Os craques das Copas do Mundo: por que são decisivos? De que talento e suor são feitos? Como se consagram e como fracassam? Abaixo, as lições do Professor sobre os craques dos mundiais.
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A origem do craque se confunde com a origem do futebol. Já foram quase uma cidade inteira correndo atrás de uma maltratada bola. Foram reduzidos em número porque predominava a selvageria dos pontapés e dos encontrões. Acabaram em 11 de cada lado por simetria e simplificação. Essa redução acabou elegendo o indivíduo como a referência essencial de um time. Somente ele poderia ser o centro, que dava forma ao conjunto de jogadores. O craque estava surgindo.
Não são muitos, alguém aparenta ser craque por um lance, por um jogo, uma temporada até, mas não avança mais do que isso e geralmente reflui para a mediania, que é a quase totalidade. E os craques são geniosos e centrados em si mesmos, como uma resposta a sua intensa individualidade que, na medida em que os integra no grupo, quase como um herói de todos os lances, os distingue e também os isola.
Diego Armando Maradona é um desses controversos. Surgiu como um astro na Copa de 82, mas 12 anos depois foi flagrado no antidoping. Constrangedora e inesquecível a imagem na TV de seu rosto deformado por um falso entusiasmo.
Maradona não foi o único craque demolido pelos fatos. Zinédine Zidane, um extraordinário articulador do mundo no campo, não suportou um xingamento do italiano Materazzi, que teria injuriado sua irmã, e aplicou-lhe uma cabeçada flagrante. Foi expulso, a França perdeu. É a mancha feia de Zidane.
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E existem supercraques que, por um desses prodígios da Copa do Mundo, um torneio de velocidade e inevitáveis surpresas, nunca foram campeões mundiais. Zico e Falcão, assim como Michel Platini, o inesquecível húngaro Ferenc Puskás, e também o nosso Diamante Negro, o inventor da bicicleta com gol, o insuperável Leônidas da Silva. Outro supercraque que não levou a taça, o líder espiritual e esportivo da Holanda, Johan Cruyff, justificou o sucesso de seu futebol total com uma afirmação preciosa: “Nós temos seis jogadores de QI alto”. E tinham mesmo.
No Brasil, apesar das incompetências específicas e presunções como, por exemplo, o misto de petulância e de concepção militar que nos inviabilizou na Copa de 66, temos craques consagrados em Copa do Mundo. Pelé mais que qualquer outro.
Sua sagração como rei do futebol começou a partir dos veteranos Nilton Santos e Djalma Santos, que nada tinham de parentesco, mas eram lideranças a quem Vicente Feola, o técnico da seleção de 58, ouvia e levava em conta. Os Santos declararam, numa reunião fechada com Feola, que, se ele escalasse esse menino Pelé e também o outro desengonçado com as pernas tortas para dentro, o tal Garrincha, que o Brasil seria campeão do mundo.
– Campeão do Mundo! – repetiram para um Feola sorridente.
Era uma convicção de dois craques – essa é a condição que autorizava um pensamento sobre como ganhar uma Copa do Mundo. E assim foi.
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Feliz o futebol que pode ficar falando o dia todo de craques. E sempre esquecer mais da metade.