Estação que acaba de chegar com calorão, chuva e sol. Há dias que reproduzem em poucas horas as quatro estações do ano: de manhã, frio. De tarde, calorão. À tardinha, chuva de granizo. À noite, volta o outono-inverno.
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Até a oposição admite que a culpa não é da Dilma, mas do facínora do tempo chamado El Niño. Há estereótipos eternos associando a estação romântica a céu aberto, tempo firme, sol e ao desabrochar das flores.
Sabe-se que, na verdade, não é bem assim. A primavera que esperamos, de pássaros pipilando e flores se abrindo pertence mais à literatura e à música do que ao calendário gregoriano.
Primeiro dia de primavera é de sol e temperaturas acima dos 30ºC
Antonio Vivaldi concebeu As Quatro Estações no outono de sua existência, aos 47 anos de uma vida que chegou aos 63. Quando compôs a magnífica série dos famosos quatro concertos – a Primavera, o Verão, o Outono e o Inverno, nesta ordem – em 1725, por algum milagre do tempo e da geografia, Vivaldi parece ter sido transportado para a Ilha de Santa Catarina: num único dia, as quatro estações se desatam em sinfonias e trovões.
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Ao contrário da política e da discórdia que desfila pelas ruas, há manhãs em que o céu aparece sem a mácula de qualquer nuvem. Mas ninguém garante uma ficha limpa, quer dizer, um céu limpo para o dia seguinte.
O clima está igual a política: parece que predominam as fichas sujas. Aqui, as quatro estações se misturam e se alternam, ao sabor de divinos instrumentos de corda, magistralmente manipulados pelo poeta Cruz e Sousa. O sublime simbolista é o patrono de um vento prodigioso, que altera a feição das tardes e das manhãs, ora impõe a calmaria dos adágios, ora a vivacidade dos allegri.
“É… a gemente sentinela/ Que a tudo desgrenha e gela/ Com o torvo rumor de suas asas…”
Antonio Vivaldi era um compositor capaz de criar com muita rapidez, como se o seu talento jorrasse de uma cachoeira. A natureza era a sua orquestra e os ventos os seus primeiros violinos.
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É só fazer um pouco de silêncio e… ouvi-lo tocar lá fora, quando o “velho vento vagabundo” balançar as varandas envidraçadas…