No primeiro dia de treinamento do programa Mais Médicos, em Fortaleza, 79 médicos cubanos ouviram gritos de “escravos, escravos, escravos” proferidos por colegas brasileiros. O protesto ocorreu nesta segunda-feira, em frente à Escola de Saúde Pública do Ceará, de onde os estrangeiros saíram debaixo de vaias.

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Presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, entidade que organizou a manifestação, José Maria Pontes afirma que o protesto era contra as autoridades locais que acompanhavam os cubanos. E garante que em nenhum momento houve intenção de ofender os médicos de Cuba.

Leia a entrevista que Pontes concedeu a Zero Hora nesta terça-feira, por telefone:

Zero Hora – Se o sindicato é contra o programa Mais Médicos, não faria mais sentido protestar contra o governo, e não contra os profissionais de Cuba?

José Maria Pontes – Em nenhum momento a manifestação foi contra os médicos cubanos. Era um ato contra os gestores responsáveis por esta palhaçada. Todos esses gestores, como o senhor Odorico Monteiro (assessor cearense do ministro Alexandre Padilha), saíram do evento junto com os médicos estrangeiros. Enquanto eles permaneciam lá dentro, o secretário de Saúde do Ceará (Arruda Bastos) me ligou dizendo que as pessoas estavam com medo de sair, com medo de que ocorresse alguma coisa. Respondi que não haveria qualquer ato de violência.

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ZH – Mas os manifestantes gritaram “escravos, escravos, escravos” para os cubanos, muitos deles negros.

Pontes – Temos que esclarecer qual foi a intenção. Primeiro, existem também escravos brancos, não apenas pretos. O objetivo daquele grito era dizer que não aceitamos trabalho escravo, não aceitamos a exploração de profissionais. Não foi no sentido pejorativo, foi até uma forma de defendê-los. Quando começaram a gritar “escravos”, confesso que fiquei preocupado, com medo de que alguém interpretasse mal. Aí comecei a puxar “Fora, Padilha! Fora, Padilha!”

ZH – É que as imagens mostram médicas e médicos gritando no ouvido dos cubanos. Não parece uma hostilidade contra eles?

Pontes – Uma foto você pode interpretar como quiser, mas não foi esse o objetivo. Uma parte da imprensa pegou as fotos, juntou com algumas palavras de ordem e publicou do jeito que quis. Milhares de médicos estrangeiros, inclusive cubanos, já atuam hoje no Brasil e convivem conosco em perfeita harmonia. Mas eles se submetem ao Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos). E o Revalida não é exigido no programa Mais Médicos, colocando em risco a vida da população. É isso que não admitimos.

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