A morte do modelo Tales Cotta – nome artístico de Thales Soares –, 26 anos, que sofreu mal súbito durante desfile da São Paulo Fashion Week (SPFW), na tarde deste sábado (27), provocou protestos. Entre eles, ganharam destaque o desabafo do rapper Rico Dalasam, ao vivo, na passarela, e um texto do escritor Ricardo Domeneck, publicado no Facebook.

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Tales trabalhava para a agência Base MGT. Ele tropeçou no cadarço do sapato e caiu enquanto desfilava pela grife Ocksa. Inicialmente, devido à forma como despencou e pela espuma em sua boca, a suspeita era de que ele havia sofrido um ataque epilético. Nos primeiros segundos após o incidente, os convidados imaginaram se tratar de uma performance. Mas logo a música cessou e a brigada de emergência invadiu a passarela. Tales foi socorrido, mas não resistiu.

A morte abriu crise sem precedentes na SPFW. Notas foram divulgadas após o fato, reiterando solidariedade, luto e apoio à família. O evento, contudo, prosseguiu após a tragédia.

No desfile da marca Cavalera, o rapper Rico Dalasam subiu à passarela dizendo que foi convidado pela grife para falar, mas que o local deveria estar vazio.

— Não era para ninguém estar aqui. O cara acabou de morrer e vocês estão aqui como se a vida não valesse nada, nada, nada. Não era para ninguém estar aqui — desabafou o artista, que foi aplaudido e saudado com gritos de apoio.

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Como o rapper, Domeneck – reconhecido poeta brasileiro radicado em Berlim, na Alemanha – também fez um desabafo, mas por escrito. Em sua conta no Facebook, o escritor declarou estar "zonzo entre as tragédias reais, coletivas e individuais".

Em seguida, fez referência à morte de Tales, que "despencou em si, de si, caiu em plena passarela da São Paulo Fashion Week", para então concluir: "Não era Ayrton Senna esbugalhando-se em TV aberta contra um muro, era um rapaz que alugava de forma legítima seu corpo para as roupas da nova moda, dizia-se 'manequim' antigamente, um manequim, nós manequins sobre os quais colocamos roupas, maquiagens, manequim: o rapaz despencou em si, caiu de si, morreu. Está morto. Seu nome era Tales Soares. A Morte não faz despencar bolsas. Nem a Bovespa dos quatrocentões nem a Prada das quatrocentonas".

Nas palavras de Domeneck, "o desfile seguiu. Não. Não apenas seguiu. Foi reiniciado para que a plateia pudesse ter a experiência do desfile tal qual fora planejado, sem aquela interferência inoportuna da morte. Estamos todos muito, muito doentes".

A organização da SPFW emitiu uma nota justificando as decisões tomadas na noite de sábado, após a morte do modelo. Segundo a nota divulgada no Facebook da SPFW, Tales foi levado ao hospital com vida. Não havia "indicação de que viria a falecer".

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Prossegue o texto: "Com a informação de que ele estava sendo atendido, ficamos juntos com a agência Base acompanhando e dando toda a assistência necessária. Fomos informados oficialmente pelo hospital do falecimento às 18h50min – 1h30 depois que Tales precisou ser atendido. O atestado de óbito registra horário da morte às 18h40min. Neste horário, ainda faltavam três marcas a desfilar: Piet, Ponto Firme e Cavalera".

Ainda de acordo com a nota, houve uma reunião da organização da SPFW com as "marcas, diretores de desfiles, stylists e modelos próximos de Tales, que tinham desfiles na programação, e foi dada a opção de cancelar os mesmos".

"Mesmo abalados, decidiram manter os desfiles. Todos os envolvidos foram acompanhados de perto. Foi decidido também pelo minuto de silêncio na abertura de cada desfile, o retirar do som da vinheta de abertura nas salas de desfiles, a pausa na cobertura oficial do evento, o encerramento da música no evento e foi pedido que as marcas considerassem o ocorrido em suas celebrações no backstage", afirmou a organização por meio do texto.