Quando decidiram deixar emprego, casa e família no Brasil para cair no mundo, Natalie Deduck, 31 anos, e Robson Cadore, 34, entraram numa fase de muita euforia e ansiedade. Hoje, 10 meses depois de embarcar nesta viagem sem data para acabar, o casal de Itajaí conta já ter criado uma rotina na estrada e encarar com naturalidade o que chamam de projeto de vida.
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Os dois venderam praticamente tudo que tinham e partiram rumo à Espanha em abril do ano passado. Desde então, já percorreram 11 países em três continentes (leia mais aqui). O contato com os viajantes para a reportagem começou quando visitavam Istambul, na Turquia. Dois meses depois, durante esta entrevista, a dupla já estava na Tailândia, de onde partiu para Filipinas e Camboja.
No bate-papo por e-mail o casal revelou os destinos preferidos até aqui, detalhes do planejamento e o que essa viagem já provocou de mudanças nos dois. Confira:
Como é um dia na vida de quem acorda para viajar?
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Natalie Deduck – No começo era muita euforia e ansiedade. Agora já é meio que normal, criamos nossa rotina na estrada. Como o blog é nosso trabalho diário, nem todos os dias saímos para turistar. Tem dia que ficamos em casa ou em algum local com internet trabalhando por horas. Em outros arrumamos a mochila e saímos cedo para explorar um lugar novo. Tentamos viver no tempo e no ritmo da cidade em que estamos, aprendendo os hábitos locais. Todo dia é uma surpresa e um novo aprendizado. Essa descoberta constante é o que mais me atrai e me motiva a querer acordar cada dia em um lugar diferente, em um novo destino, em um novo habitat.
Qual foi o melhor destino até aqui?
Robson Cadore e Natalie – Difícil responder, cada lugar tem algo de especial, mas dá para fazer uma lista dos nossos favoritos: o Parque Cabo de Gatas, na Espanha; a ilha Koh Tao, na Tailândia. Acabamos de vir de lá; e Istambul, na Turquia.
O que diferencia as viagens que fizeram antes e depois desta?
Natalie – Antes nosso objetivo era a quantidade. O que importava era o número de cidades e lugares que visitávamos. As vezes ficávamos apenas 1 ou 2 dias em cada lugar, mas o importante era a estampa no passaporte. Agora viajamos com qualidade. Isso significa viajar devagar, ficar em uma cidade por vários dias, e em um único país por mais de um mês. Só assim conseguimos aprender de verdade a cultura e os costumes. Hoje olho para nosso estilo de viagem e percebo que deixamos de ser turistas e nos tornamos viajantes. Não queremos apenas ver os lugares, queremos experimentar os lugares.
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O quão difícil foi abrir mão de artigos pessoais ao colocar praticamente tudo à venda?
Robson – Foi mais fácil do que imaginávamos. No começo deu um aperto no coração, mas depois você percebe que suas coisas podem ser mais úteis para outras pessoas. É uma troca de bens materiais pela realização de um sonho. Eu sempre dizia para a Natalie: estamos abrindo mão de algo importante para alcançar algo maior ainda!
Como vocês planejam as viagens? Organizam com antecedência?
Robson – Escolhemos os destinos com antecedência para poder reservar os voos com preços mais baratos. Por exemplo, já temos nosso itinerário até abril, com todos os voos comprados. Mas acomodação, passeios, a até viagens dentro do país deixamos para escolher em cima da hora. Fazemos uma boa pesquisa nos blogs que seguimos, conversamos com amigos e só depois organizamos os detalhes finais. Na Ásia é muito fácil conseguir organizar tudo na véspera, e até mais barato. Na Europa é preciso planejar com antecedência, principalmente se for alta temporada.
E para onde vão nos próximos meses, então?
Robson – Vamos ficar até o fim do mês nas Filipinas, depois voltamos para Tailândia e Camboja. Em março, devemos ficar entre Vietnã e Laos. No mês seguinte voltamos a Turquia, Itália e França. Depois só Deus sabe (rs).
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Costumam comparar os destinos por onde passam com o Brasil? O que chama atenção?
Natalie – Sempre, é inevitável. Às vezes a conclusão é boa, outras nem tanto. O que mais chama nossa a atenção é a segurança. Aqui na Ásia é incrível como nos sentimos seguros, as pessoas são atenciosas e gentis. Estamos há dois meses e nunca, nunca mesmo, ficamos com medo. Por outro lado, percebemos como o Brasil está à frente em questões relacionadas à proteção do meio ambiente e trânsito.
Do que mais sentem falta?
Robson – Das pessoas e dos momentos. Pode parecer estranho, mas não sentimos falta de coisas materiais como casa, carro, roupas… O que faz o coração apertar são as lembranças dos momentos com a família, com os amigos e os bichinhos de estimação. Aquele café da tarde com meus pais ou o sábado na praia com os amigos. Momentos e sensações que não conseguimos reproduzir quando estamos viajando.
Qual a melhor e a pior experiência até aqui?
Natalie – O momento mais difícil foi o choque cultural sentido no Marrocos. As crianças dormindo nas ruas, as pessoas doentes e o jeito com que as mulheres são tratadas me incomodaram. Por mais que soubesse de tudo isso, demorou uns dias até conseguir relaxar e aproveitar o país. A melhor experiência foi ficar um mês na pequena Reggio Emilia, no Norte da Itália, cuidando de dois cachorros enquanto os donos viajavam de férias. Descobrimos festas tradicionais, comida típica, andamos de bicicleta pelos campos e fazendas. Ser acolhido pela comunidade local é uma experiência que você não compra em qualquer pacote de viagem.
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O que essa viagem mudou em vocês?
Natalie – Aprendemos a ser minimalistas, viver de maneira simples. Isso não significa virar hippie (Rs). Significa dar menos valor aos bens materiais e valorizar o conhecimento, trocar o ter pelo ser. Aprender a respeitar as diferenças. Somos todos iguais e todos merecem ser tratados com amor e dignidade. Nessa questão a Tailândia foi um grande ensinamento. Mais do que nunca aprendemos a ser gentis, fazer o bem, respeitar o próximo e a natureza.