutava as pessoas falando que ele bateu muito no meu irmão, que só pedia para parar — menciona Ricardo.

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Crime aconteceu em 19 de janeiro
Crime aconteceu em 19 de janeiro (Foto: Arquivo pessoal)

Defesa fala em provas técnicas

De acordo com a advogada Nair Aline Tomaz, responsável pela defesa de Jean, a tese que será apresentada pelo em plenário é baseada nas provas técnicas coletadas pela polícia. O réu permanece preso desde a morte de Murilo.

— Vamos insistir na absolvição, porque acreditamos que as provas técnicas demonstram uma realidade diferente do que foi apresentada pela acusação — explica a advogada.

Velório "de artista"

Murilo era caminhoneiro e gostava de trabalhar, principalmente, na região Nordeste do país. Cerca de dez meses antes de falecer, ele deixou as estradas e começou em um emprego em Joinville, como motorista em uma empresa de tintas. A vítima tinha paixão pela praia e era conhecida como uma pessoa muito afetuosa e carinhosa.

— O velório dele parecia de artista. Tinha muita gente, as pessoas fizeram homenagens. Neste dia (do velório), estava um dia fechado, com chuva, e do nada abriu um sol. Acho que era ele agradecendo — conta.

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Conforme Ricardo, a relação muito próxima com o irmão fez com que o processo de luto fosse muito difícil de ser superado. Agora, antigas lembranças da infância insistem em retornar. Ele relembra quando os dois brincavam pelas ruas do bairro Vila Nova ou jogavam futebol no terreno em frente à casa da família. Ele de goleiro e Ricardo como atacante. Durante o júri desta terça, a família espera por Justiça e que o motociclista seja condenado.