
DC_Na sua opinião, que política falta ao Estado para preservar e, mais do que isso, incentivar a produção no campo? De que forma isto acontece em outras regiões do mundo?
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Olinger_O mercado comum europeu sobrevive à pequena agricultura familiar porque eles querem que permaneçam no campo estas famílias para manter a agricultura, chamada de “paisagem rural”. Para isso, eles subsidiam os custos de produção em até 60% dos agricultores, ou dão outras vantagens que as mantêm no campo, como a redução de impostos. No Brasil, se não mudarmos a política governamental para o auxílio às famílias no campo, o êxodo continua, mesmo movimento que ocorre na maioria dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. A Inglaterra tem 6% de famílias rurais no campo, os Estados Unidos têm 5%, a França tem entre 5% e 6%. Aqui no país ainda temos 18%. Comparando com outros países, temos gente demais no campo, inclusive em SC.
DC_Depois de 1950, difundiu-se a ideia de produtividade e produção de alimentos em grande quantidade, ação praticada pelas grandes indústrias. Como a agricultura familiar de SC se insere neste contexto, levando em conta que seu livro afirma ser um setor que rende menos do que a indústria e o comércio?
Olinger_Isto acontece no mundo inteiro e quem constatou isso foi o Papa João XXIII. Ele chama a agricultura de setor deprimido. E aqui no Brasil, se fizermos as contas a respeito da renda per capita, a agricultura é a que tem a menor dos três setores. Quem melhor ganha é o setor terciário. A indústria fica em segundo lugar e, o setor primário, em especial a agricultura, é o que menos renda tem. Por que isto acontece? Acredito que é porque, geralmente, as decisões do mundo agrícola são tomadas pelo mundo industrial e comercial. Se o agricultor quem decidisse as questões, talvez sua renda fosse bem maior. Por isso mesmo é importante o produtor se organizar em torno de cooperativas, que tem a força e reivindicação por melhores preços, porque o problema está expressivamente neles. O comércio define os preços finais, já que os estipula para a indústria, que por sua vez os faz para os produtores. A agricultura não tem a força política que deveria ter.
DC_Ainda assim, o agricultor catarinense quadruplicou sua produção depois de 1960. Ou seja, há uma introdução de tecnologia no campo. O que mudou na sua produção?
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Olinger_Exatamente, porque o agricultor está se especializando. Hoje não há mais lugar para a pequena agricultura diversificada, a não ser que o governo a subsidie. Atualmente, o jovem que vai substituir os pais na agricultura tem de partir para a especialização. Por exemplo, ser produtor de hortaliças ou suínos, ou alguma atividade leiteira – mas no máximo três atividades e, de preferência, combinar a agropecuária e agricultura. Não dá mais para plantar de tudo. A renda para este tipo de atividade não paga a demanda pelos bens de consumo modernos, em especial a dos jovem de hoje, que querem carro, celular, novos eletrodomésticos. Além disso, atualmente ninguém anda descalço no meio rural, nem de calça e camisa remendada. A demanda é muito grande pelos bens de consumo que antigamente não eram adquiridos, porque não existiam.
DC_O capítulo final do seu livro trata sobre um projeto chamado Agroecoplano, que seria alcançado em um prazo de até 30 anos. O que ele propõe?
Olinger_Uma divisão do território catarinense pela sua vocação. A geografia em SC foi madrasta por causa de sua acidentada topografia, que significa ser muito sujeita a erosão, ou seja, lavagem da superfície do solo pela água da chuva. Então, a vocação do território catarinense é para a floresta de preservação permanente, que vai assegurar a água, e a floresta plantada, que vai assegurar biomassa. Neste ecoplano, estimo que 38% deve ser mantido por floresta permanente – que tem função na regulação do clima e deve ser enriquecida com plantas medicinais, comestíveis, frutíferas e aproveitada para o turismo. Além disso, 17% deve ser utilizado para a plantação de florestas, com árvores para ser cortada e 33% para a agricultura. Este último valor é praticamente a área que está sendo explorada hoje, só que dois milhões de hectares desses 33% estão sendo utilizados de forma incorreta, já que expõem o solo à erosão.